Sócrates ‘retórico’ entre o público e o privado: contradição ou ironia no Fedro, de Platão?
DOI:
https://doi.org/10.52052/issn.2176-5960.pro.v10i22.5436Resumo
Conceber um elogio à retórica na obra de Platão, notoriamente conhecido pela sua crítica aos sofistas e aos retóricos é, no mínimo, desconcertante. Mais que isso, suscita questões que desafiam o leitor a novas interpretações. Isso é o que parece ocorrer no Fedro. Diálogo considerado de maturidade, o Fedro põe em interlocução Sócrates e o personagem homônimo que se identifica como discípulo de Lísias. Em toda a primeira parte do diálogo, não somente a retórica e o estilo da peça lida por Fedro é enaltecido e elogiado, mas também avaliado criticamente, como também o jovem personagem consegue façanha inusitada: fazer Sócrates, ele próprio, proferir dois longos discursos que são variações do mesmo tema – o amor. A proposta de leitura que oferecemos para essa passagem, que inclui o prólogo e o entorno dos três discursos apresentados no Fedro consiste em observar que os discursos retóricos e os comentários críticos e elogiosos acerca deles proferidos só se revelam possíveis fora de uma audiência pública, mas em âmbito privado, em localidade erma fora dos muros de Atenas, um cenário atípico para uma prática atípica que Platão atribui aos seus personagens.