Audio description as a resource for inclusion and cultural accessibility in Information Science
Esta pesquisa de mestrado profissional em Ciência da Informação (CI), que apresenta um estudo sobre a audiodescrição, aplica-se ao propósito de ampliar o repertório informacional dos visitantes do Largo da Gente Sergipana. O trabalho se fundamentou na CI, com problema de pesquisa sobre acessibilidade a conteúdo de educação cultural. A metodologia exploratória utilizada, de abordagem qualitativa e natureza aplicada, baseou-se em uma pesquisa-ação, com colaboração direta de mestres de movimentos culturais e permitiu compreender que informações esses indivíduos gostariam de passar à sociedade, na tentativa de desfazer um caminho conservador de pesquisa mediado por padrões e perspectivas clássicos. Os resultados demonstram que a audiodescrição pode contribuir para a educação cultural de públicos diversos, principalmente daqueles com deficiência visual, abrangendo ainda crianças, adolescentes, adultos e idosos com baixa visão, pessoas com transtornos do desenvolvimento intelectual, autistas, pessoas com deficiência múltipla, não alfabetizados, turistas, entre outros grupos. Do ponto de vista acadêmico, a elaboração da audiodescrição instalada no largo em outubro de 2022 seguiu uma abordagem humanista da atuação profissional em CI.
This professional master's research in Information Science (IS), which presents a study on audio description, applies to the purpose of expanding the informational repertoire of visitors to Largo da Gente Sergipana. The work was based on IS, with a research problem on accessibility to cultural education content. The exploratory methodology used, with a qualitative approach and applied nature, was based on action research, with direct collaboration with masters of cultural movements, allowing us to understand what
1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI-UFS), turma 2020. Faleceu em agosto de 2022, 15 dias antes da defesa da dissertação dele.
2 Professora Efetiva da Universidade Federal de Sergipe (UFS) vinculada ao Curso de Graduação em Design Gráfico do Departamento de Artes Visuais e Design (DAVD-UFS) e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI-UFS).
information these individuals would like to pass on to society, in an attempt to undo a conservative path of research mediated by classical patterns and perspectives. The results demonstrate that audio description can contribute to the cultural education of different audiences, especially those with visual impairment, including children, adolescents, adults and elderly people with low vision, people with intellectual development disorders, autistic people, people with multiple disabilities, not literate, tourists, among other groups. From an academic point of view, the elaboration of the audio description installed in the square in October 2022 followed a humanist approach to professional performance in IC.
O acesso à informação é um direito fundamental à condição humana em uma sociedade democrática. A informação possibilita a tomada de decisões e a resolução de problemas, pois o seu uso é a base do conhecimento, o que a torna um elemento importante na vida das pessoas pela perspectiva informacional de acessar conteúdo e constituir referências sobre um determinado fenômeno ou fato (Conceição, 2022, p. 16).
Tornar a informação acessível e inteligível para as pessoas, sem distinção, é uma das tarefas do profissional da Ciência da Informação (CI). Segundo Nunes et al. (2023, p. 10) a CI, surgida no século XX, pode ser definida como uma “área do conhecimento que se ocupa em estudar os fenômenos informacionais em seus aspectos intra e intersubjetivos e plurais, com destaque para as relações sociais que se estabelecem em torno da informação e o contexto no qual está inserida”. Quer dizer que, a partir da CI, a informação é tratada como um artefato utilizado para comunicar algo para as pessoas e, sendo assim, conteúdos de cunho cultural, político e social devem ser tratados de modo a potencializar processos de aprendizagem e a reflexão das pessoas acerca da sociedade em que vivem.
No Brasil, o acesso a determinadas informações é desproporcional entre as diferentes camadas sociais: nem todas as pessoas têm a oportunidade de conhecer com consistência aspectos da história cultural do lugar que habitam ou visitam. E essa questão se agrava no caso de pessoas com alguma deficiência, por exemplo, as pessoas cegas. Como explicita Conceição (2022, p. 15),
A falta de políticas voltadas à inclusão e ao acesso à informação é um problema social muito antigo, e muitas vezes passa despercebido, principalmente para quem não conhece ou não convive com a dura realidade de ter uma especificidade que impede ou nega o acesso a determinados modos de apresentação da informação.
