Riobaldo, homo viator

Autores

Palavras-chave:

João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas. Homo viator. Tradição platônica.

Resumo

O mito do retorno de Odisseu para Ítaca, além de ser o tema central da épica homérica, já servira de inspiração para tradição platônica como alegoria do retorno da alma à sua origem. Aproveitando a narrativa das aventuras e desventuras do herói no empreendimento, a escola platônica valeu-se da imagem do retorno para identificar a jornada da alma em direção ao belo, ao bom e ao verdadeiro, ou a Deus. Riobaldo, ainda sem clareza do seu propósito na jagunçagem, ouve a convocação de Diadorim, desde o encontro com o Menino (“Carece de ter coragem...”, ROSA, 1994, p. 145), e se filia ao bando de Joca Ramiro. Riobaldo, em seu itinerário pelo sertão e no exercício da coragem enquanto virtude purgativa, cumpre com a palavra e vinga o assassinato do líder à traição. Riobaldo: sua errância pelo sertão permite deduzir precursores como Dante, Eneias e Odisseu. Riobaldo, um homo viator a contrapelo.

Referências

AGOSTINHO. Santo. Confissões. J. Oliveira e A. Ambrósio de Pina. RJ: Vozes, 2011.

ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Trad. Italo Eugenio Mauro. SP: Ed. 34, 2017.

AQUINO, São Tomás de. Os sete pecados capitais. Trad. Luiz Jean Lauand. SP: Martins Fontes, 2000.

ARAUJO, Heloísa Vilhena. O roteiro de Deus: Dois estudos sobre Guimarães Rosa. SP: Manarim, 1996.

ARISTÓTELES. The basic works of Aristotle. Richard McKoen (ed). NY: The Modern Library, 2001.

CANDIDO, Antonio. Tese e Antítese. SP: T. A. Queiroz, 2002.

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Trad. Vera da Costa e Silva et alli. RJ: José Olympio, 2019.

CURTIUS, Ernst Robert. Literatura europeia e Idade Média latina. Trad. Teodoro Cabral. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1979.

DODDS, E. R. Os gregos e o irracional. Trad. Paulo Domenech Oneto. SP: Escuta, 2002.

ELIOT, T. S. “Ulysses, order and mith”. In.: Frank Kermod (Org.), Selected Prose. San Diego (USA): Harcourt, 1975, pp. 175-178.

GALINDO, Caetano. Sim, eu digo sim. SP: cia das Letras, 2016.

GOMES, Paulo de Tarso. Gabriel Marcel: A filosofia da existência como neo-socratismo. In.: Reflexão, n.32, Campinas, 2007, pp. 11-17.

HIGHET, Gilbert. The Classical tradition: Greek and roman influences on western literature. NY: Oxford Press, 2015.

HOMERO. Odisseia. Trad. Frederico Lourenço. SP: Cia das Letras, 2011.

HONORATO, Sérvio. Comentários. Trad. Priscila de Oliveira Campanholo. In.: (dissertação de mestrado) Os Comentários de Sérvio Honorato ao “Canto VI” da Eneida. SP: USP, 2008.

JOYCE, James. Ulisses. Trad. Antônio Houaiss. SP : Abril Cultural, 1980.

JURASZ, Izabela. Comment retourner à Ithaque ?: Le voyage d’Ulysse selon les platoniciens, gnostiques et chrétiens. In. : Revue d’études augustiniennes et patristiques, n. 68, 2022, pp. 1-23.

KONSTAN, David. The Emotions of the Ancient Greeks. Toronto: University of Toronto Press, 2006.

KONSTAN, David. “A short history of envy”. In. Antigone Journal. Posted on april, 30th, 2022 (https://antigonejournal.com/2022/04/short-history-of-envy/). Acessado em 17 de Agosto de 2023.

MARCEL, Gabriel. Homo Viator: Prolégomènes à une métaphysique de l’espérance. Paris: Aubier, 1944.

PINHEIRO, Marcus Reis. “Evágrio Pôntico”. In. A mística e os místicos. Org. Eduardo Guerreiro Losso, Maria Clara Bingemer, Marcus Reis Pinheiro. RJ: 2022, pp. 256-265.

PINHEIRO, Marcus Reis. Introdução. In.: PÔNTICO, Evágrio. Sobre as oposições de virtudes e vícios. Trad. Marcus Reis Pinheiro. In. Revista Clássica, v. 1, n. 35, 2022, pp. 1-20.

PLOTINO. Enéadas. Trad. José Seabra e Juvino Alves Maia Jr. BH: Nova Acrópole, 2014.

PÔNTICO, Evágrio. Sobre as oposições de virtudes e vícios. Trad. Marcus Reis Pinheiro. In. Revista Clássica, v. 1, n. 35, 2022, pp. 1-20.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. RJ: Nova Aguilar, 1994.

STRÓŻYŃSKI, Mateusz. “Time, Self and Aporia: Spiritual exercise in Augustine”. In.: Augustinian Studies, v. 40, n. 1, 2009, pp. 103 120.

VIRGÍLIO. Eneida. Trad. Manuel Odorico Mendes. SP: Montecristo, 2017.

Publicado

11-07-2024

Como Citar

MARCHELLI, Clarissa Catarina Barletta. Riobaldo, homo viator. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 17, p. 8–25, 2024. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/apaloseco/article/view/n17p8. Acesso em: 29 out. 2024.

Edição

Seção

Artigos