SOBRE O PAPEL DAS IDEIAS DOS SENTIDOS NA PROVA CARTESIANA DA EXISTÊNCIA DO MUNDO EXTERNO MATERIAL
DOI:
https://doi.org/10.52052/issn.2176-5960.pro.v14i39.16431Resumo
Descartes faz alusão, no início da prova da existência do mundo externo material, à consciência de uma passividade que é dada pela involuntariedade das ideias dos sentidos. A experiência dessa passividade permite que a questão acerca de qual é a causa ativa que a explica seja colocada, o que conduz, ao final dos passos do raciocínio, ao conhecimento da existência dos corpos como as causas das ideias dos sentidos. O objetivo desse artigo é examinar o papel que as ideias dos sentidos desempenham na referida prova para responder se o que conta como premissa para a prova é apenas a passividade das ideias dos sentidos, ou se o conteúdo representativo dessas ideias também está envolvido na prova. A questão que atravessa o objetivo de investigar o papel das ideias dos sentidos na prova da existência do mundo externo diz respeito àquilo que essas ideias, enquanto ponto de partida para a prova, permitem concluir acerca dos corpos, a saber, 1) que eles existem – simplesmente; ou 2) não apenas que eles existem, mas também algo de mais específico sobre sua natureza – de modo que, nesse caso, as ideias dos sentidos possuiriam (de alguma forma) validade objetiva. Nossa hipótese consiste em que as ideias dos sentidos, na prova da existência do mundo material, não se reduzem a meros índices da existência dos corpos à medida que seu conteúdo representativo desempenha um papel importante na conclusão da prova, que é o de inclinar o sujeito a crer que a causa das ideias dos sentidos são os corpos. E, dessa forma, as ideias dos sentidos possuiriam algum grau de validade objetiva e a partir delas poderíamos extrair algum conhecimento específico sobre os corpos.