TOMO. N. 41 JUL./DEZ. | 2022

Das hierarquias internas às lutas por
reconhecimento num grupo de travestis

amazônico

Osvaldo da Silva Vasconcelos*1

Resumo:

Este artigo, resultado de dissertação de mestrado, propõe-se a realizar
um estudo sobre a trajetória de um grupo de travestis que se prostitui
no bairro do Reduto, na cidade de Belém, PA, e que luta, internamen-
te, por reconhecimento identitário. As categorias criadas pelo grupo, de modo a classificar quem pode ou não ser travesti, são as respon-sáveis por conflitos, que vão do simbólico ao físico. Esse exercício é o
de poder ser quem se pretende, sem necessitar de validação. O méto-do etnográfico e a observação participante foram utilizados de modo
a problematizar o cotidiano das interlocutoras, bem como inserir o
pesquisador naquele ambiente. As conclusões indicam que os embates
surgidos no interior do grupo são resultado direto de um não reconhe-
cimento identitário interno, que por sua vez é consequência de uma recusa social mais ampla, além da exclusão de direitos territoriais para
a prática da prostituição.
Palavras-chave: Travestis. Reconhecimento. Hierarquias. Bairro do
Reduto. Silicone.

* Geógrafo. Mestre em Comunicação, Linguagens e Cultura. Doutor em História Social
da Amazônia (UFPA). E-mail: osvaldosvasconcelos@gmail.com. https://orcid.org/0000-
0003-0832-9348

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From internal hierarchies to struggles for recognition
in a group of amazonian travestis

Abstract:This paper brings the results of my master's dissertation about the life trajectory of a group of travestis who prostitute themselves in the nei-ghborhood of Reduto, Belém, Brazil, and whose members fight inter-nally for identity recognition. The categories created by the group, in order to classify who may or may not be travesti, are responsible for symbolical to physical conflicts. The goal is to be whoever they want without the need of a social validation. The ethnographic method and participant observation were used to problematize the daily lives of the interlocutors, as well as insert the researcher in that social context. The findings indicate that the clashes within the group result directly from a lack of internal identity recognition, which, in turn, is the result of a broader social refusal such as the exclusion of territorial rights for
prostitution.
Keywords: Travestis. Recognition. Hierarchies. Neighborhood of Re-
duto. Silicone.

De las jerarquías internas a las luchas por el
reconocimiento en un grupo de travestis amazónicos

Resumen:Este trabajo, resultado de una tesis de maestría, propone realizar un estudio sobre la trayectoria de un grupo de travestis que se desempeña como prostitutas en el barrio de Reduto, en la ciudad de Belém, PA, y que lucha, internamente, por el reconocimiento de identidad. Las cate-gorías creadas por el grupo, con el fin de clasificar quién puede ser o no travesti, son las responsables de tales conflictos, que van desde lo simbólico hasta lo físico. Ese ejercicio es para poder ser quien quieres ser, sin necesidad de validación. Se utilizó el método etnográfico y la
observación participante para problematizar la vida cotidiana de los interlocutores, así como para insertar al investigador en ese entorno.

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Comi o pão que o diabo amassou pra ter esse corpo aqui, tá vendo? Fui humilhada, passei fome, juntei cada moeda pra ter esse corpo aqui e agora vem uma gayzinha, usando pe-
ruca e enchimento pra ter peito e dizer na minha cara que
é travesti? Não, não aceito. Ela quer ser travesti? Primeiro
coloca silicone e depois volta aqui comigo. Sabe o que ela
é? Viadinho. Travesti sou eu, não ela. Eu sou uma Barroca, meu amor, exijo respeito. (Maria de Médici, 2017) [grifos meus].

A frase que abre este trabalho, de uma interlocutora desta pes-quisa, destaca, entre outras coisas, o conflito existente entre
integrantes de um grupo de travestis – que se prostitui num
bairro no coração da Amazônia –, muitas vezes traduzido em violência física, como forma de manter a coesão e a manuten-ção da ordem por elas preconizadas. Maria de Médici afirma
ser Barroca, uma nomenclatura utilizada por algumas inte-grantes do grupo com significado ambivalente, pois, dependen-do de quem a recebe ou a evoca, pode ser um ato de prestígio
ou o seu oposto. As nomenclaturas, repletas de simbolismos, notadamente corporais, trazem consigo a “performatividade” destacada por Butler (2003) como forma de solidificar uma
identidade que tem no corpo sua principal razão, pois, antes
e depois do uso de silicone, independentemente do tipo uti-
lizado, as travestis do bairro do Reduto lançam mão de per-formances corporais para fincar a identidade, mesmo que não
seja legitimada pelo grupo como um todo.

Las conclusiones indican que los enfrentamientos que surgieron al in-terior del grupo son resultado directo de una falta de reconocimiento
de la identidad interna, que a su vez es consecuencia de un rechazo social más amplio, además de la exclusión de los derechos territoriales
para el ejercicio de la prostitución.
Palabras clave: Travestis. Reconocimiento. Jerarquías. Barrio de Re-
duto. Silicona.

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Circulando por determinadas esquinas de qualquer grande cida-de brasileira, preferencialmente no período noturno, é possível
perceber um aglomerado de pessoas que, a despeito do horror que causam em muitos, foram transformadas em personagens urbanos comuns. Em Belém, lócus da pesquisa, existem vários
pontos de prostituição de travestis, mas em nenhum outro elas
são tão marcadas quanto no bairro do Reduto, que também é vítima do imaginário local, pois nasceu exclusivamente para ser fabril, resultado da opulência econômica da borracha, experi-
mentou um ostracismo inicial quando o primeiro ciclo da Bel-
le Époque
se encerrou, voltou a ter um leve momento de glória, para afundar de vez na decadência que o caracteriza até os dias
atuais (Sarges, 2002).

Os dois, travestis e Reduto, mesclam-se como sinônimos, pois, em
virtude do caráter histórico do bairro, os processos de moderni-
zação urbana, apesar de cobiçá-lo, não podem alterá-lo, resultan-
do num amontoado de casarões antigos e galpões abandonados, poucos tendo novas funções comerciais, que, ao cair da noite, re-cebem as travestis que fazem do bairro o palco onde podem exer-cer o trabalho da prostituição e o exercício de suas identidades.
Neste trabalho, pretendo mostrar os resultados das análises sobre as hierarquias internas no grupo travesti, tendo como fio condutor os estudos do teórico alemão Honneth (2009), mais especificamen-te a abordagem que esse faz acerca da “luta por reconhecimento”, para tentar responder à seguinte pergunta feita por algumas tra-
vestis: por que é só com silicone que posso ser travesti?

