Riobaldo, homo viator

Autores

Palavras-chave:

João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas. Homo viator. Tradição platônica.

Resumo

O mito do retorno de Odisseu para Ítaca, além de ser o tema central da épica homérica, já servira de inspiração para tradição platônica como alegoria do retorno da alma à sua origem. Aproveitando a narrativa das aventuras e desventuras do herói no empreendimento, a escola platônica valeu-se da imagem do retorno para identificar a jornada da alma em direção ao belo, ao bom e ao verdadeiro, ou a Deus. Riobaldo, ainda sem clareza do seu propósito na jagunçagem, ouve a convocação de Diadorim, desde o encontro com o Menino (“Carece de ter coragem...”, ROSA, 1994, p. 145), e se filia ao bando de Joca Ramiro. Riobaldo, em seu itinerário pelo sertão e no exercício da coragem enquanto virtude purgativa, cumpre com a palavra e vinga o assassinato do líder à traição. Riobaldo: sua errância pelo sertão permite deduzir precursores como Dante, Eneias e Odisseu. Riobaldo, um homo viator a contrapelo.

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Publicado

11-07-2024

Como Citar

MARCHELLI, Clarissa Catarina Barletta. Riobaldo, homo viator. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 17, p. 8–25, 2024. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/apaloseco/article/view/n17p8. Acesso em: 7 set. 2024.

Edição

Seção

Artigos