LIBERDADE PRÁTICA E AUTONOMIA DA VONTADE: KANT, ALLISON E A IMPUTABILIDADE DO MAL
Resumo
O tema deste artigo é o problema da imputabilidade do mal moral na filosofia prática de Kant. Nele, pretendo analisar, interpretar e criticar o encaminhamento proposto por Henry Allison para esse problema em seu livro de 1990, Kant’s Theory of Freedom, tornado referência para os estudiosos da filosofia prática de Kant. O motivo dessa escolha é que, sendo um dos mais influentes intérpretes contemporâneos de Kant, Allison contribuiu fortemente para a consolidação, nas últimas três décadas, de uma tácita dispensa do enfrentamento de uma dificuldade do kantismo que, de início, ameaça apenas o sentido e a imputabilidade do mal moral, mas que, ao fim e ao cabo, desafia mais profundamente a coerência da tese indiscutivelmente kantiana de uma moralidade, para o humano, meramente imperativa. Minha análise concentrar-se-á na seção II (“Autonomia como uma Propriedade da Vontade”) do capítulo 5 (“Ação Racional e Autonomia”) da obra do comentador, que constrói uma explicação da livre escolha pelo mal moral a partir de um debate conceitual sobre as noções kantianas de liberdade prática e autonomia da vontade.