Eixo Temático 6: TECNOLOGIA E INOVAÇÃO


Impactos da Pandemia da COVID-19 nas Startups Sergipanas: desafios e oportunidades


Impacts of the COVID-19 Pandemic on Sergipe Startups: challenges and opportunities


Aíris de Jesus Santos Andrade1 Maria Elena Leon Olave2


RESUMO

A pandemia causada pela COVID-19 teve enorme impacto no mundo, afetando todos os setores econômicos e criando problemas de saúde em geral. Com este panorama, os governos impuseram medidas de distanciamento, interrompendo várias atividades econômicas, criando efeitos de vulnerabilidade (Nicola et al., 2020). Para as empresas startups, a situação não foi diferente, muitas tiveram projetos suspensos por conta da pandemia, outras cortaram custos e investimentos, congelando contratações e demitindo funcionários (Morélix et al.,2020). Este artigo teve como objetivo geral analisar os impactos da pandemia sobre as Startups inseridas no Ecossistema Empreendedor do Estado de Sergipe. Especificamente, identificou os fatores ligados à pandemia que afetaram positiva e negativamente as startups, e investigou as principais falhas estruturais do Ecossistema Empreendedor de Sergipe sob a ótica dos gestores. Metodologicamente, foi estruturada uma pesquisa com abordagem quantitativa, realizando uma survey, com utilização de questionário, aplicado junto a gestores de startups sergipanas. Os resultados apontam como impactos positivos da pandemia, o surgimento de novos clientes, crescimento de receitas, demanda de novos produtos ou serviços, uso de novas tecnologias, aceleração do processo de transformação digital, aumento de verbas para alguns projetos, como os voltados para à área da saúde. Dentre os impactos negativos estão a perda de clientes, de receitas, redução do tempo dedicado aos projetos, suspensão de parcerias. As principais falhas estruturais do Ecossistema Empreendedor de Sergipe relacionam-se com falta de políticas públicas que impulsionam as atividades das startups, poucos casos de internacionalização, e falta de conhecimento dos empreendedores para captar investimentos.


Palavras-Chave: COVID-19; Startups; ecossistema empreendedor; empreendedorismo.


ABSTRACT

The pandemic caused by COVID-19 has had a huge impact on the world, affecting all economic sectors and creating health problems in general. With this scenario, governments imposed


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1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: airisandrade@academico.ufs.br

2 Professora Associada do Departamento de Administração da Universidade Federal de Sergipe e Docente nos Programas de Pós -Graduação em Administração- PROPADM/UFS e do Programa de Mestrado Profissional em rede em Administração Pública-PROFIAP. E-mail: mleonolave@academico.ufs.br


distancing measures, interrupting various economic activities, creating vulnerability effects (Vargas, 2020). For startup companies, the situation was no different, many had projects suspended due to the pandemic, others cut costs and investments, freezing hiring and dismissing employees (Morélix et al., 2020). This article had the general objective of analyzing the impacts of the pandemic on Startups in the State of Sergipe. Specifically, it identified the factors linked to the pandemic that positively and negatively affected startups, and investigated the main structural failures of the Entrepreneurial Ecosystem of Sergipe from the perspective of the actors. Methodologically, a research with a quantitative approach was structured, conducting a survey, using a questionnaire, applied to managers of startups of Sergipe. The results point to positive impacts of the pandemic, the emergence of new customers, revenue growth, demand for new products or services, use of new technologies, acceleration of the digital transformation process, increase in funds for some projects, such as those aimed at Health area. Among the negative impacts are the loss of customers, revenue, reduction of time dedicated to projects, suspension of partnerships. The main structural failures of the Entrepreneurial Ecosystem of Sergipe are related to the lack of public policies that boost the activities of startups, few cases of internationalization, and lack of knowledge of entrepreneurs to attract investments.


Keywords: COVID-19; Startups; entrepreneurial ecosystem; entrepreneurship.


