Laura Cereta: em defesa de uma "República das Mulheres"
DOI:
https://doi.org/10.52052/issn.2176-5960.pro.v16i46.22289Resumo
Seriam as mulheres notáveis e intelectualmente talentosas exceções à regra? A esta pergunta, que reflete com precisão uma concepção do feminino reiteradamente apresentada e defendida por filósofos e escritores filiados às mais diversas tradições intelectuais, Laura Cereta, uma humanista italiana do século XV, busca responder em uma das cartas mais agudas de seu conjunto de ensaios epistolares. Ao longo das linhas endereçadas a um correspondente que recebe, ironicamente, o nome de Bibolo Semproni, Cereta desafia e busca refutar, com base em exemplos tomados da história e da mitologia, a ideia segundo a qual as mulheres seriam, por natureza, moral e intelectualmente inferiores. Trata-se, neste artigo, de seguir de perto o argumento desenvolvido pela autora na carta em questão, destacando, em especial, sua defesa do direito das mulheres à educação e seu recurso à imagem de uma espécie de árvore genealógica, uma longa e nobre linhagem de mulheres célebres – uma generositas –, que apontaria para a existência de uma república das mulheres [respublica mulierum] documentada e constituída historicamente.