Nesta perspectiva, observou-se que no Largo da Gente Sergipana, equipamento museológico a céu aberto de Aracaju, Sergipe, as manifestações culturais representadas em esculturas de sete metros de altura (figura 1) poderiam estar associadas a informações acerca dos elementos que compõem cada escultura, trazendo à tona as evidências históricas e os aspectos simbólicos materializados em fibra de vidro, para que o visitante tenha a oportunidade ímpar de conhecer a cultura e o patrimônio imaterial de Sergipe.
Fonte: Imagem cedida por Diego de Souza.
A audiodescrição (AD) teria o potencial de instruir o visitante, já que não há guias permanentes no largo, que está vinculado ao Museu da Gente Sergipana.3 Por ser um espaço público urbano e em ambiente aberto, além da dificuldade de controlar o número de visitantes, somente visitas agendadas são guiadas pelos educadores. Por isso, o recurso
3 Segundo Conceição (2022, p. 16): no Museu da Gente Sergipana, há sempre pessoas capacitadas para receber e atender os usuários em todas as instalações. Já no Largo da Gente Sergipana, visitas guiadas são realizadas somente em determinados casos de agendamento de grupos por meio do museu, que disponibiliza nessas circunstâncias profissionais para acompanhar e mediar a visita ao largo.
auditivo poderia ser uma alternativa de acesso à informação de conteúdo cultural sobre as nove esculturas instaladas no largo, independente da presença de guias.
Diante do exposto, é relevante apresentar a questão que norteou a pesquisa aqui relatada: como seria possível ampliar o repertório informacional dos visitantes do Largo da Gente Sergipana por intermédio da Ciência da Informação, considerando a importância da acessibilidade para a ação de educação cultural de indivíduos?
Objetivou-se, a partir disso, desenvolver a audiodescrição das nove esculturas do largo e disponibilizá-las nos respectivos totens já existentes no local via QR Code (Quick Response Code ou código de resposta rápida, em português). Os objetivos específicos podem ser descritos em três ações fundamentais para a elaboração das audiodescrições: 1) estabelecer uma relação entre a Ciência da Informação e a audiodescrição a partir da dimensão social, 2) diagnosticar as características e especificidades do Museu da Gente Sergipana e a experiência dos visitantes do Largo da Gente Sergipana e 3) conhecer aspectos da história das manifestações culturais por intermédio da fala dos atores (mestres) representados no largo.
A aproximação teórica e prática da CI com a AD é capaz de potencializar modos de apreensão e construção do conhecimento, inclusive estimulando outros espaços museológicos a planejarem os equipamentos e a exposição de artefatos para além do âmbito visual, uma vez que passem a compreender a audiodescrição como estratégia para preencher a lacuna do acesso à informação e atender especificidades de determinados grupos sociais. Como explica Vilaronga (2010), as atividades audiovisuais vinculadas a uma experiência visual amplificam o acesso às informações disponibilizadas, o que possibilita a circulação de pessoas com deficiência visual nos espaços culturais, como os museus (Conceição, 2022, p. 16).
O referencial teórico desta pesquisa focaliza três aspectos: a relação da CI com a AD, a acessibilidade em museus (com ênfase no público com deficiência visual) e uma discussão específica sobre a audiodescrição. Destaca-se, primeiramente, a presença de obras que excedem os dez anos de existência, clássicos fundamentais cuja contribuição superou o desejável critério de atualidade.
Na relação da Ciência da Informação com a audiodescrição, especialmente na mediação do acesso a conteúdo em âmbito museológico, o foco foi evidenciar a possibilidade de diálogo da AD com a CI numa perspectiva sociocultural. A mediação da informação e a mediação cultural na CI foram tópicos importantes que tiveram a função de tratar das características, aplicações e semelhanças conceituais em relação à mediação na AD.
A CI é um campo de conhecimento que se propõe a estudar as características e as propriedades dos fluxos de informação em um instrumento de comunicação, buscando analisar, coletar, processar, armazenar, recuperar, utilizar e dar acesso à informação (BORKO, 1968). Ressalta-se que a informação é um artefato — algo construído — e precisa ser elaborada para ser interpretada por alguém.