  1. INTRODUÇÃO


    A pandemia causada pela disseminação da COVID-19 teve enorme impacto no mundo, afetando todos os setores sociais e econômicos e de saúde na população. Com este risco iminente e as medidas de distanciamento social impostas pelos governos foram interrompidas as operações de atividades comerciais em muitas empresas, enquanto combatiam a propagação da doença criando algumas dificuldades operacionais e efeitos de vulnerabilidade (Nicola et al., 2020). Para as empresas startups, a situação não foi diferente, muitas tiveram seus projetos suspensos por conta do vírus, outras cortaram custos e planos de investimentos, congelaram contratações e até demitiram funcionários (Morélix et al., 2020).

    Na área empresarial, observou-se o obrigatório encerramento das atividades consideradas não essenciais pelos agentes governamentais, por períodos de tempo que, em muitos casos, excederam de 45 dias, e a maioria das operações empresariais que já operavam no limite de sua capacidade financeira, devido ao período de crise econômica que o país passou, no período de 2014 a 2017, e que não tinham o caixa suficiente para honrar os compromissos com seus fornecedores, funcionários, entre outros, foram obrigados a encerrar


    as operações (Barbosa Filho, 2017).

    A partir do ano de 2019, houve um crescimento acentuado dos investimentos em empresas startups no Brasil, levando a um aumento deste mercado e, atraindo um volume maior de investimento externo. Segundo dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups, 2021) desde 2011, o Brasil teve um crescimento 20 vezes superior no número de Startups, ultrapassando as 13.472 mil empresas em 2021.

    Segundo Matos e Radaelli (2020) com a pandemia, as empresas startups que haviam passado por rodadas de captação de investimento recente ficaram em cenários mais confortáveis de caixa. Muitas delas conseguiram aproveitar o momento positivo vivido logo antes do início da pandemia, quando a taxa de juros registrava queda histórica, a inflação estava controlada e os investimentos no setor alcançavam recordes históricos, elevando o ânimo por parte dos investidores. As empresas startups que estavam em processo, mas que ainda não haviam concretizado a captação de investimento foram mais afetadas, uma vez que os processos se tornaram mais lentos ou foram cancelados.

    Diante disso, em meio a um cenário de incertezas, inovações, descobertas e busca por soluções para controlar o vírus, e para o setor econômico superar a crise em momentos de maior suscetibilidade à mortalidade, são pertinentes e relevantes questionamentos, como: qual o impacto da pandemia no seio das empresas? Quais estratégias são necessárias para sobreviver como empresa e empreendedor, frente ao cenário causado pelas pandemias, a exemplo da gerada pela COVID-19? Tais questionamentos suscitaram interesse em pesquisar e discutir sobre os efeitos da pandemia em diferentes âmbitos, como por exemplo nas empresas startups ou dentro dos próprios Ecossistemas Empreendedores.

    Este artigo teve como objetivo geral identificar os impactos da pandemia sobre as empresas startups inseridas no Ecossistema Empreendedor Sergipano. Metodologicamente, foi realizada um levantamento Survey com a aplicação de um questionário junto aos gestores de startups sergipanas. Além disso, pretendeu-se identificar quais as principais falhas estruturais do Ecossistema Empreendedor no Estado de Sergipe sob a ótica dos gestores de startups.


  2. REFERENCIAL TEÓRICO


    Nesta seção é apresentada a fundamentação teórica com o intuito de fornecer um embasamento teórico para realização desta pesquisa. Assim, essa seção revisou a literatura relacionada com o panorama das startups no Brasil, a pandemia da COVID-19 e seus reflexos no mundo empresarial, e os fatores ligados à pandemia que afetaram as startups brasileiras.


    1. Panorama Brasileiro de Startups


      O termo “Startup” é de origem inglesa e traduzindo para a língua portuguesa significa “começar” ou “iniciar”. De acordo com Felizola (2016), startups trata-se de empresas com pouco tempo de funcionamento, com alto potencial de escalabilidade e foco voltado para as atividades de pesquisa e desenvolvimento de ideias inovadoras.

      O Quadro 1 apresenta algumas definições sobre o termo startups, seus respectivos autores e ano de publicação.


      Quadro 1- Definições sobre o termo de Startups

      AUTOR

      ANO

      DEFINIÇÃO

      SEBRAE

      2020

      Startup é uma empresa nova, até mesmo incipiente ou em processo

      de constituição, abrangendo projetos promissores, relacionados a pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras.

      Eric Ries

      2012

      Startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios

      repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.