A pesquisa de campo para esta pesquisa ocorreu1 ao longo de 11 meses corridos, em sua maior parte no período noturno, de abril
1 Passos sequenciais deste artigo foram desenvolvidos em pesquisa de doutorado de-fendida em 2022. Durante o doutorado, foi necessário recorrer às interlocutoras para
revisar determinados pontos das entrevistas anteriores, então algumas datas aparece-rão díspares.

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de 2015 a janeiro de 2018. O grupo de interlocutoras é formado por oito travestis principais e quatro interlocutoras auxiliares. As idades variam de 16 a 52 anos. Quero destacar, ainda, que os nomes das interlocutoras foram modificados para protegê-las, uma vez que há situações envol-vendo tráfico de drogas e de pessoas, além de relações delicadas envolvendo a polícia. Os pseudônimos que escolhi são formas
de homenageá-las, pois, baseado em comportamentos e caracte-rísticas que pude perceber na convivência quase que diária com elas, busquei nomes de grandes mulheres da história, fictícia ou não, para rebatizá-las. Não quero, de forma alguma, encarcerá-
-las em aspectos negativos que porventura tal homenagem pos-sa evidenciar, apenas reiterar a bravura e a força de tais mulhe-
res e associá-las às travestis que lutam cotidianamente por ruas
e esquinas.

1. A pirâmide social travesti A hierarquia interna existente no grupo de travestis do bair-ro do Reduto é simbolizada e demarcada pelo fator silicone. As categorias hierárquicas são, via de regra, fixas. No entanto, é possível que uma travesti permaneça em uma categoria es-pecífica bastante tempo, anos até. Mas, quando a travesti tem uma situação econômica favorável que a faça chegar ao silico-
ne, pode haver a mobilidade de uma categoria para outra, cujo objetivo é estar na melhor posição possível frente ao que o gru-po considera mais valorativo. As categorias são fixas quando
outorgadas e estabelecidas enquanto norma, porém móveis quando a travesti possui uma situação econômica que a faça chegar ao silicone. Especificamente no acesso a esse silicone, há uma bifurcação quanto ao prestígio que ele dará a ela. Há
dois tipos de silicones utilizados por travestis, de modo geral: o líquido e a prótese; o último sendo o grande sonho de consumo
delas.

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Nessa perspectiva, as hierarquias são criadas pelo grupo de travestis do Reduto levando em consideração três fatores: prin-cipalmente o silicone, depois, a questão etária e a situação fi-nanceira. Sinteticamente, no grupo pesquisado, há a “Viadinho”, a “Belíssima”, a “Europeia” e a “Barroca”. Explicitarei cada uma dessas categorias, bem como as três especificidades anterior-
mente elencadas, e depois as analisarei levando em considera-ção os conflitos inerentes à prática hierarquizante e os desdo-
bramentos das lutas por reconhecimento.As performances empreendidas pelas travestis do Reduto vão desde a modificação corporal, aqui entendida pela intervenção
do silicone, como também da indumentária, da maquiagem, do
cabelo, do movimento corporal mirando as nuances delicadas, a forma de olhar, sempre tendo o ideal feminino como arquéti-po, e caracterizado pela constante repetição, “performatividade” como elemento fundamental para a legitimidade da identidade desejada (Butler, 2003). Dessa forma, destaco a seguir as catego-rias existentes no grupo de travestis aqui analisado, ressaltando as “particularidades”, os “códigos de pertencimento” e os “graus de importância” de cada uma para o grupo como um todo.

1.1. A “Viadinho”

As travestis que iniciam carreira na prostituição no bairro do
Reduto, adolescentes2 ou não, são chamadas de “Viadinho”. Por
tal nomenclatura, o grupo entende ser toda aquela que não sus-
tenta a identidade travesti em tempo integral, ou seja, aquela que não se apresenta para a família, para os amigos, para a so-
ciedade de maneira geral, como travesti. Além disso, as travestis das outras categorias (Belíssima, Europeia e Barroca) destacam que reconhecer essas pessoas como “Viadinhos” é algo que foge
à lógica estabelecida por elas, pois as pleiteantes chamadas de

2 Chamarei as travestis dessa categoria de “adolescentes”, que é a faixa etária mais abun-
dante, mas há duas com 29 e 32 anos.

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“Viadinhos” não usam espécie alguma de silicone no corpo, fato imprescindível para que alguém seja aceita pelo grupo como
uma autêntica travesti.Destacamos o aspecto pejorativo que o nome “Viadinho” carre-ga, pois exemplifica as injúrias que a grande maioria dos homos-sexuais já enfrentou, e ainda enfrenta, na vida (Eribon, 2008). Os rebaixamentos morais que nomenclaturas pejorativas impin-gem ao indivíduo reverberam em quase toda a sua vida, mesmo que ele não saiba, ainda, o significado nocivo de tal uso (Eribon, 2008). Entretanto, Louro (2004) destaca que a criação e o uso de práticas coercitivas, aqui representados por termos vexatórios, são constantemente alimentados, tanto por quem ofende como por muitos ofendidos, caso da situação referente ao nome dado a essa categoria. O termo “Viadinho” já foi proferido a todas elas em algum momento da vida por pessoas que tentaram diminuí--las em virtude de um não alinhamento à norma heterossexual e, muitas delas, por sua vez, reproduzem o termo para rebaixar aquelas que não atendem às exigências do grupo no tocante aos
requisitos para poder ser reconhecida enquanto travesti. Outra característica destacada pelas veteranas em relação a
essa categoria diz respeito aos acessórios que são usados pelas adolescentes para “se passar por travesti”, como perucas, ma-quiagem e roupas femininas, somente durante o período em que
essas permanecem na prática da prostituição no bairro. Um co-
mentário depreciativo bastante comum que ouvi acerca desses
acessórios, por muitas travestis veteranas, diz respeito à qua-lidade inferior das roupas e dos cosméticos usados pelas ado-lescentes. Catarina, a Grande, travesti dessa categoria e auxiliar nesta pesquisa, confirma tal assertiva: “Elas dizem que nosso batom é “Pop Love3”, que a gente compra em catálogo. Quando
3 Elas me informaram que o batom “Pop Love” faz parte de uma série de produtos labiais lançada pela Avon que tem baixo custo quando comparada aos batons utilizados pelas veteranas, como os das marcas Mary Kay e O Boticário.

