SCHOPENHAUER E A PROVA ANALÓGICA DE QUE A VONTADE É A COISA EM SI
uma leitura da § 19 de O mundo como vontade e como representação do ponto de vista da retórica aristotélica
DOI:
https://doi.org/10.52052/issn.2176-5960.pro.v13i35.14793Resumo
Este artigo propõe uma leitura da § 19 de O mundo como vontade e como representação do ponto de vista da retórica aristotélica. Neste referido parágrafo, Schopenhauer propõe uma analogia entre o corpo humano e as demais coisas que compõem a natureza, a fim de especificar qual é a essência desta ou, em outros termos, o que é a coisa em si. Como alternativa às propostas interpretativas dessa manobra, que tomam a analogia, por um lado, como uma “prova” nos termos da lógica formal ou, por outro, como um instrumento de acesso ao cerne da natureza, nós apresentamos a seguinte hipótese: nessa § 19 Schopenhauer prepara um “argumento analógico retórico”, mediante o qual concluiria que “a Vontade é a coisa em si”, sendo essa conclusão verdadeira, ainda que não necessária do ponto de vista da lógica clássica. Isso seria possível, de acordo com o método dialético de Aristóteles, graças à comunicação entre a “verdade” e a “verossimilhança”, viabilizada pelo uso de “lugares comuns” argumentativos, extraídos de seu pensamento metafísico e que são também, de acordo com o sentido que desejamos explorar aqui, aplicados à sua arte retórica. Assim, recorreremos à análise não apenas do texto em que Schopenhauer formula a analogia, mas de outros escritos seus que guardam relação direta com esse problema; e também consideraremos aqueles em que Aristóteles expõe sua teoria da arte retórica, com ênfase para a Retórica, e ainda partes do Tratado da argumentação: a nova retórica, de Perelman e Olbrechts-Tyteca, na medida em que estes reformulam e, ao mesmo tempo, refletem praticamente as mesmas preocupações daquela obra aristotélica.