      Eric Ries

      2012

      Startup é uma instituição humana projetada para um novo produto

      ou serviço, em condições de extrema imprecisão.

      Steve Blank

      2012

      Uma startup é uma organização temporária construída para buscar respostas que promovam a obtenção de um modelo de negócio

      recorrente e escalável.

      Joaquim Torres

      2012

      Startup é um experimento, você deve experimentar para encontrar a solução para o problema de seus clientes e para garantir que esses clientes vão lhe gerar o retorno financeiro suficiente para que você continue oferecendo essa solução. Quando você achar que não deve mais experimentar, ou que deve diminuir o ritmo de suas

      experiências, provavelmente você já encontrou um retorno mensal




      dentro do que você esperava e nesse momento você estará fazendo

      a transição de startup para um negócio.

      Fonte: Elaborado pelas autoras (2022)


      A partir do ano de 2020, houve um aumento acentuado dos investimentos em startups no Brasil, e os ecossistemas de startups floresceram exponencialmente, tanto que no ano de 2020, o Brasil já contava com 11 empresas unicórnios, é dizer empresas startups que faturam até um bilhão de reais. Nesse contexto, o desenvolvimento das empresas startups ajudaram para que o país pudesse aumentar seu potencial inovador e lucrativo.

      O Banco Interamericano de Desenvolvimento realizou uma pesquisa, no ano de 2020, sobre o ecossistema de startups no Brasil na qual destacou os principais pilares estruturais e os atores do ecossistema de empreendedorismo que, ao atuarem de maneira conectada, foram capazes de superar desafios com as ideias inovadoras criadas por empresas, além de constatarem a importância da formação de pessoas qualificadas e preparadas para um mundo em fase de transformação digital.

      Ainda, na mesma pesquisa realizada pelo BID (2020), observou-se que há um enorme potencial de inovação a ser explorado no país, e portanto, se faz necessário suporte e incentivos de investimentos para que haja mais segurança e estabilidade no mercado por parte das startups.


    2. A Pandemia da COVID-19 e seus reflexos no mundo empresarial


      Frente ao contexto da pandemia da COVID-19, os negócios e as diversas empresas tiveram que se adaptar para conviver com as consequências da crise econômica e sanitária, buscando novas formas de operar, atender e prestar seus serviços de maneira segura para os funcionários e para a sociedade como um todo, além de utilizar ferramentas como a mineração de dados e big data para obterem informações seguras e confiáveis em suas estratégias (Paiva et al., 2022).

      Dentre os impactos advindos da pandemia registrados no mundo empresarial, se destacam principalmente, a redução abrupta de receitas, mudanças repentinas nos padrões


      de consumo. Segundo Bergamo, Teixeira e Silva (2017), vivenciamos uma sociedade cibercultural, marcada pela interconexão, comunidades virtuais e inteligência coletiva, tal afirmação é tida como a principal vantagem para o enfrentamento da crise ocasionada pelo coronavírus, visto que o governo implementou como principal medida de restrição o distanciamento social, e o uso de novas tecnologias que irão prevalecer, principalmente, para as empresas que precisam modernizar suas operações para continuar funcionando no atual cenário (Oliveira et al., 2020).

      No artigo “Crowdsourcing: soluções para a COVID-19” escrito por Carvalho (2021) o pesquisador concluiu que frente à pandemia, os empreendedores devem buscar uma construção coletiva de respostas sobre as ações a serem tomadas como referência para as decisões. Fatores como planejamento, definição dos colaboradores e aspectos culturas vão ajudar a mapear a condição financeira do empreendimento para se estabelecer no cenário atual.

      Pecequilo et al. (2020) afirmam que a digitalização será uma herança da pandemia, pois com políticas de isolamento, as empresas foram forçadas a se relacionarem com seus funcionários e clientes de maneira remota, com o uso de ferramentas como videoconferências, por exemplo, e, portanto, essa prática permanecerá presente em seus cotidianos mesmo após a pandemia.

      De acordo com Queiroga (2020) e analisando dados da pesquisa elaborada pela fundação Instituo de Administração (FIA) no ano de 2020, 46% das empresas nacionais adotaram o modelo de trabalho remoto durante a pandemia e muitas delas planejam manter o Home Office no período pós- pandemia, nota-se, mais uma vez o processo de digitalização presente no enfrentamento da crise do coronavírus.