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elas xingam a gente, chamam de ‘bando de Avon e bando de Po-liéster’” (Catarina, a Grande, 2018). Independentemente da ori-
gem dos acessórios, as adolescentes lançam mão de tais produ-tos para alicerçar a feminilidade imaginada. Todos são levados
por elas em bolsas e/ou sacolas no momento em que saem de casa rumo ao bairro do Reduto, no período noturno. Chegando ao bairro, elas dirigem-se a lugares escuros e “montam-se”. O uso do verbo “montar”, ao contrário do aspecto semântico ori-
ginal, é conjugado pelas travestis para designar o processo de transformação pelo qual muitas passam. No tocante à categoria “Viadinho”, “montar-se” significa vestir-se com roupas femininas
e usar brincos, maquiagem e outros adereços. Para as demais categorias, montar-se significa realçar o feminino que já existe.
O termo é usualmente associado às drags queens e às drags kin-
gs
no processo de transformação (Berutti, 2003). Já os termos “montagem e desmontagem” são usados por Duque (2011) para referir-se às travestis adolescentes que praticam a prostituição. Nesse estudo, o autor não aponta a existência de conflitos entre travestis com e sem silicone, diferente do embate existente no
bairro do Reduto.As nuances do antes e depois da montagem, especificamente em
relação a essa categoria, pode ser entendida com a noção de “per-formance” de Butler (2003), uma vez que a autora destaca que as
identidades são caracterizadas por marcos desiguais, “padroniza-das e estereotipadas”. Aliado a isso, a autora compreende identi-
dade de gênero oriunda da cultura e alicerçada pela socialização, assemelhando-se ao “ser e estar no mundo” e que é constituída por relações performáticas que consideram características espa-
ciais, logo, considera as subjetividades e desemboca no que a au-tora chama de “aparência de substância” (Butler, 2003).
Na constituição da montagem/desmontagem dessas adolescen-tes, várias características são alteradas, como o jeito de andar, pois usam saltos altos, os gestos, em virtude das inúmeras biju-

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terias composta por braceletes, brincos compridos e anéis, além
da voz e da linguagem usada. É necessário destacar que ao sair
do lar, muitas delas levam consigo os acessórios que comporão a identidade sustentada no bairro, deixando em casa a identidade da “gay afeminada”.
Os sentimentos das adolescentes no tocante à importância de
cada uma para a constituição do grupo como um todo são apa-rentemente nulos, uma vez que em todas as falas delas há uma nítida preferência em não fazer parte dele. É perceptível, ainda, um desejo de romper com tais regras classificatórias intragrupo. No entanto, no momento em que uma adolescente faz a transfor-
mação corporal com o uso do silicone, sua mudança de categoria é
automática e os discursos, antes virulentos, tornam-se mais con-soantes com o novo momento, como poderá ser visto nas falas de “ex-Viadinhos” que atualmente compõem outras categorias. Sobre ser travesti, mas não ser aceita pelo grupo, afirma Caroli-ne de Mônaco:

O que é ser travesti?Aquelas ali [a entrevista foi realizada na parte do território que cabe às “Viadinhos”] não me consideram travesti, me
chamam de Viadinho, mas quer saber mesmo? Tô cagando e
andando pra opinião delas. Só me importo com a minha opi-nião e pronto. Sou travesti, gatinho. Sou travesti [grifo meu].
Por que elas não te consideram travesti?Por causa dessa frescura de silicone, acreditas? Eu não que-ro colocar silicone, não quero. E por causa disso sou infe-rior? Papo furado, gatinho. (Caroline de Mônaco, 2016 e 2019).
As adolescentes dessa categoria, como Caroline, além de Catarina, a Grande, que já é adulta, afirmam não querer usar silicone, pois

no caso do silicone industrial trata-se de uma ação praticamente irreversível. O relativo barateamento desse tipo de produto, por

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razões estritamente financeiras, é o mais utilizado por muitas representantes dessa categoria. Antunes (2013) afirma que o si-
licone industrial adere à musculatura e, além de ser raramente removível, pode acelerar o aparecimento de inúmeras doenças. Exatamente pela quase impossibilidade de retirá-lo do corpo, al-
gumas travestis optam por não usá-lo, enquanto outras juntam uma quantidade significativa de dinheiro e recorrem às clínicas
de cirurgia plástica para a aplicação das próteses, reconheci-damente seguras e reversíveis (Benedetti, 2005; Pelúcio, 2005, 2009; Antunes, 2013). Outras, mais “sortudas”, são agenciadas e têm as próteses pagas pela cafetina, que será restituída por meio do trabalho da prostituição, como foi verificado em vários casos na cidade de Belém (Castro; Almeida, 2008). Por conta desses malefícios, pela possibilidade de não ser so-
mente travesti e também por não ter coragem de contar sobre as práticas exercidas no bairro do Reduto para a família, Caroline de Mônaco não quer contato algum com silicone, industrial ou prótese. O que há por trás da recusa em não querer fazer uso de
tal produto é justamente o ponto de maior atrito entre as “Viadi-nhos” e as travestis veteranas, pois as últimas acusam as primei-ras de usar a identidade travesti como uma “modinha” e também
para tirar a oportunidade das veteranas de ganhar mais dinhei-ro, um entrave a mais diante da oferta de serviços das mais no-
vas. Pior ainda, sem silicone. Em virtude dessas acusações mútuas, as veteranas, detentoras do domínio do território, fazem um esforço considerável no in-tuito de dificultar a vida das “Viadinhos”, como, por exemplo, de-
legar a elas o espaço mais soturno, escuro e distante do bairro
para que os clientes não as procurem e também para que desis-tam tão logo percebam as intempéries (Vasconcelos; Cal; Mokar-zel, 2016). Em relação ao aspecto territorial, a violência travada
entre elas é caracterizada pela sutileza, pois quando uma traves-
ti veterana consegue embarcar no carro do cliente, rapidamente

