Pensando a epidemia de febre amarela (1850) à luz de uma pequena querela
debates sobre a origem da moléstia e o tráfico transatlântico
Palavras-chave:
Epidemia, febre amarela, tráfico negreiroResumo
Pretendeu-se, neste texto, tecer alguns apontamentos sobre a relação entre a epidemia de febre amarela de 1849-1850 com o tráfico negreiro de escravizados estabelecida por alguns esculápios, quando do grassamento da moléstia pelas terras do Império do Brasil. Para isso, valer-nos-emos da análise de um caso, tomando certa situação que teve lugar em Sessão da Academia Imperial de Medicina, no Rio de Janeiro, em agosto de 1850, na qual o cirurgião Jacintho Rodrigues Pereira Reys reclama aos seus colegas que a Commisão Central de Saúde Pública não havia incorporado suas ideias sobre a influência do tráfico a produção da febre reinante.
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