    3. Fatores Ligados à Pandemia que afetaram os Ecossistemas de Startups


      Dentre os impactos ocasionados pela pandemia do coronavírus, com inúmeras incertezas e imposições governamentais, foi necessário que as organizações se posicionassem para analisar e modificar os processos das suas empresas (Backes et al., 2020). As medidas de


      isolamento social também exigiram das empresas a implementação do chamado trabalho remoto para segurança dos funcionários. Algumas startups no Estado de Sergipe já atuavam quase 80% de forma digital ou em hubs de inovação, acelerando os processos de digitalização e ampliando a demanda por tecnologias (Queiroga, 2020).

      Um aspecto que impacto positivamente algumas empresas startups durante a pandemia foi o aumento das vendas, impulsionadas pelo e-commerce, assim como uma maior interação com seus clientes. Desse modo, o e-commerce brasileiro cresceu mais de 30% no primeiro semestre de 2021, além disso, o benchmarking que as startups desenvolveram foram capazes de fortalecê-las ainda mais no ecossistema brasileiro, lidando com informações de qualidade e utilizando os recursos de maneira remota para interagir com os clientes (Rezende et al., 2020).

      Em meio ao cenário pandêmico também surgiram inúmeras oportunidades de negócios por exemplo, para os investidores anjos que puderam investir em startups com alto potencial de crescimento, oferecendo soluções inovadoras para os governos e empresas, já que trazem oportunidades de correção, representatividade e reconhecimento, com ações eficientes e políticas estruturais que geram bases sólidas no enfrentamento da pandemia da COVID-19 (Matos; Radaelli, 2020).

      Do mesmo modo que diversas empresas e startups conseguiram o auge de sucesso nos negócios em meio a pandemia, muitas outras passaram por situações trágicas, chegando à falência ou encerramento total das suas atividades. As organizações que estavam se preparando para adentrar no mercado, mas ainda com os investimentos em andamento foram as mais afetadas, pois com a chegada da COVID-19 os processos de captação de investimentos ficaram mais lentos ou foram cancelados.

      De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (2020), a crise pandêmica afetou negativamente uma em cada quatro startups no Brasil, considerando os dados apresentados no relatório “Startups do Brasil em meio à pandemia”. De acordo com o relatório foi necessário, de maneira urgente, reduzir os custos e cortar gastos, além da paralização de novas contratações e demissão de alguns funcionários, projetos e estratégias


      de inovação precisaram ser abortar por tempo indeterminado, dificultando ainda mais a capacidade das empresas de sustentarem as despesas e preservarem empregos.

      O Sebrae Nacional divulgou um relatório em 2021 onde constatou que mais de 60% dos negócios paralisaram temporariamente ou encerraram definitivamente suas atividades.


  3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


    Este estudo foi classificado quanto à sua finalidade como uma pesquisa básica, posto que seu objetivo pretendeu identificar os impactos positivos e negativos sofrido pelas empresas startups inseridas no ecossistema empreendedor do estado de Sergipe, no enfrentamento à pandemia da COVID-19. Além disso, essa pesquisa também é classificada como aplicada, pois a partir dos resultados obtidos com a aplicação do questionário junto aos gestores, foram identificados os principais problemas estruturais do ecossistema de startups do estado de Sergipe.

    Souza et al. (2013) expõem que no tocante a forma de abordagem uma pesquisa pode ser qualitativa ou quantitativa. Especificamente, esta pesquisa teve uma abordagem quantitativa, a qual foi implementada pelo uso de questionário eletrônico, por meio dos quais foram obtidos resultados em percentuais e usado escala de avaliação para alguns dados. O questionário foi aplicado junto aos gestores de startups do estado de Sergipe que decidiram participar voluntariamente da pesquisa. A abordagem quantitativa, por seu turno, intenciona explicar, predizer e controlar fenômenos através de regularidades e quantificação de medidas sobre um evento estudado (Knechtel, 2014).