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uma “Viadinho” vai ocupar aquele espaço, nem que seja por um
curto espaço de tempo e não necessariamente para conseguir algum cliente naquele lugar, mas para desafiar a autoridade da “proprietária”, alterando os nomes das placas que identificam as ruas, como pode ser percebido nas Figuras 1 e 2.
Figura 1 – Alteração da placa - Frontal Figura 2 – Alteração da placa - Lateral

Fonte: Vasconcelos; Cal; Mokarzel, 2016. Fonte: Vasconcelos; Cal; Mokarzel, 2016.
No lado esquerdo da Figura 1, há a frase “comeci a correr”, uma clara referência aos constantes avisos de umas para as outras so-
bre os perigos de ocupar o lugar de uma veterana. No lado direito da mesma figura e, mais amplo, na Figura 2, há um duplo xinga-mento (Vasconcelos; Cal; Mokarzel, 2016, p. 54). O primeiro faz referência à velhice, pois independentemente da identidade de gênero com a qual alguém se identifique, ser ridicularizado por
ser velho, numa sociedade que é permeada por bodybuilders4 e
simpatizantes da juventude eterna, é algo corriqueiro e utilizado com bastante frequência quando se quer rebaixar alguém com idade elevada (Góes; Villaça, 2014). O segundo xingamento diz respeito ao suposto valor que um
programa, de uma travesti Barroca, pode custar. No entanto,

4 Aqueles que fazem uso intensivo de anabolizantes aliado a intensas jornadas na mus-
culação.

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esse xingamento não é direcionado à travesti Barroca, mas às Europeias, pois as ruas representadas nas figuras – Rua 28 de Setembro com a Travessa Quintino Bocaiúva – per-
tencem àquelas que possuem silicone em prótese, portanto, área “nobre”.
Possuir um pedaço do território por causa de aspectos corpo-
rais é algo que invoca o sentimento de pertencimento, uma vez que quanto mais “quebrada na plástica” (Pelúcio, 2005) a tra-vesti for, mais próxima ao feminino ela será, além de ostentar um poder financeiro que é para poucas dentro do território. O padrão estético, nesse sentido, é o principal, mas não o único, catalisador de benefícios. Atuando em consonância, há o padrão etário instituído pelo grupo, que tem um período de vida relati-
vamente curto, uma vez que a travesti, ao ultrapassar a barreira
da categoria Barroca, adentra num universo permeado de nega-tivas, como escassez de clientes e de prestígio, dependendo do
rumo que deu à carreira de prostituta. Kathryn Woodward (2014), ao refletir sobre as diferenças que determinados grupos percebem ao se analisarem, afirma que a identidade, para existir, depende de algo que lhe é exterior, ou
seja, a negação do Outro. A isso, a autora chama de “identidade relacional”, que é marcada pela diferença entre indivíduos que negam a semelhança que possam ter (Woodward, 2014). Acerca da separação entre identidades, a autora sustenta que a diferen-ça é constituída pela “exclusão”. Desse modo, assemelhando tal
pensamento aos discursos que as travestis veteranas têm em re-
lação às adolescentes, quando as primeiras acusam as segundas de não serem travestis, pois são “gays” na maior parte do tempo, há a caracterização dessa exclusão. Ainda de acordo com Woodward (2014), as separações iden-titárias ocorrem por meio de símbolos, uma vez que há uma
associação direta entre as pessoas e aquilo que elas usam. Se
as veteranas não admitem que as adolescentes são travestis

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pela inexistência de alterações corporais via silicone, princi-palmente, tais diferenças são acentuadas, ainda, pela diferen-ciação dos acessórios utilizados entre a categoria “Viadinho” e as demais. Os xingamentos que Catarina, a Grande, afirmou
serem direcionados às adolescentes, sobre a discrepância na
qualidade dos acessórios usados por ambas, é nesse sentido, pois a suposta inferioridade dos produtos usados pelas ado-lescentes é uma forma das veteranas reforçarem ainda mais a diferença financeira entre elas e também deixarem claro quem é, de fato, travesti.

1.2. A Belíssima

Essa categoria traz muitas egressas da categoria das adolescentes, embora não seja uma regra. Belíssima é a pessoa que ultrapassou uma barreira, para o grupo, entre dois mundos. É aquela que deixou
de ser “travesti fake” (“Viadinho”) e transformou-se em “travesti de verdade”. Essa autenticação é dada pela maioria, pois a Belíssima fez uso do silicone, obrigatoriamente industrial, para garantir o di-reito não apenas de desfrutar uma parte melhorada do território,
mas também de ser aceita como travesti pelas demais. Há limites para uma Belíssima ser reconhecida. Embora ela não seja mais considerada “uma gay”, pois seu passado de “Viadinho” foi parcialmente esquecido, os meios que a levaram a usar esse tipo de silicone são sempre lembrados. Como já destacamos, esse tipo de silicone é mais acessível que seu similar em prótese e, por conta disso, é o mais utilizado, característica que aumenta, em números absolutos, a quantidade de travestis dessa catego-
ria quando comparadas às outras. Ter se transformado numa Belíssima também denuncia, de acor-
do com o pensamento de travestis da categoria Europeia, que aquela pessoa tem poucos recursos financeiros e que também não foi cortejada pelas aliciadoras para fazer programa no eixo Rio-São Paulo e Europa. “É uma bicha mirrada, corpo de erê [me-

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nino], não chama atenção das ‘donas da bola’ [aliciadoras]” (Inês de Castro, 2017). Embora essas afirmações sejam questionáveis, principalmente a última, pois a travesti pode ser aliciada e re-cusar, caso de inúmeras Belíssimas, o estigma criado existe e é motivo de inúmeros conflitos, tanto da categoria Europeia como da “Viadinho”, pois as primeiras, no intuito de reafirmar uma “nobreza” existente no território, e as segundas, de forma a se vingar dos ataques sofridos pelas egressas, lançam mão dessas
assertivas para diminuir as rivais.

