Os paradoxos do neoliberalismo no teatro de grupo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21665/2318-3888.v13n25p145

Palavras-chave:

Antropologia do neoliberalismo. Antropologia do Estado. Teatro. Gestão cultural.

Resumo

Neste texto desenvolvo brevemente algumas reflexões derivadas da minha tese de doutorado em andamento, que aborda a gestão dos núcleos artísticos de teatro de grupo na cidade de São Paulo, com foco nas formas de agenciamento das políticas culturais. No contexto das políticas culturais, observa-se o predomínio da racionalidade da gestão cultural, fortemente marcada por uma lógica neoliberal. Em contrapartida, os núcleos artísticos constroem práticas políticas e estéticas contra-hegemônicas em relação a essa racionalidade. Com base em dados etnográficos, analiso a relação da companhia A Próxima Companhia com a Lei de Fomento ao Teatro, especialmente no que diz respeito às formas de organização do trabalho e à produção artística em diálogo com o território.

Submissão: 27 fev. 2025 ⊶ Aceite: 19 mai. 2025

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

João Rodrigo Vedovato Martins, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, vinculado ao grupo de pesquisa Núcleo de Antropologia do Contemporâneo. Gestor Cultural e docente na Associação dos Artistas Amigos da Praça. Educador popular. Realiza pesquisas nas áreas de neoliberalismo, trabalho, políticas culturais e formas de resistências.

Referências

ABÍLIO, L. C. Dos traços da desigualdade ao desenho da gestão: trajetórias de vida e programas sociais na periferia de São Paulo. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. Gestão ou gestação pública da cultura: algumas reflexões sobre o papel do Estado na produção cultural contemporânea. In: RUBIM, Albino; BARBALHO, Alexandre (Org.). Políticas culturais públicas no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007. p. 61-86.

ANTUNES, Ricardo. Trabalho Intermitente e uberização do trabalho no limiar da Indústria 4.0. In: ANTUNES, R. (Org.). Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020.

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.

BARBALHO, Alexandre. Políticas Culturais no Brasil: identidade e diversidade sem diferença. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas; BARBALHO, Alexandre (Org.). Políticas Culturais no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007. p 37- 60.

BISPO, Antônio dos Santos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/ PISEAGRAMA, 2023.

BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura e políticas públicas. São Paulo em perspectiva, v.2, n. 15, p. 73-83, 2001.

BOURDIEU, P. Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, Renato. (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983, p.46-81.

BOURDIEU, Pierre. A mãe direita e a mão esquerda do Estado; O neoliberalismo: Utopia (em vias de realização) de uma exploração sem limite. In: Contrafogos: Táticas para enfrentar a Invasão neoliberal. Rio de Janeiro: George Zahar, 1998. p. 7-19; 138- 152.

BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente. São Paulo: Politeia, 2019.

BROWN, Wendy. Undoin the Demos: Neoliberalism’s Stealth Revolution. New York: Zone Books, 2015.

CAHILL, Damien. Ideas-centred explanations of the rise of neoliberalism: A critique. Australian Journal of Political Science, v. 48, n. 1, p. 71-84, 2013.

CALABRE, Lia. Políticas culturais no Brasil: balanço & perspectivas. In: RUBIM, Albino; BARBALHO, Alexandre (Org.). Políticas culturais públicas no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007. p. 87-107.

CANCLINI, Nestor Garcia. Definiciones en transición. In: MATO, D. (Org.). Estudios Latinoamericanos sobre cultura y transformaciones sociales en tiempos de globalización. Buenos Aires: CLACSO, 2001.

CARREIRA, André Luiz Antunes Netto. Teatro de grupo: um território Multifacético. In: ARAÚJO, A; AZEVEDO, J; TENDLAU, M (Org.). Próximo Ato: Teatro de grupo. São Paulo-SP: Itaú Cultural, 2011. p. 42-47.

CARREIRA, André; OLIVEIRA, Valéria Maria De. Teatro de grupo-modelo de organização e geração de poéticas. Revista O Teatro Transcende, Departamento de Artes – CCEAL da FURB, Blumenau, v. 12, n. 11, p. 95-98, 2004.

CHAUÍ, Marilena. Cidadania cultural – O direito à cultura. 1. ed. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2006.

CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia: discurso competente e outras falas. São Paulo, Cortez, 2008.

CHAUÍ, Marilena; CÂNDIDO, A.; ABRAMO, L.; MOSTACO, E. Política cultural. Porto Alegre-RS: Mercado aberto, 1984.

CLASTRES, P. A. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado. Trad. Theo Santiago. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

CLASTRES, P. Les Marxistes et leur anthropologie. Libre 3. Paris: (RAP), 1978.

COSTA, Iná Camargo; CARVALHO, Doberto. A luta dos grupos teatrais de São Paulo por políticas públicas para a cultura: os cinco primeiros anos da lei de fomento ao teatro. São Paulo: Cooperativa Paulista de Teatro, 2008.

DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Editora Boitempo, 2016.

.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI. São Paulo, Boitempo, 2017.

DUMÉNIL, G.; LÉVY, D. Capital Resurgent: Roots of the Neoliberal Revolution. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2004.

EZLN. EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL. Sexta Declaração da Selva Lacandona. 2005. Disponível em: https://enlacezapatista.ezln.org.mx/sdsl-pt.

FERGUSON, James. The Anti-Politics Machine. In: SHARMA, Aradhana; GUPTA, Akhil (Ed.). The Anthropology of the State: a reader. Blackwell Publishing Ltd, 2006.

FISCHER, Stela. Processo Colaborativo e experiências de companhias teatrais brasileira. São Paulo: Hucitec, 2010.