    Quanto ao seu propósito, a presente pesquisa foi classificada como descritiva haja vista o número mínimo de estudos sobre a temática, e a seleção de informações mais específicas e detalhadas. Quanto aos procedimentos técnicos esta pesquisa utilizou o procedimento técnico do tipo survey. A Survey também chamada de levantamento (Gray, 2009) intenciona a obtenção de dados, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas (Freitas et al., 2000), no caso desta pesquisa foram os gestores de startups inseridas no ecossistema empreendedor de Sergipe, além disso, foram utilizados os métodos de análise de dados


    descritiva e diagnóstica, visto que foram necessárias respostas ao questionário e feita a relação entre as informações coletadas.

    Por fim, esse estudo é caracterizado quanto a seu desenvolvimento no tempo. Fontelles et al. (2009) lembram-nos que quanto a essa classificação os estudos podem ser tipificados como estudos longitudinais e estudos transversais. A pesquisa transversal, a qual foi aplicada nesse estudo, é caracterizada pela coleta de dados em um único momento, almejando descrever e analisar o estado de uma ou mais variáveis em dado momento (Gray, 2009), permitindo, dessa forma, uma análise do que está acontecendo em um determinado período (Saunders; Lewis; Thornill, 2012).

    Partindo do pressuposto de que as evidências podem vir de fontes diferenciadas, nesta pesquisa, além dos dados obtidos com a aplicação do questionário, também foram retiradas informações de documentos, sites, artigos sobre empresas startups no Brasil, e no estado de Sergipe, documentos disponíveis no Site de Associação Brasileira de Startups (ABSTARTUPS), assim como relatórios disponibilizados pelo SEBRAE- Serviço de Apoio às micro e pequenas empresas e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros.

    Com relação ao instrumento usado, o questionário em formato Google Forms, foi disponibilizado para os gestores de startups sergipanas, entre os dias 15 de março de 2022, e até o dia 30 de junho de 2022. O questionário continha vinte (20) perguntas, relacionadas ao perfil da empresa, do gestor, impactos positivos e negativos advindos da pandemia e sobre falhas estruturais do ecossistema empreendedor.

    Foi realizado um teste piloto no mês de março de 2022, quando se enviou o primeiro modelo do questionário para um empresário de uma startup em Sergipe e para um funcionário de outra startups. Após o teste observou-se que algumas perguntas não foram bem formuladas, ou não ficaram claramente expostas, com as sugestões recebidas, o questionário foi ajustado e finalmente liberado para ser preenchido. O link do questionário foi disponibilizado em vários grupos (empresas, pessoas que participam do grupo Inova+ Sergipe, alunos do curso de ciências da computação e de administração da UFS que trabalham em startups, e encaminhado por meio de uma rede social).


  4. RESULTADOS E DISCUSSÃO


    1. Perfil das Startups pesquisadas


      Por meio da pesquisa de campo foi possível obter a resposta de 11 gestores de startups localizados em Sergipe. Os respondentes classificaram suas startups como empresas de porte médio (36,4%) ou pequenas empresas (63,6%), onde 63,6% deles atuam na área de serviços, 27,3% na indústria e 9,1% no comércio, entretanto, os entrevistados ressaltaram que todas as empresas estão trabalhando com projetos promissores e ideias inovadoras, corroborando com a definição do que é uma startup na visão do SEBRAE (2020).

      Já o número de funcionários das empresas pesquisadas se mostrou preponderante entre startups com 6 a 10 funcionários. No tocante ao tempo de funcionamento da empresa, a maioria está no mercado entre três e cinco anos (6 empresas).

      Foi perguntado para os gestores em qual fase do ciclo de vida se encontravam, sendo elas: fase de ideação, operação, tração e scale-up. É notório que sua maioria (45,5%) se encontra na fase de tração, também conhecida como Growth Stage, que é considerado o estágio de maturidade, ou seja, é quando a empresa consegue validar seu modelo de negócio, com uma base sólida de clientes e investimentos.

      Em seguida, 18,2% estão na fase de validação (Seed) que é quando o produto ou serviço é validado no mercado. A fase de operação (Early Stage) também apresenta um percentual de 18.2 %, sendo o estágio onde a startup já conseguiu validar o seu produto mínimo viável (MVP) e chega na versão oficial do produto ou serviço. Por fim, 9,1% estão na fase de Ideação (pre-Seed) e na fase de Scale up (9,1%), que são, respectivamente, a pesquisa intensa por ideias e a fase de expansão da empresa (Carrilo et al., 2019).