Segundo Araújo (2017), com o passar do tempo, a CI foi abarcando novos elementos de análise dentro dos sistemas de informação, entre os quais a relação com os usuários. O enfoque recai, assim, sobre o uso da informação pelas pessoas no contexto social e sobre as questões por elas colocadas enquanto usuárias da informação. De fato, a preocupação com o uso da informação culminou no desenvolvimento de pesquisas envolvendo os próprios usuários, de modo a atender suas especificidades informativas no contexto social.
Sobre a ampliação da visão do campo para além da automatização de processos, Araújo (2017) destaca Rafael Capurro (2003) como um importante teórico que deixou de centralizar a abordagem da CI apenas no tratamento da informação, passando a se preocupar com o usuário e com o uso da informação. Capurro (2003) faz a interlocução dos três paradigmas epistemológicos da CI, a saber: o paradigma físico, com foco em sistemas e bases de dados; o paradigma cognitivo, cuja essência está no indivíduo e no usuário; e o paradigma social, com eixo na comunidade e nos estudos de usuários da informação. Araújo (2017)
esclarece que esses modelos estabelecem novas formas de estudos conceituais do termo
“informação” no âmbito da CI.
Quanto às questões de acessibilidade da informação no âmbito de exposições culturais em museus, foi necessário conhecer mais sobre a deficiência visual, incluindo a percepção de pessoas cegas, os níveis de cegueira e demais limitações que tolhem a capacidade do indivíduo de processar a informação.
Por fim, na pesquisa sobre audiodescrição, o propósito foi discutir o conceito, a origem, a progressão histórica, o objetivo, os tipos e as diretrizes necessárias para a aplicabilidade desse recurso sonoro relevante ao acesso à informação de cunho cultural.
Enquanto prática informal, a AD faz parte da sociedade desde sempre, embora muitas vezes as pessoas não se deem conta. Quando uma pessoa descreve algo para alguém, está mobilizando esse recurso para facilitar o entendimento das pessoas, principalmente daquelas sem acuidade visual. Entretanto, a audiodescrição enquanto técnica sonora de elaboração de informação começou a ser pensada a partir de meados da década de 1970 nos Estados Unidos, sendo utilizada, inicialmente, em peças de teatro (Franco; Silva, 2010).
No Brasil, a audiodescrição começou a ser utilizada em 2003, durante o Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência “Assim vivemos”. Em uma ação inclusiva, todos os filmes e documentários apresentados no evento dispunham de acessibilidade para a pessoa com deficiência visual e auditiva (Nunes et al., 2010).
Desde o final de 2014, a Agência Nacional do Cinema (Ancine), por meio da Instrução Normativa nº 116 sinaliza que todos os projetos de produção audiovisual financiados com recursos públicos federais geridos pela agência devem contemplar audiodescrição (BRASIL, 2014). Existe também a Instrução Normativa nº 128, de 13 de setembro de 2016, que regulamenta o provimento de recursos de acessibilidade visual no âmbito cinematográfico, com a exigência de que a AD esteja disponível em salas de exibição comercial (Brasil, 2016).
O avanço legal mais recente da audiodescrição no Brasil é a Lei nº 6.858, de 27 de maio de 2021, que dispõe sobre a garantia de acessibilidade dos deficientes visuais aos projetos culturais patrocinados ou fomentados com verba pública no Distrito Federal.
Existem tipos diferentes de AD (quadro 1), conforme o tipo de produto e de transmissão do conteúdo. Imprescindível para o acesso à informação de pessoas cegas, a AD pode ser fundamental também para que outras pessoas possam ampliar a compreensão acerca do objeto descrito, a depender de como o conteúdo sonoro for elaborado.
GRAVADA | Quando o produto audiovisual é pré-gravado, como no cinema e na TV. A narração é inserida entre os diálogos e mixada ao áudio original na fase de pós-produção. |
AO VIVO ROTEIRIZADA | É utilizada em eventos previamente ensaiados, como espetáculos de teatro, dança e circo. O roteiro é desenvolvido com antecedência e a narração é transmitida ao vivo por um audiodescritor narrador presente no local da apresentação. |
AO VIVO NÃO ROTEIRIZADA | Ocorre nas situações em que não é possível a elaboração prévia de um roteiro. Nesses casos, a audiodescrição é realizada de improviso, à medida que o evento acontece. |
DESCRIÇÃO DE IMAGENS DINÂMICAS | Utilizada para imagens cinematográficas, televisivas, entre outras formas de animação. |
DESCRIÇÃO DE IMAGENS ESTÁTICAS | Utilizada na descrição de desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, gráficos, entre outros. |
No Quadro 2, estão sistematizados os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa.