Além disso, o que pude perceber em relação à virulência dos
discursos das adolescentes quanto às travestis veteranas é
que por maior que seja a mágoa de ter sido durante muito tempo agredida física e verbalmente, tudo é amenizado quan-do há a mudança de categoria, como, por exemplo, subir da categoria “Viadinho” para a Belíssima, como afirma Prince-sa Isabel: “Eu me bombei em novembro. Em outubro eu era
Viadinho, em novembro eu era travesti de verdade, uma Be-líssima. Eu passava pelo setor delas [adolescentes] e dizia ‘diretoria passando, viados’” [grifo meu]. Isabel, que mudou de categoria após ser “bombada”, rapidamente incorporou o discurso dominante e passou a reproduzir as mesmas ofensas das quais era vítima. Diferentemente do que ocorre com as adolescentes, as Belíssi-mas têm orgulho de fazer parte da categoria delas, mesmo que
o desejo de ser Europeia seja maior, pois agora ela “virou mu-lher”, não precisa mais ficar confinada nos longínquos lugares escuros próximos à zona portuária, escassos não somente de luz
e de clientes, mas, sobretudo, de visibilidade e reconhecimento perante as demais. Muito embora as benesses advindas da nova
posição não sejam as melhores quando comparadas às Euro-peias, certamente é superior às “Viadinhos”.
Sobre o silicone enquanto passaporte para mudança de catego-ria e os conflitos, afirma Carlota Joaquina:

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O que é ser travesti?
Ter silicone, colocar a cara na rua e ser tu mesmo.

Se não tiver silicone não é travesti, então?Isso mesmo. Se a gay coloca roupa de mulher pra grelhar
e quando amanhece ela usa roupa de boy, como pode ser travesti? Me diz. Ela é uma gay. Não aceito isso. Não aceito [grifos meus].
Já foste uma gay, então?Todas já foram. Já fui uma Viadinho, já gritei como essas gay contra o sistema. Eu sempre digo aqui que toda traves-ti já foi Viadinho e vai ser Barroca. A regra é essa. Agora, ela pode escolher ser uma Europeia ou uma Belíssima. Depen-de do bolso dela, né, boy? [grifos meus](Carlota Joaquina, 2017).

O que se apreende é que não há fidelidade entre a travesti e a categoria egressa, pois, como afirma Carlota, “toda travesti foi
Viadinho e vai ser Barroca [grifo meu]” e destaca a beligerância entre quem fica e quem sai. Ela afirma que foi “Viadinho” e que agora é uma Belíssima. Atualmente, assume o discurso da cate-goria atual, mas nem sempre foi assim. Novamente, a interlocu-tora reafirma o que as anteriores já disseram acerca do silicone
e da importância desse produto para ser aceita ou não perante
o grupo e também para se sentir realizada enquanto detentora da identidade travesti. Outro ponto destacado por Carlota diz
respeito ao tipo de silicone usado e de como tal escolha cria um marcador da diferença entre elas, fato que pautará as relações
de antes e depois do uso do produto no corpo.

1.3. A Europeia

No bairro do Reduto, ser uma Europeia é o sonho da maioria das “Viadinhos” e das Belíssimas, pois o uso do silicone em prótese é o marcador da diferença entre elas. Aliado a isso, a travesti dessa categoria desfruta dos melhores lugares no ter-
ritório, e, consequentemente, tem maior visibilidade perante

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os clientes, uma vez que faz o trottoir5 próximo aos bares e às
boates do bairro. Outra diferença importante, dessa vez entre Belíssima e Eu-
ropeia, diz respeito ao uso de hormônios, pois a primeira
combina esses produtos com o silicone industrial objetivando formas corporais mais arredondadas. A Europeia pouco uso faz desses produtos, pois alcança, normalmente, os mesmos resultados com intervenções cirúrgicas e as próteses. O re-sultado prático desta diferença está no número de clientes
conseguidos.

As travestis do Reduto alegam, de modo geral, que muitos clientes as procuram para ser passivo na relação sexual, cons-tatação já observada nos trabalhos de Benedetti (2005), Pelú-cio (2009) e Antunes (2013), por exemplo. Por causa disso, a Europeia tem vantagem sobre a Belíssima, pois essa fica bas-tante impossibilitada de fazer o papel de “ativa” em virtude das consequências dos hormônios sobre sua libido, fato que influencia diretamente a ereção. A esse respeito, Princesa Isa-bel afirma: “As mariconas [clientes] querem dar o cu, mano, e como faz? Tomo tanto anticoncepcional que fico louca e o pau não fica duro. É escroto pra porra”. Nesse sentido, é compreen-sível, também, por que o silicone em prótese é tão valorizado
para o grupo, pois para além dos resultados estéticos, há os resultados financeiros. Sobre essas diferenças e também sobre uma visível supremacia da Europeia sobre todas as outras, afirma Lady Macbeth:

Existem diferenças entre as travestis?Tem. E muita. Tem travesti barroca, mal talhada, frouxa, apertada, larga, feia, gorda, tem de tudo.
5 Ato de circular pelas calçadas em busca de clientes.

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Mas tirando essas diferenças. Aqui no Reduto, por
exemplo, tem travesti que não fica aqui no teu ponto.
Como funciona?
Ah, mano, isso é merecimento. Olha pra mim. Pensa que vi-rei essa lacradora aqui do nada? Claro que não. Eu nunca fui
uma Viadinho. Quando eu comecei, nem foi aqui no Reduto.
Nem tinha isso aqui, mano. Eu batia ponto lá na Almirante. Lá não tem esse babado aqui, não. Era todo mundo junto. Bicha nova, velha, gorda, preta, magra, rica, pobre. Depois eu fiz uns contatos aí, sabe? Fui pra São Paulo e fiz meu cor-pinho todo. Meu ponto era lá na Praça da Sé, pertinho dos michê, cada coisa bonita. Só tu vendo, mano. Depois fiz no-vos contatos e fui grelhar lá em Barcelona. Vidinha escrota da porra. Europeu não lava o pau. Só queijo fedido. A gente ia batalhar e dentro da bolsa eu levava uma garrafinha de
água mineral porque colocar a boca logo de cara era missão. Comigo, não. Uma amiga levava lenço umedecido. Esfregava no pau do boy e creu! Eu não gostava. Chupar pau com gosto de perfume? Credo! Lavava com água mineral mesmo. Era babado [grifos meus].
Mas e as diferenças entre as travestis aqui no Reduto?
Quem inventou?
Mano, eu já cheguei aqui diva. Mas as veteranas falam que
era muita bicha junto e alguém resolveu colocar ordem no puteiro. Parece que foi uma bicha chamada Olga Benário, sei
lá. Parece que essa bicha era metida a escrota, cortar cara das outras. Dizem que ela fez a divisão. Colocou as pintosas pra um lado, as mal acabadas pro outro, as bafônicas pra outro e assim ficou.
O que são pintosas, mal acabadas e bafônicas?Pintosa é a gay que diz que é travesti. As viadinhas. Coita-das. Nem quero falar dessas aí. Tu já foste lá com elas? Já foste? Aposto o que tu quiseres que elas já falaram mal de nós, né? Tudo recalcada. Eu nem dou confiança, sabe? Sou
estressada, quero logo quebrar na porrada. Sou igual a Va-lesca Popozuda. Aqui é tiro, porrada e bomba [gargalhadas] [grifo meu].
E as mal acabadas e as bafônicas? Quem são?Então. As pintosas são aquelas frouxas ali. As mal acabadas [Belíssimas] são as pobres que não consegue “aqué” [di-