      Os resultados da pesquisa vão de encontro com os dados apresentados no relatório do BID (2020) no qual se evidência que as empresas startups brasileiras estão crescendo e mostrando um potencial inovador, mas ainda há necessidade de ofertar um ambiente seguro e de estabilidade para tais empresas no brasil. O gráfico 1 apresenta as diferentes fases em que as startups pesquisadas se encontram:


      Gráfico 1 - Fase em que se encontra a Startups Pesquisada


      Gráfico, Gráfico de pizza

Descrição gerada automaticamente

      Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da pesquisa de campo (2022)


      Pode-se observar que com a chegada do vírus no Brasil, muitas empresas aproveitaram a oportunidade para alavancar os seus negócios, enquanto outras sofreram impactos negativos.


    2. Aspectos Positivos e Negativos Advindos da Pandemia para os Gestores de Startups Sergipanas


      Na tabela 1 são apresentados os pontos positivos que a pandemia trouxe para os gestores das startups, obtidos como resultado da pesquisa de campo. Dentre os dados coletados, nota-se que os impactos mais significativos foram o ingresso de novos clientes, trabalho remoto, maior integração das equipes de trabalho e aceleração dos projetos em andamento e até novos investimentos em startups de alguns setores, a exemplo da saúde como corroborado por Matos e Radaelli (2020).

      Já a tabela 2 apresenta os efeitos negativos da pandemia. Observa-se que as maiores dificuldades estão voltadas para obtenção de insumos no curto prazo, maior pressão para entregar projetos, mudanças das prioridades da empresa e diminuição do tempo dedicado a projetos.

      Com relação as principais falhas ou problemas estruturais do ecossistema de startups do estado de Sergipe, pode-se mencionar quatro aspectos ligados a poucos casos de


      internacionalização das empresas do estado; falta de políticas públicas que impulsionem as atividades dos atores do ecossistema; falta de cultura empreendedora por parte dos empresários para promover redes de colaboração e falta de conhecimento sobre as formas para captar investimentos, principalmente por parte de empresas startups do estado.


  5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este trabalho teve como objetivo geral analisar os impactos positivos e negativos sofrido pelas startups inseridas no ecossistema de startups do estado de Sergipe, no enfrentamento à pandemia da COVID-19. Observa-se que a pandemia trouxe impactos tanto positivos quanto negativos para as startups de Sergipe. Por exemplo, no cenário pandêmico foi necessária a aplicação do trabalho em home office para segurança dos trabalhadores, entretanto, a maior parte das startups sergipanas já trabalhavam de forma remota e tinham iniciado os processos de digitalização e tecnologia mais adequados, a chegada de novos clientes e a aceleração de novos projetos também foram fatores positivos nesse período.

Os achados da pesquisa apontam como aspectos positivos da pandemia para as startups, o surgimento de novos clientes, crescimento de receitas, demanda de novos produtos ou serviços, resolução de problemas em menor tempo, uso de novas tecnologias, maior integração das equipes de trabalho, aceleração de projetos, aumento de verbas para alguns projetos, como os voltados para à área da saúde.

Com relação aos fatores negativos advindos da pandemia para as startups inseridas no ecossistema empreendedor de Sergipe tem-se: perda de clientes, perda de receitas, dificuldades para obter insumos, demissões, pressão para entregar projetos, redução do tempo de dedicação aos projetos, corte de verbas, suspensão de parcerias, cancelamento de projetos, diminuição do tempo dedicado a novos projetos, como indicado na pesquisa do SEBRAE (2020) e do BID (2020). Com os dados coletados, foi possível observar no trabalho em questão que o Ecossistema Empreendedor de Sergipe possui falhas estruturais, que impedem o melhor desenvolvimento de empresas nesse âmbito.

As principais falhas ou problemas estruturais estão relacionados com falta de políticas públicas que impulsionem as atividades das startups no estado, poucos casos de


internacionalização, falta de uma cultura empreendedora por parte dos atores, falta de conhecimento para captar investimentos.

