A desconstrução dos sem-terra na mídia
impressa: os enquadramentos sobre o

MST em editoriais do jornal O Estado de
S. Paulo (2001-2004)

Paulo Henrique Dantas Pita*1

Resumo:Este artigo tem por finalidade analisar como o jornalismo opinativo de O Estado de S. Paulo, de São Paulo, construiu o Movimento dos Tra-balhadores Rurais Sem Terra (MST) em suas páginas editoriais entre os anos de 2001 e 2004. O recorte temporal remonta a um período de transição política entre os governos do PSDB e do PT. A pesquisa utiliza como corpus 67 editoriais da mídia impressa. A metodologia utilizada é a análise de enquadramentos. Os seguintes códigos foram categori-zados nas leituras dos editoriais: a negação da condição camponesa; criminalização das lideranças; argumentos legalistas e constitucionais; negativação do sujeito sem-terra; o MST não deveria existir; agronegó-cio e neoliberalismo; pressão política.
Palavras-chave: MST. Mídia impressa. O Estado de S. Paulo. Estrutura fundiária. Enquadramentos jornalísticos.

* Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Es-tadual de Campinas (UNICAMP). E-mail: paulohenrique.ba@gmail.com

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The deconstruction of the landless in print media:
framing the MST in newspaper editorials of O Estado

de S. Paulo (2001-2004)

Abstract:This paper analyses how the opinion journalism of the newspaper “O Estado de S. Paulo” portrayed the Landless Workers Movement (MST) between 2001 and 2004, when presidential elections replaced the long-standing right-wing PSDB political party by the left-wing political party (PT) The results were obtained by analyzing 67 edi-torials from the newspaper press media. The methodology used was framing analysis. The following codes were categorized in the edi-torial readings: the denial of the peasant condition; criminalization of leaders; legalistic and constitutional arguments; negation of the landless subject; the MST shouldn’t exist; agribusiness and neolibe-ralism; political pressure.
Keywords: MST. Printed media. O Estado de S. Paulo. Land structure. Journalistics frame.

La deconstrucción de los sin tierra en los medios
impresos: enmarcando el MST en los editoriales de los

periódicos de O Estado de S. Paulo (2001-2004)

Resumen:Esta investigación tiene como objetivo analizar cómo el periodis-mo opinativo en O Estado de S. Paulo construyó el Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST) en sus páginas editoriales entre 2001 y 2004. El marco temporal se remonta a un período de transición política entre los gobiernos del PSDB y del PT. La investigación utiliza 67 editoriales de los medios impresos como corpus, la metodología utilizada es el análisis de encuadres. Los si-guientes códigos fueron categorizados en las lecturas editoriales: la negación de la condición campesina; criminalización de líderes; argumentos legalistas y constitucionales; negativo del sujeto sin

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O papel impresso é mais forte que as metralhadoras Oswald de AndradeDesde os primórdios da colonização, é notório que a terra ocu-pa um papel central na história brasileira. A posse de grandes extensões rurais significa, ontem e hoje, poder político e econô-mico. São muitos os processos sociais envolvendo questões fun-diárias e agrárias: a escravidão, a imigração, a modernização do campo, a formação de elites políticas rurais, o surgimento de um grande contingente de pessoas sem acesso à terra. Muitas são as obras que investigam o papel do universo rural e da posse de grandes quantidades de terra e sua ligação com elites políticas que são parte de um poder pautado em mandos, clientelismo, violência e expropriação. O modelo fundiário alta-mente concentrador da propriedade no Brasil restringiu o aces-so à terra por muitas pessoas: “[...] há muitas famílias pobres, vagando de lugar em lugar, segundo o favor e capricho dos pro-prietários de terra” (Faoro, 2012, p. 463). O autor faz referência ao contexto de 1822 no Brasil, mas que transmite a realidade dos dias atuais.É diante do contexto de exclusão do acesso à terra e, consequentemente, da pobreza, fome e miséria, que muitos grupos surgiram no cenário brasileiro nos anos 1960 reivindicando cidadania, reforma agrária e inclusão. Alguns movimentos1 se

1 Salienta-se a importância de atores que formaram, política e ideologicamente, os mo-vimentos sociais, sendo cruciais para o surgimento deles, como o trabalho da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o ativismo social presente na Igreja Católica, via Teologia da Libertação.

tierra; el MST no debería existir; agronegocios y neoliberalismo; presión política.
Palabras clave: MST. Periódico. O Estado de S. Paulo. Estructura de la tierra. Marcos periodísticos.

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engajaram em lutar diretamente nas questões da terra no Brasil, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores Rural (CUT Rural), a Confede-ração Nacional Trabalhadores Agricultura (CONTAG) e as Ligas Camponesas. A luta pela terra não se restringe apenas ao campo geográfico ou aos palanques políticos, mas também está presente nos meios de comunicação de massa. Diante de atores políticos, movimen-tos sociais, conflitos e interesses econômicos, a grande mídia atua como um ator de grande relevância nas questões agrárias e fundiárias no Brasil (Vieira, 2019; Indursky, 2019). Os media cumprem um papel de agendamento de determinadas temáti-cas, assim como a defesa de determinadas posições políticas e ideológicas (Thompson, 2014).Este artigo analisa os enquadramentos construídos pelo jornal
O Estado de S. Paulo (OESP) – um dos veículos mais influentes e tradicionais da estrutura comunicacional brasileira –, sobre o movimento social mais importante na luta pela terra no Brasil: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para re-alizar a análise, o artigo investiga o jornalismo opinativo a partir do conteúdo dos editoriais sobre o MST entre os anos de 2001 até 2004 na mídia impressa.O recorte temporal marca a transição política do governo do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para a gestão do Partido dos Trabalhadores (PT). Trata-se de dois momen-tos históricos distintos: o primeiro remonta a uma oposição por parte do Estado ao MST (2001-2002) e o segundo traz uma es-perança e expectativa da realização da reforma agrária por parte do MST (2003-2004). É necessário considerar que entre 2003 e 2004, houve um grande aumento de editoriais sobre o MST em relação ao período de 2001 e 2002. Ambos os períodos possuem um impacto distinto na construção editorial da mídia sobre os sem-terra.