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nheiro] pra colocar prótese. Usam silicone líquido. Agora
me diz, mano, como é que uma bicha quer ser uma mulher poderosa usando isso? No escuro elas até ficam babado,
mas joga uma luz. Fica tudo torto. E o pau delas é tudo mole. Não levanta nem com o boy mais fechativo nuzinho na fren-te delas. Aqui elas chamam de Belíssima. Só nome mesmo. Tudo feia. E as bafônicas somos nós, as rainhas do close, as
mulheres
[grifos meus].
Então as pintosas são as “Viadinhos”, as mal acabadas
são as Belíssimas e as Bafônicas são as Europeias? É
isso? E as Barrocas?
Isso mesmo. As Barrocas são Barrocas mesmo. Em todo
lugar Barroca é Barroca. Toda travesti vai ser Barroca, não adianta. A diferença é que vai ter Barroca com “aqué” e Bar-roca sem “aqué”. Só isso.
O que diferencia uma da outra?
Silicone. É a senha. A Viadinho não tem silicone? Não é travesti.
É Viadinho. A mal acabada usa silicone líquido? É travesti, tá
tudo certo. É uma travesti escrota, uma mal acabada mesmo, mas é travesti, não quer ser boy. A bafônica foi pra cirurgia e co-
locou prótese? Essa é a rainha do puteiro. Travesti puro sangue. (Lady Macbeth, 2017).Constatação importante sobre as rivalidades existentes entre as Belíssimas e as Europeias é que raramente elas travam conflito físico por causa das diferenças estéticas, como afirmam diver-sas interlocutoras de ambas as categorias. O conflito, quando há, é por causa de dívidas e traições envolvendo algum namorado.

Ser reconhecida como travesti, independentemente do tipo de
silicone, é um elo importante entre essas duas categorias, har-monia que não ocorre com a categoria “Viadinho”. O grau de reconhecimento destacado por Lady é enfático e de-
nota uma superioridade dessa categoria sobre as demais, pois todas as travestis que entrevistei afirmam que ser Europeia é “merecimento”, como destacado na fala da interlocutora, qua-se um destino que a vida quis. Enfatizando tal discurso, Inês de Castro diz que: “Desde gayzinha que eu era linda, pernu-

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da, bunduda. Aí fica fácil ser cantada pelas ‘donas da bola’, né? A bicha [aliciadora] bateu o olho e se amarrou em mim” [grifo meu] (11/01/2016). Nesse sentido, quando a travesti é alçada
à categoria Europeia, é como um coroamento, um sonho que se realizou, daí resulta os benefícios que tais travestis apregoam e fazem questão não apenas de exercer, mas de manter. Um dado importante destacado por Lady Macbeth diz respeito à feminilidade, uma vez que a travesti que consegue se aproximar mais do ideal feminino por elas pensado, consegue explorar esse
status e também diminuir a importância daquela que ainda não logrou tal êxito. Essa característica é confirmada por Ana Bole-na, que vai além e destaca uma sutil diferença existente entre as
integrantes da categoria Europeia:

Tu, Ana, fazes parte das Europeias. Falando especifica-
mente do continente europeu, em qual país desse con-
tinente tu moraste?
Isso mesmo. Não fui pra Europa, mas sou uma Europeia. Pra essas bichas, tem prótese de silicone, é toda plastificada, é Eu-ropeia. Presta atenção, pra ser uma Europeia genuína, é o sili-
cone em prótese, nada de silicone de carro igual essas bichas lisas colocam no corpo delas. Credo, mano, só em imaginar aquela agulha gigantesca me furando eu já sinto vontade de gritar. Me plastifiquei em São Paulo, o lugar mais longe que já fui na vida. Nem foi preciso muita coisa, sabe, eu já nasci rabuda, pernuda, rosto fino. Turbinei meus peito e foi o lacre.
O que significa fazer parte do grupo das Europeias?É top, né? Chego no meu ponto e fico dando close de um
lado pro outro e rapidinho tem cliente. Sempre tem. Plas-tificada, né, meu bem, mais quem quer. Tenho pena é das
Viadinhos, sabe? Ficam lá naquela escuridão sem fim! Mas o que eu posso fazer? É a regra [grifo meu].(Ana Bolena, 2018).

Como destacado pela interlocutora, não ter ido à Europa é um mero detalhe, pois, novamente, o fator silicone – prótese – é

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quem validará sua entrada no grupo e ainda dará oportunidade de usufruir os benefícios. Fica evidente, ainda, nos dois relatos, o cuidado ao falar da categoria Barroca, pois é um destino que praticamente todas terão, além do fato, destacado na parte final da fala de Ana, de que a travesti que adentrar na categoria Barro-ca poderá anexar seu passado, o que provavelmente assegurará um lugar confortável no território, mesmo o último estágio, no Reduto, sendo uma espécie de “aposentadoria”.
1.4. A Barroca

Quando iniciei a pesquisa no bairro do Reduto no âmbito de meu
mestrado, logo aprendi que uma Barroca é alguém que desperta dois sentimentos nas travestis que ainda não chegaram a essa fase:
respeito e dó. Se uma travesti dessa categoria desperta respeito é
porque é considerada bem-sucedida, pois soube administrar a car-
reira com responsabilidade e conseguiu acumular bens materiais e influência para seguir na “batalha”, agora não mais se prostituindo, mas organizando o território, “cafetinando6” e, algumas, comercia-
lizando drogas. Quando a travesti desperta dó, maioria dos casos, é porque é considerada “uma errante”, não soube se organizar para o futuro, misturou a prostituição com a vida afetiva, apaixonando-se por clientes, sustentando namorados e viciando-se em drogas, fatos
que juntos estigmatizam essa travesti perante as demais, selando um destino insólito dentro do grupo. Diante dessa ambivalência, apresentarei, da categoria Barroca, esses dois extremos.Maria Antonieta é uma travesti Barroca bem-sucedida. Após ter
herdado o controle do território de Olga Benário, soube condu-zir, ao longo dos anos, sua influência:
6 Muitas travestis mais experientes, ou Barrocas, na linguagem no grupo, assumem o
papel de agenciadoras de travestis jovens para a prostituição noutros estados e até para a Europa, como já destacaram Castro e Almeida (2008). Em uma série de reportagens no jornal O Liberal, a jornalista acompanhou uma operação da Polícia Federal que deflagrou uma rede de tráfico humano, como sua gênese em Belém, que tinha na figura da “cafeti-na” o elo principal entre o Brasil e o exterior.