ABORDAGEM | Qualitativa |
NATUREZA | Aplicada |
OBJETIVOS | Exploratórios; Descritivos |
PROCEDIMENTOS | Pesquisa Bibliográfica; Pesquisa Documental; Pesquisa-ação |
A pesquisa, de abordagem qualitativa, buscou compreender em profundidade um fenômeno específico a partir da perspectiva das pessoas, por intermédio de contato direto em entrevistas semiestruturadas com visitantes do espaço em análise e com mestres das manifestações culturais representadas nos artefatos visados pela pesquisa. Apoiou-se na qualificação e não na volumetria de dados, de modo que a escuta consistiu em levantar
informações para que, de maneira exploratória, fosse possível interpretar e elaborar novas respostas para o fenômeno investigado. Corrobora-se, então, a ideia de Sampieri, Collado e Lúcio (2013, p. 36) de que “o pesquisador qualitativo parte da premissa de que o mundo social é ‘relativo’ e somente pode ser entendido a partir do ponto de vista dos atores estudados”.
Enquanto pesquisa de natureza aplicada, buscou gerar conhecimento para aplicação prática dirigida à solução do problema social de acessibilidade da informação em exposições culturais com a implementação da AD no Largo da Gente Sergipana. Para tanto, foi preciso lançar mão de ferramentas diagnósticas e analíticas. Thiollent (2009) explica que, no contexto das pesquisas sociais, o processo de diagnóstico atende aos requisitos da pesquisa-ação ou pesquisa participante como procedimento prático para elaboração de respostas. Nesta pesquisa, optou-se por desenvolver ação diagnóstica para identificar as características e as especificidades do Largo e do Museu da Gente Sergipana somada à análise SWOT (abreviatura em inglês para “forças, fraquezas, oportunidades e ameaças”) em que foram constatadas lacunas na acessibilidade da informação, entre as quais a falta do recurso de AD para atender a um maior número de visitantes.
Por fim, o objeto de estudo aqui focalizado, numa perspectiva descritiva, foi investigado por intermédio de diversos tipos de documentos: bibliografia clássica de folcloristas e estudiosos da cultura de Sergipe; periódicos; o projeto do Largo da Gente Sergipana proposto pelo Grupo Banese, responsável pela gestão do museu e do largo; outros documentos referentes ao largo, tendo em vista informações ligadas a procedimentos, controles, fluxo de usuários e atividades específicas, encontradas por meio de relatórios mensais, documentos históricos, matérias jornalísticas, fichas de controle etc. do acervo do Instituto Banese e do Museu da Gente Sergipana. Já numa abordagem exploratória, podem ser incluídas fontes como as pessoas envolvidas na manutenção da cultura (mestres/representantes das manifestações culturais), cujos apontamentos contribuíram para a descrição dos objetos.
Após os estudos, coleta e análise de dados, as ADs foram produzidas, considerando as seguintes etapas: a) roteirização; b) avaliação; c) gravação e d) edição. Todo o processo foi realizado dentro da Rádio UFS, com o apoio econômico da Diretoria de Editoração,
Comunicação Institucional e Produção Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (DECAV/UFS) — disponibilidade de técnico, equipamento e hora em estúdio de gravação — e apoio financeiro do Museu da Gente Sergipana — remuneração pecuniária de serviços de narração prestados pela atriz Diane Veloso.
O Largo da Gente Sergipana foi inaugurado em 17 de março de 2018. Trata-se de um espaço público urbano externo ao Museu da Gente Sergipana, construído às margens do rio Sergipe, o qual contempla oito esculturas de figuras humanas verticais, além do barco de fogo, representando algumas manifestações culturais que são mantidas em Sergipe. As manifestações culturais exibidas no largo são Lambe-Sujo e Caboclinho, Bacamarteiro, Cacumbi, Parafuso, Reisado, Chegança, Taieira, São Gonçalo e Barco de Fogo (figura 2).
