Chamada de artigos Dossiê Temático: Geopolítica das Comunicações
Chamada de artigos Dossiê Temático: Geopolítica das Comunicações
A Revista Eptic, produzida pelo Observatório de Economia e Comunicação (OBSCOM) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), juntamente com o Grupo de Trabalho sobre Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura da CLACSO, informa que está aberta chamada para o Dossiê Temático da edição Maio-Agosto 2021, com o título “Geopolítica das Comunicações", que será coordenado por Alina Fernández (Centro de Estudios Avanzados, Universidad Nacional de Córdoba - Argentina), Alvaro Terán (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales - Ecuador), Florencia Guzmán (Centro de Estudios Avanzados, Universidad Nacional de Córdoba – Argentina) e Helena Martins (Universidade Federal do Ceará-Brasil). Os trabalhos devem ser enviados até 30 de abril de 2021. A revista também recebe artigos em fluxo permanente para a seção “Artigos e Ensaios”.
O tema escolhido é estrategicamente relevante, na medida em que a geopolítica das comunicações desenha um mapa do poder que ultrapassa o tradicionalmente atribuído aos Estados-nação, e se expande com novas lógicas de governança e formas de intercâmbio em múltiplas frentes, incluindo economia, regulações, trabalho e intercâmbios simbólicos.
No capitalismo atual, que tem recibido, entre outras, a designação de capitalismo de plataforma (Srnicek, 2018), as disputas geopolíticas são travadas sobre a tecnologia, as suas infraestruturas e os dados. Estas lutas recriam as polêmicas em torno do poder, autonomia, soberania, papel do Estado, democracia, liberdade e cooperação internacional.
De um ponto de vista mais geral, trata-se de uma mudança sistêmica, que Bolaño, por sua vez, conceitua como Terceira Revolução Industrial. Além das questões estritas do desenvolvimento tecnológico, toma como elemento central a incorporação do elemento subjetivo na produção do capital e a intelectualização geral dos processos de trabalho na indústria e no setor de serviços. A informação torna-se elemento central da nova dinâmica do capital. Evidenciam isso a codificação dos conhecimentos por tecnologias computacionais e a ampliação da mercantilização de setores como a cultura, colaborando para a valorização de uma subjetividade vinculada ao consumo.
As Indústrias Culturais ocupam, há décadas, um lugar central na reorganização da economia mundial, como “produtoras e distribuidoras de mercadorias com conteúdos simbólicos, concebidas por um trabalho criativo, organizadas por um capital que se valoriza e destinadas finalmente aos mercados de consumo com uma função de reprodução ideológica e social”1 (ZALLO, 1988, p. 26).
O fenômeno é expresso nos elevados níveis de participação destas indústrias no PIB, tanto dos países desenvolvidos como das economias emergentes; no crescimento exponencial das empresas e empregos no setor; na concentração da propriedade e na importante incidência da cesta de produtos de infocomunicação nas economias familiares e pessoais nos diversos sectores da sociedade.
A partir das transformações na cadeia de valor da produção cultural, produzidas primeiro pela digitalização e depois pela massificação da Internet, surgem novas lógicas num espaço onde algumas das principais disputas sobre a geopolítica da palavra, as infraestruturas e a divisão internacional do trabalho estão hoje a ser travadas. Isto acontece num contexto em que um punhado de empresas gigantes colonizam a Internet e criam as condições, aceleradas pela pandemia da COVID-19, para transformar a rede em um instrumento de controlo social (NISSENBAUM, 2011).
Questionarmo-nos sobre a renovação das formas de poder permite-nos destacar que “o que está em jogo, de forma subjacente, nas mudanças que são produzidas atualmente nos modos de construção da hegemonia”2 (MATTELART, 2006, p. 9). Neste contexto, surgem numerosas denúncias de um novo colonialismo, denominado imperialismo tecnológico por Zuazo (2018), que ameaça consolidar e aprofundar as desigualdades já existentes.
Por essa razão, é fundamental repensar o papel das plataformas na reorganização do próprio capitalismo, as disputas entre corporações e o papel dos Estados na regulação para a garantia dos direitos e interesses sociais, diferentes dos do mercado.
Neste sentido, “as leis antimonopólio que funcionavam com os velhos meios nem sempre se aplicam da mesma forma à mídia conectada: no passado, havia regulação para que empresas não monopolizassem os mercados; hoje, o nível de interoperabilidade das plataformas merece uma investigação mais aprofundada por parte dos legisladores neste momento em que diferentes definições de integração vertical aparecem”3 (VAN DIJCK, 2019, p. 271).
Esta edição da Revista Eptic procura, assim, por meio de seu Dossiê Temático, promover perguntas e análises desde a Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura sobre os processos de acumulação de capital, assim como de construção do poder hegemônico nos cenários estatais, regionais e global, além de questões sobre desigualdade, acesso, pluralismo e democracia.
Esperam-se contribuições em:
-Transformações nos sistemas nacionais de comunicação, culturais e econômicos a partir das mudanças globais no capitalismo;
-Relações entre imperialismo tecnológico e desigualdades (territorial, de gênero, raça, acesso à informação, etc.);
-Os atores periféricos da indústria da infocomunicacional (cooperativa, comunitária, popular ou alternativa) e a disputa hegemônica pelo poder em cenários regionais e globais;
-Novas relações entre estados, sistemas de comunicação social e grandes plataformas digitais;
-Políticas nacionais e regionais de comunicação: situação atual e principais desafios;
- O direito à comunicação e as exigências dos cidadãos no cenário da infocomunicação global.
Referências bibliográficas
BOLAÑO, C. R. S. Indústria cultural, informação e capitalismo. São Paulo: Hucitec, 2000
MATTELART, A. Sociedad del conocimiento, sociedad de la información, sociedad de control. Publicada en el número 64 de la revista Cultures & Conflits, París, 2006, p. 165-183. Trad.: Antonia García Castro y Luisa Castro Nilo.
NISSENBAUM, H. Privacidad amenazada. Tecnología, política y la integridad de la vida social. Cidade do México: Océano, 2011.
SRNICEK, N. Capitalismo de Plataformas. Buenos Aires: Caja Negra, 2018.
VAN DIJCK, J. La cultura de la conectividad: Una historia crítica de las redes sociales 1era ed. reimpr. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2019.
ZALLO, R. Economía de la comunicación y la cultura. Madri: Akal, 1988.
ZUAZO, N. Los dueños de internet. Buenos Aires: Debate, 2018.
1Tradução própria do original em espanhol: “productoras y distribuidoras de mercancías con contenidos simbólicos, concebidas por un trabajo creativo, organizadas por un capital que se valoriza y destinadas finalmente a los mercados de consumo con una función de reproducción ideológica y social”.
2Tradução própria da versão em espanhol: “lo que está en juego, de manera subyacente, en los cambios que se producen actualmente en los modos de construcción de la hegemonía”.
3Tradução própria da versão em espanhol: “ las leyes antimonopolio que funcionaban con los viejos medios no siempre se aplican de la misma forma a los medios conectivos: antiguamente se controlaba que las empresas no monopolizaran mercados; en cambio, el nivel de las plataformas interoperantes merece mayor indagación por parte de los legisladores en este momento en que hacen su aparición distintas definiciones de integración vertical”.