FONTES, Virgínia. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história. 2. ed. Rio de Janeiro: EPSJV/Editora UFRJ, 2010. 388 p.

FOUCAULT, Michel. A Governamentalidade. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos – Estratégias poder-saber. v. 4. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008b.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população. Curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008a.

FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

HAYEK, Friedrich. The constitution of liberty: the definitive edition. Chicago: The University Of Chicago Press, 2011[1960]. 596 p.

GAGO, Verónica. A razão neoliberal: economias barrocas e pragmática popular. São Paulo: Editora Elefante, 2018.

GIL, G. Apresentação. In: UNESCO Brasil. Políticas culturais para o desenvolvimento: uma base de dados para a cultura. UNESCO Brasil, 2003.

GUPTA, Akhil. Red Tape: Bureaucracy, Structural Violence and Poverty In India. Durham and London: Duke University Press, 2012.

LENIN, V. I. Imperialism: the highest stage of capitalism. London: Penguin, [1916] 2010.

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, [1859] 2008.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis: Vozes, 1990.

MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.

MATE, Alexandre; LONDERO, Elen; CABRAL, Ivam; AQUILES, Marcio (Org.). Teatro de grupo em tempos de ressignificação: criações coletivas, sentidos e manifestações cênicas no estado de São Paulo. São Paulo: Associação dos Artistas Amigos da Praça, Selo Lúcias, 2023.

MATE, Alexandre. Apontamentos fundantes das práxis do sujeito histórico teatro de grupo e às do teatro épico: Intensos processos de disputa de narrativas. In: LONDERO, Elen; CABRAL, Ivam; AQUILES, Marcio (Org.). Teatro de grupo em tempos de ressignificação: criações coletivas, sentidos e manifestações cênicas no estado de São Paulo. São Paulo: Associação dos Artistas Amigos da Praça, Selo Lúcias, 2023. 875 p.

MATE, Alexandre. Teatro de grupo na cidade de São Paulo e na grande São Paulo: criações coletivas, sentidos e manifestações em processo de lutas e de travessias. In: MATE Alexandre; LONDERO, Elen; CABRAL, Ivam; AQUILES, Marcio; GAMA, Joaquim. (Org.) 1. ed. São Paulo: Lúcias, 2020.

MICHETTI, Miqueli; BURGOS, Fernando. Fazedores de cultura ou empreendedores culturais: precariedade e desigualdade nas ações públicas de estímulo à cultura. Políticas culturais em revista, Salvador, v. 9, n. 2, jun-dez, 2016.

MITCHELL, Timothy. Society, Economy and the State Effect. In: STEINMETZ, G.(Ed.). State/Culture. State-formation after the cultural turn. Ithaca and London: Cornell University Press, 1999. p. 76-97.

OLIVEIRA, Taiguara Belo de. O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-20072018-112445. Acesso em: 11 jan. 2025.

OLIVIERI, Cristiane Garcia. O patrocínio cultural na cidade de São Paulo: usos da Lei Mendonça. Monografia de conclusão de curso de pós-graduação lato sensu. São Paulo: Escola de comunicação e artes, USP, 1996.

OLIVIERI, Cristiane Garcia. Cultura neoliberal: leis de Incentivo como política pública de cultura. São Paulo: Escrituras, 2004. 206 p.

ONG, Aihwa. Neoliberalism as a mobile technology. In: Boundary crossings Journal compilation. [s.l.]: Royal Geographical Society, 2007. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/4639996. Acesso em: 12 ago. 2022.

POWER, Michael. The Audit Society. Rituals of verification. Oxford: Oxford University Press, 1999.

ROMEO, Simone do Prado. Teatro e políticas públicas: cartografia da cena paulistana através da Lei de Fomento, 2002 – 2012. Tese (Doutorado em Teoria e Prática do Teatro) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022. DOI 10.11606/T.27.2022.tde-02102023-145709

ROJAS, Carlos Antonio Aguirre. Mandar obedecendo: as lições políticas do neozapatismo mexicano. São Paulo. Editora Entre Mares, 2019

RUBIM, Antonio Albino Canelas. Políticas Culturais no Brasil: tristes tradições, enormes desafios. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas; BARBALHO, Alexandre (Org.). Políticas Culturais no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007. p. 11-36.

SAAD, A.; MORAIS, L. Brasil: Neoliberalismo versus Democracia. São Paulo: Boitempo, 2018.

SCHULTZ, T. W. O Capital Humano: Investimentos em educação e pesquisa. Trad. Marco Aurélio de Moura Matos. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

SCOTT, James C. Seeing like a state: how certain schemes to improve the human condition have failed. New Haven: Yale University Press, 1999.

SCOTT, James C. Domination and the Arts of Resistance: Hidden Transcripts. New Haven: Yale University Press, 1990.

WACQUANT, Löic. Três etapas para uma antropologia histórica do neoliberalismo realmente existente. Caderno CRH, Salvador, v. 25, n. 66, p. 505-18, set/dez. 2012. Disponível em:

https://www.scielo.br/j/ccrh/a/ZkxxQjDk5XZHxxtVdHWvtym/abstract/?lang=pt. Acesso em: 12 ago. 2022.

ZHANG, Li; ONG, Aihwa (Ed.) Privatizing China: Socialism from Afar. 1. ed. [s.l.]: Cornell University Press, 2008.

Downloads

Publicado

17-06-2025

Como Citar

MARTINS, João Rodrigo Vedovato. Os paradoxos do neoliberalismo no teatro de grupo. Ambivalências, São Cristóvão-SE, v. 13, n. 25, p. 145–167, 2025. DOI: 10.21665/2318-3888.v13n25p145. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/Ambivalencias/article/view/n25p145. Acesso em: 17 jul. 2025.

Edição

Seção

Artigo