O Museu da Gente Sergipana tem um acervo único e gratuito em lugar acessível com instalações com uso de tecnologia interativa, diferencial que pode despertar o interesse das pessoas. O largo, por sua vez, como já mencionado, não tem um guia/educador cultural permanente e, além disso, por estar em local aberto e público, é visitado mesmo quando o museu está fechado. Isso somado à ausência de outros recursos informacionais, como a AD, pode dificultar o entendimento histórico e sociocultural do que está ali representado e
materializado em esculturas. A AD, portanto, é capaz de gerar autonomia ao visitante em obter informações acerca das gigantescas esculturas para além da materialidade exposta.
Para o público com deficiência visual, o largo disponibiliza totens contendo o nome das esculturas em Braille. Apesar de a iniciativa ser positiva, o visitante cego acaba não tendo nenhuma experiência com as esculturas além dessa, pois também não há possibilidade de interação tátil com o objeto in loco, em razão das dimensões e da localização das esculturas, que parecem flutuar acima do rio Sergipe. Entende-se, portanto, que o espaço pode receber melhoras numa perspectiva inclusiva para atender outros públicos e mesmo para a pessoa com deficiência visual, pois nem todas tiveram a oportunidade de se alfabetizar no sistema de escrita Braille.
A partir da compreensão ampla acerca do campo da CI, principalmente em se tratando do enfoque que evidencia a importância do uso da informação por pessoas em determinado contexto sociocultural, foi possível estabelecer diálogo com a AD como recurso estratégico para operar o acesso à informação em museus. Nesta perspectiva, foram elaboradas as nove audiodescrições na modalidade de descrição de imagens estáticas, seguindo os seguintes passos (Quadro 3):
(1) Elaboração do primeiro roteiro, das notas proêmias4, considerando as falas dos mestres dos movimentos culturais representados nas esculturas do largo. |
(2) Elaboração do segundo roteiro, considerando a metodologia sugerida pela literatura sobre AD. Nesse passo os elementos constituintes das esculturas foram descritos de maneira objetiva, pela |
4 Essas notas antecedem a AD e têm o objetivo de trazer informações relevantes sobre o objeto que podem não estar explícitas na imagem. Em suma, as notas proêmias têm a função de informar o observador sobre aquilo que não está aparente na linguagem visual, melhorando a compreensão. De acordo com o “Guia de Orientação aos Professores da Educação Básica”, “as notas proêmias não têm a função de antecipar informações e sim de prestar informações específicas, como: tema e propriedades da imagem” (Nascimento, 2017, p. 13).
ótica do observador e sem traduzir opiniões pessoais, sendo expostos os formatos e tamanhos, cores e tipo de objeto. Utilizou-se bibliografia sobre técnicas para produção de AD aplicada em museus, galerias ou mostras, bem como a Norma Brasileira de Acessibilidade na Comunicação: Audiodescrição — NBR 16452. |
(3) Avaliação, ajustes e correção do conteúdo. |
(4) Submissão dos roteiros escritos a avaliação do consultor, pesquisador especialista em cultura popular, professor Dr. Fernando Aguiar do PPGCULT/UFS, que analisou o conteúdo histórico de cada escultura, tendo como foco inserir e/ou corrigir termos para deixar o texto coerente com o lugar de fala envolvido nas narrativas, estão atreladas, em sua maioria, a questões religiosas de origem e descendência africana. |
(5) Avaliação, ajustes e correção do conteúdo. |
(6) Submissão dos roteiros escritos a avaliação do consultor, especialista em informação para pessoas cegas, o jornalista e músico Lucas Aribé, para validar o conteúdo da AD em relação à percepção e ao entendimento para as pessoas cegas. A participação desse consultor foi de suma importância para assegurar que o roteiro proposto estivesse compreensível. |
(7) Avaliação, ajustes e correção do conteúdo. |
(8) Gravação de uma audiodescrição piloto. Nesse passo, o próprio pesquisador cumpriu o papel de narrador com auxílio técnico da Rádio UFS. O intuito foi verificar o tempo, as pausas necessárias, a articulação da sintaxe verbal escrita para a fala, a inteligibilidade do conteúdo. Nessa primeira versão, compreendeu-se que além da narração, paisagens sonoras poderiam enriquecer a experiência do ouvinte. |
(9) Avaliação, ajustes e correção do conteúdo. |
(10) Gravação das nove audiodescrições. Com a colaboração financeira do Museu da Gente Sergipana, as ADs receberam a narração da atriz sergipana Diane Veloso e foram produzidas pela Rádio UFS. Foram dois dias de gravação e cerca de dez dias de edição e finalização. Também foi elaborado um catálogo digital contendo as nove audiodescrições acessíveis via link (figura 3). |
(11) Implementação das audiodescrições no Largo da Gente Sergipana, no dia 24 de outubro de 2022, data comemorativa do Dia da Sergipanidade. No largo, já existiam nove totens contendo uma pintura do artista visual sergipano Tittiliano e o nome em Braille da manifestação cultural representada na escultura. Foram aplicados nos totens QR codes que dão acesso às ADs hospedadas em uma plataforma de streaming, para que o visitante possa acessá-las sem precisar fazer download. |
Fonte: Conceição (2022).