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Existem diferenças entre as travestis?Quando nós chegamos aqui no Reduto, a Olga era a líder e eu era auxiliar dela, a bicha era mais que eu, né? Hoje ela
nem seria mais Barroca, seria uma travesti dinossaura mes-mo [gargalhadas]. E era tudo muito bagunçado, sabe? E a bicha, antes de ser travesti, tinha sido soldado do exército,
consegues imaginar uma bicha imensa, a bicha era altona,
com peitos enormes e bunda grandona, sendo soldado do exército? Mas ela era soldado. E a bicha era mandona, esti-lo general mesmo. Aí a bicha resolveu colocar as bichas em ordem. Aí quando a gente chegou aqui, a Olga foi dividindo os espaços e ela foi percebendo que o lance era ter silicone, pois quando ela foi pra Europa o babado era assim lá. Quan-do eu tava na Itália, em 1993, era tudo separado mesmo. Mas lá as bichas todas eram siliconadas. Tudo luxo. E aí a
bicha resolveu que aqui ia ser do mesmo jeito. Então, as bi-chas, se quisessem ficar nos melhores pontos, precisavam juntar “aqué” e colocar silicone. (Maria Antonieta, 2018).Antonieta é a única líder Barroca no grupo e exatamente por conta desse detalhe, e também por sua fama de agressiva, conse-

gue se impor perante todas as outras. O respeito que nutrem em relação a ela pode, facilmente, ser confundido com medo, dada a sua influência. O fato de ser uma Barroca bem-sucedida faz com que Antonieta circule por todos os espaços, sempre verificando o bom andamento e a harmonia entre as demais. A exigência do silicone é algo que não foi criado por ela, mas que é mantido,
pois, como ela destaca, o uso desse produto no corpo proporcio-
na à travesti os melhores lugares no território.Outro ponto destacado na fala dela diz respeito a um detalhe so-
bre o nome Barroca7, pois, após os 35 anos de idade, tanto Be-líssima quanto Europeia adentram nessa categoria que, então,
7 Mônica Siqueira (2009) analisa a fase idosa das travestis e usa os dois termos, Barro-ca e idosa, como sinônimos. Antunes (2013), embora sustente a referência de 60 anos
preconizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para determinar a velhice do indivíduo, leva em consideração o que as interlocutoras entendem por ser idosa, mas não faz associação ao termo Barroca.

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pode ser entendida como uma fase de pré-aposentadoria, uma
vez que nada impede que a Barroca continue se prostituindo. Entretanto, conforme a idade vai se aproximando de um estágio avançado, a travesti torna-se oficialmente “idosa”, como Anto-
nieta sugere que Olga seria atualmente, posto que, cronologica-mente, essa teria mais de 60 anos de idade. No outro extremo da categoria Barroca temos Maria de Mé-
dici:

Podes me dizer como eras quando te sentias travesti lá
no passado?
Eu era lindíssima, um mulherão. Usava vestidos lindos, sa-
patos lindos, meus peitos eram durinhos, ainda são, dá uma
olhada, mas eu era jovem. Agora tô acabada. Tenho 49 anos e não tenho vergonha. Até digo meu nome. Getúlio. Tenho uns vizinhos que me chamam de Getúlio e eu respondo, não
tenho mais crise com isso.

Não te prostituis mais?Não. Tem muito tempo que deixei de fazer isso. Eu vou lá no Reduto [uma parte da entrevista foi na casa de Médici, no bairro da Cremação] de vez em quando. Sinto saudade das bichas. A vida de travesti velha é só solidão, boy. Eu cor-
to cabelo na minha casa agora. Faço bolos por encomenda
também e assim vou levando a vida. (Maria de Médici, 2019). Diante do exposto, inferimos que Antonieta e Médici represen-tam um paradoxo não somente dentro da categoria Barroca, mas

também da identidade travesti. O silicone, para o grupo, é um passaporte para uma validação identitária, já exposto por An-
tonieta, mas esse mesmo silicone perde a importância quando a travesti, além de entrar na fase Barroca, não logra êxito, como percebido na fala de Médici. É como se o fracasso em ter sucum-bido às ciladas da vida fosse acachapante para o até então invio-
lável silicone.

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A entrevista de Médici foi realizada em dois momentos. No primei-ro momento, no Reduto, ela estava “montada”, usando os acessó-rios que uma ex-Europeia normalmente usa, como brincos, saltos
altos, colares e um sobretudo vermelho que ocultava boa parte do vestido branco que ela trajava. Naquele momento, Maria de Médi-ci encarnava a travesti que durante anos foi. No segundo momen-to, em sua residência, ela era Getúlio, ao menos na indumentária. Trajava uma bermuda e uma camiseta que deixava transparecer
nas laterais uma espécie de bustiê que comprimia os seios. A complexidade representada por Médici é como um ciclo se
encerrando, caso ela tivesse seguido a ordem “Viadinho-Euro-peia-Barroca”, pois se a acusação recorrente às adolescentes é não sustentar a identidade travesti em tempo integral, Médici
retoma tal prática, agora sendo uma Barroca, pois é travesti en-quanto faz visitas às amigas de modo a aplacar a solidão que a acompanha na atual fase da vida e “machuda” quando está em
casa. É quase uma volta ao começo. Obviamente, tal percurso não é uma regra, mas não deixa de ser emblemático pensar em tal desfecho. Os destinos das duas travestis Barrocas bifurcam-se em horizon-tes discrepantes, pois enquanto Antonieta exerce sua influência positiva, aqui pensado sob o prisma profissional, circulando por todo o território e ganhando dinheiro com suas inúmeras ativi-dades oriundas dessa influência, Médici experimenta o avesso da colega, pois perdeu credibilidade perante as demais pelo seu vício em drogas, pelas incursões afetivas e, apesar de não mais se pros-tituir, continua frequentando o bairro, mas com acesso restrito,
pois uma Barroca malsucedida tem seu lugar reservado na Tra-vessa General Magalhães que, além de mal iluminada, é deserta.
Outra discrepância presente nessa categoria diz respeito à
identidade, pois Antonieta sustenta ser travesti, mesmo a ida-de avançando rumo à sua parte mais crepuscular. Já Médici, por outro lado, mostra-se confusa, pois mesmo verbalizando ser tra-