Ainda é necessária uma melhoria na regulamentação legislativa para incentivar a abertura de novas empresas e dos serviços de apoio já existentes, a visão das pessoas sob o empreendedorismo sofre com a falta de conhecimento e informações acerca do tema, por essa razão são necessárias ações e atitudes culturais para influenciar as atividades empreendedoras, além da interação entre diferentes grupos e talentos.

Por outro lado, a pandemia trouxe uma aceleração no uso de novas tecnologias que permitiram modernizar as operações de muitas atividades empresariais, houve um rápido aprendizado no uso dessas tecnologias que, como afirmam Oliveira et al. (2020), vieram para prevalecer e atualizar o cenário pós-pandemia.

Desse modo, as autoras deste trabalho sugerem pesquisas futuras que analisem o impacto das aceleradoras e dos espaços de coworking no desenvolvimento dos ecossistemas empreendedores, visto que eles são fontes importantes de suporte e apoio as startups que são fundamentais nesse ecossistema. Também ampliar pesquisas de cunho qualitativas com gestores de organizações como startups, aceleradores, incubadoras que obtiveram sucesso durante o período da pandemia do COVID-19, para analisar as razões, os indicadores e as estratégias seguidas por elas.


REFERÊNCIAS


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TORRES, J. O Guia da Startup. 1. ed. São Paulo: Casa do Código, 2012.


Tabela 1 - Impactos Positivos da COVID-19 nas Startups do Ecossistema Empreendedor de Sergipe



Nota


Ingresso de Novos Clientes


Crescimento das Receitas


Demanda por Novos Produtos/ serviços


Resolução de Problema em menor tempo


Uso de Novas Tecnologi as


Trabalho Remoto

Maior integraçã o das Equipes de Trabalho


Aceleração dos Projetos em Andamento


Crescimento de parcerias e negócios com outras empresas


Contrata ção de Novos Colabor adores


Aumento de verbas para os projetos


1


9,09%


18,18%


0,00%


9,09%


0,00%


0,00%


0,00%


0,00%


9,09%


18,18%


18,18%

2

9,09%

27,27%

18,18%

18,18%

9,09%

0,00%

9,09%

9,09%

36,36%

27,27%

36,36%

3

27,27%

36,36%

36,36%

27,27%

45,45%

18,18%

27,27%

36,36%

18,18%

18,18%

18,18%

4

54,55%

18,18%

45,45%

45,45%

45,45%

81,82%

63,64%

54,55%

36,36%

36,36%

27,27%

Total

100,00%

100,00%

100,00%

100,00%

100,00%

100,00%

100,00%

100,00%

100,00%

100,00

%

100,00%

Fonte: Elaborada pelas autoras a partir da Pesquisa de Campo (2022)


notas correspondem a: 1= Sem impacto 2= Pouco Impacto 3= Médio impacto 4= Alto impacto


Tabela 2 - Impactos Negativos da Pandemia COVID-19 nas Startups do Ecossistema Empreendedor de Sergipe



Nota


Perda de Clientes


Perda de Receita


Dificuldade para obter insumos no curto prazo


Demissões


Maior Pressão para entregar Projetos


Mudanças das prioridades da empresa


Redução das equipes de Trabalho


Diminuição ou corte de verbas para execução de projetos


Suspensão de parcerias ou projetos em conjunto com outras empresas


Cancelamento de projetos em desenvolvimento


Diminuição do tempo dedicado aos projetos


1


54,55%


72,73%


27,27%


72,73%


27,27%


27,27%


63,64%


45,45%


36,36%


63,64%


36,36%

2

36,36%

9,09%

27,27%

18,18%

36,36%

0,00%

27,27%

27,27%

45,45%

9,09%

9,09%

3

9,09%

18,18%

36,36%

9,09%

36,36%

45,45

%

9,09%

27,27%

18,18%

27,27%

54,55%

4

0,00%

0,00%

9,09%

0,00%

0,00%

27,27%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

Total

100%

100%

100 %

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%


Fonte: Elaborada pelas autoras a partir da Pesquisa de Campo (2022)


notas correspondem a: 1= Sem impacto 2= Pouco Impacto 3= Médio impacto 4= Alto impact