Comumente, a AD é um recurso elaborado com base na descrição direta daquilo que se vê. Entretanto, desta maneira, a descrição pode se tornar uma experiência abstrata para uma pessoa cega, especialmente quando também falta uma experiência tátil com o objeto como forma de acesso à informação. Por isso, acredita-se que a proposta de AD aqui desenvolvida é inovadora, pois, além da possibilidade de visualização física da escultura, proporciona ao visitante, cego ou não, informações e apontamentos relevantes acerca da cultura local. Assim sendo, como forma de trazer uma experiência potencializada para os visitantes, foi proposta uma AD que ultrapassa a perspectiva colonial das literaturas especializadas em cultura e dos educadores culturais, ao considerar a forma como os mantenedores da cultura gostariam que a sociedade fosse informada sobre as esculturas, reconhecendo e valorizando as experiências dos mestres, elencados como participantes colaboradores da pesquisa.
A proposta aqui descrita foi apresentada ao Museu da Gente Sergipana como forma de ampliar o repertório informacional e as capacidades de experiência do usuário com a informação, a fim de fomentar a inclusão e a acessibilidade para os visitantes.
Sob uma perspectiva social, é possível atestar que o Largo da Gente Sergipana se tornou um espaço informal de incentivo à educação cultural na medida em que as esculturas do local foram submetidas ao processo de audiodescrição. Nesse sentido, advoga-se pela AD como alternativa para gerar e ampliar o acesso à educação cultural das pessoas, prioritariamente aquelas com deficiência visual, estendendo-se aos idosos, aos adolescentes e às crianças com baixa visão, bem como a turistas, videntes de um modo geral, pessoas com transtornos do desenvolvimento intelectual ou deficiência múltipla, pessoas não alfabetizadas e com quaisquer outras especificidades que possam ser beneficiadas por esse tipo de tecnologia assistiva.
Considera-se que o ganho para a sociedade sergipana é imensurável, pois a proposta metodológica para a construção da AD tem o potencial de transcender as questões de inclusão e acessibilidade, pois, ao não se ater somente a um modo usual de descrição, adquire o valor de um documento sonoro de guarda permanente que conta a história de uma cultura com apontamentos da sua tradição obtidos pelas falas dos mestres. Além da valorização das narrativas das pessoas que estão ali representadas, foram acrescentadas batidas, cânticos e sons próprios de cada manifestação cultural nos roteiros, que ficaram muito mais interessantes e ricos em detalhes.
Por fim, para a academia, fica o conhecimento de que a interlocução da Ciência da Informação com a Museologia e a Arquivologia gera documento de interpretação de patrimônio, exercendo papel importante para a manutenção e a preservação da história dos objetos e artefatos museológicos.
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CONCEIÇÃO, Alexandre da Silva. A audiodescrição das esculturas do Largo da Gente Sergipana: um recurso de inclusão e acessibilidade às representações das manifestações culturais. 2022. Orientação: Germana G. de Araujo. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) – Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão-SE.
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