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vesti, não possui mais o mesmo rigor de sustentar essa identida-
de no corpo e no uso do nome, já aceitando que a chamem pelo
nome de batismo, masculino. Acerca desse aspecto destacado pela segunda e também de sua confusão em ora ser Getúlio, ora ser Médici, recorro a Hall (2005) quando esse fala sobre as mul-tiplicidades identitárias, afirmando que os indivíduos podem, livremente, praticar o “jogo das identidades”, sempre que isso lhe for conveniente. O autor sustenta que a identidade é mutável e que o sujeito faz uso dela de acordo com as interpelações que é obrigado a responder. Hall ainda preconiza que os indivíduos são dotados de “identidades singulares”, que são como senhas para interagir no mundo social e com o Outro (Hall, 2005, p. 19).
Essas novas identidades, sustenta o autor, por certo são contra-ditórias, pois a multiplicidade dos indivíduos é marcada pela
volatilidade, pelo problemático, por um ser que não consegue comportar o Eu numa caixa e ali permanecer por toda uma exis-tência (Hall, 2005). O autor ainda afirma ser “uma fantasia” con-
ceber um centro no qual o sujeito supostamente é estruturado,
mas, por outro lado, essa ausência de centro não desintegra o sujeito totalmente, uma vez que, no todo, o indivíduo é articulá-vel. Nesse sentido, o indivíduo, quando passa a ter consciência,
inicia um jogo ininterrupto de identidades, questionando, subs-
tituindo, desestruturando, vivendo, ou, em suas palavras:

Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é
automática, mas pode ser ganhada ou perdida. Ela se tornou
politizada. Esse processo é, às vezes, descrito como consti-tuindo uma mudança de uma política de identidade (de clas-se) para uma política de diferença (Hall, 2005, p. 21).

Incrementando o debate, há o termo “multidão”, usado por Pre-ciado (2011), que é uma versão radical das nomenclaturas que-
er
, também radicais, usadas por Butler (2003), por exemplo, pois o autor espanhol entende que os binarismos sufocam de

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tal modo as identidades em dicotomias infinitas que um termo pode ser capaz de incluí-los, como as “multidões sexuais”. Há, ainda, tendo a situação de Médici como exemplo, o uso do ter-mo “borramento”, proposto por Bauman (2010), para quando as identidades alcançam outras fronteiras e ganham mais unicida-de. Desse modo, Médici, por meio das incontáveis vicissitudes
que surgiram por conta do seu não sucesso na carreira de pros-
tituta e, por conseguinte, na categoria Barroca, encontrou nessa matização identitária uma forma de se manter coesa, a despeito das confusões sobre qual é o papel dela perante o grupo.
Considerações finais

Ser reconhecido, para qualquer pessoa, em quaisquer segmen-
tos da vida, é algo que, necessariamente, perpassará por emba-tes. Alguns demandarão menos esforços; outros, por seu turno, despenderão esforços mais significativos; outros, ainda, nos jo-garão no ringue do cotidiano e nos transformarão em lutadores incansáveis rumo ao reconhecimento social. Com as travestis, tais esforços adquirem matizes mais fortes, uma vez que as iden-tidades desse público vão se moldando a partir de uma manifes-ta homossexualidade, não raramente sufocada, seja por mem-bros familiares, amigos, pela sociedade de uma maneira mais ampla, seja pelo próprio indivíduo. Não saber o que se é quando se tem consciência da sua presença na vida é bem diferente dos conflitos identitários surgidos na mais tenra infância. Nessa perspectiva, procurei, neste artigo, refletir sobre um gru-
po do qual eu pouco sabia, a não ser que eram travestis aparen-temente homogêneas, mas que ao longo do trabalho foram se agigantando, aproximando-se da complexa avenca criada por Caio Fernando Abreu (2008) na qual eu também fui, felizmen-te, obrigado a abrir portas, janelas; derrubar paredes, arrancar
telhados, para que elas crescessem livremente e não num mero vaso. Deixei que suas complexidades e contradições percorres-

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sem as páginas deste artigo para que pudéssemos compreendê-
-las ao menos um pouco e não tivéssemos a mesma visão de
sempre toda vez que passássemos pelo bairro do Reduto e as víssemos flanando pelas ruas e becos escuros, tendo as paredes
calejadas dos antigos galpões e armazéns como testemunhas da
nossa maliciosa mania de padronizar aquilo que não compreen-
demos.

Um primeiro olhar sobre o material acumulado acerca das tra-
jetórias de vida das travestis, bem como dos embates por re-
conhecimento identitário no interior do grupo, me direcionou
para uma analogia com a teoria do reconhecimento de Honneth (2009). Dessa forma, priorizei deixar em relevo as falas das in-terlocutoras, e, a partir daí, alicerçar a análise. O destaque dado à interação social entre elas fez todo sentido quando intercalei tal enfoque com a intersubjetividade da luta
por reconhecimento, pois entre elas há as que lutam por um re-conhecimento imediato, caso das adolescentes que fazem parte do grupo conhecido como “Viadinho”, bem como daquelas que já foram reconhecidas pelas demais, como as Belíssimas, Europeias
e Barrocas, mas que continuam lutando por tal reconhecimento tanto interno como externo. Nesse sentido, entendo que a luta por
reconhecimento identitário perpassa, inicialmente, um caminho
individual, do sujeito para si, mas também uma luta por reconhe-
cimento coletivo, do grupo como um todo para a sociedade.

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Recebido em 12/01/2022 Aceito em 16/05/2022