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Sobre o gênero jornalístico escolhido, Azevedo e Chaia (2010) informam que o jornalismo opinativo pressupõe expressar a opinião dos meios de comunicação por meio do discurso edito-rial, que se baseia em comentários, avaliações e pontos de vista sobre determinado tema. A função do jornalismo opinativo tam-bém é sinalizada por Brito (1994 apud Azevedo; Chaia, 2010) e trata-se de persuadir a opinião pública e as instituições por meio de aviso, palavra de ordem, de tal modo que as exposições de pontos de vista complementam a análise, a avaliação e a in-terpretação sobre os padrões do tema abordado. Este artigo está dividido em quatro seções: a primeira seção trata dos aspectos metodológicos e de execução da pesquisa, no qual abordamos a construção do corpus, metodologia utilizada e o processo de construção das categorias utilizadas. A segun-da traz um panorama geral que aborda as origens históricas e características gerais do MST e do O Estado de S. Paulo. Em seguida, a terceira contém o conteúdo empírico do artigo, esse tópico apresenta os principais argumentos de cada enquadra-mento analisado, para isso foi utilizado recortes dos editoriais da mídia impressa. Por fim, a quarta seção diz respeito a parte teórica da pesquisa, aqui os dados são retomados e analisados teoricamente.
1. Aspectos metodológicosO corpus da investigação inclui 67 editoriais em formato PDF, ex-traídos do acervo Estadão2, entre 2001 e 2004. Por se tratar de um estudo sobre enquadramentos jornalísticos, a metodologia escolhida foi a análise de enquadramentos, refinada e adaptada
por Matthes e Kohring (2008) e Vimeiro e Maia (2011). O emprego
da metáfora do enquadramento (framing), já conhecido por meio
dos trabalhos de Goffman (2012), permitiu que uma corrente de

2 O acervo do jornal pode ser consultado em: https://acervo.estadao.com.br.

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pesquisadores analisasse a construção de informações por parte
dos jornais (Breton; Proulx, 2013).
De acordo com Motta (2010), o frame é parte de um esforço jornalístico em construir as ocorrências do dia a dia. Nesse processo de enquadrar a realidade do mundo social, são utilizados temas, termos, assuntos e caracterizações que se tornam ferramentas que permitem que a mídia impressa construa o MST dentro das suas páginas. Matthes e Kohring (2008) explicam a análise de enquadramentos como uma metodologia que visa desmembrar o frame em ele-mentos para facilitar a investigação. O sentido, associações, va-lores, diagnósticos e soluções ofertados pela mídia precisam ser interpretados de maneira separada, permitindo uma investigação minuciosa e detalhada de cada enquadramento. Vimeiro e Maia (2011) constroem alternativas metodológicas para o campo e lan-çam a “análise indireta de enquadramentos”. As autoras ressaltam a necessidade de entender o contexto cultural e histórico no qual os enquadramentos foram inseridos. Os frames são textos, inclu-sos nos contextos sócio-históricos, que formam um entendimento de algum grupo social ou temática dentro do texto midiático.A literatura metodológica utilizada neste artigo pressupõe a ne-cessidade de agrupar os enquadramentos em códigos, visando a uma classificação minuciosa da totalidade das matérias de acordo com categorias previamente escolhidas pelo pesquisador. Bauer (2015) define a codificação como o agrupamento de passagens de texto comuns, dentro de códigos teóricos e empíricos, que per-mite uma interação entre pesquisador e objeto. Esse processo en-volve a identificação, o registro de fragmentos textuais e posterior comparação, na qual um conjunto de questões (códigos) norteia a forma como o pesquisador consegue suas respostas de pesquisa.Os códigos foram construídos a partir de uma amostra aleatória de cinco editoriais por ano. Por meio da leitura prévia dos 20 textos, foi

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possível chegar a certos padrões, argumentações e tendências. Os seguintes códigos foram aplicados na pesquisa: a negação da condi-ção camponesa; criminalização das lideranças; argumentos legalis-tas e constitucionais; negativação do sujeito sem-terra; o MST não deveria existir; agronegócio e neoliberalismo; e pressão política. Os códigos foram aplicados aos textos com auxílio do software ATLAS.ti.
3. O MST e o jornal O Estado de S. Paulo: uma breve
introdução A alta concentração fundiária, durante toda a história brasileira até os dias atuais, gerou impactos direto no campesinato e criou um enorme descompasso entre aqueles que possuem acesso à terra e outros grupos sociais excluídos da sua conquista (Zuin, 2018; Indursky, 2019; Vieira, 2019). Dentre as frações sociais oriundas da desigualdade rural, podemos citar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).Alguns acontecimentos estão diretamente ligados ao surgimen-to do MST, como a modernização conservadora, também cha-mada de Revolução Verde. Durante as décadas de 1960 e 1970, a agricultura familiar também sofreu uma redução nas esferas produtivas, fato que consagrou o consumo de alimentos indus-trializados e o modelo de agronegócio (Vieira, 2019).De acordo com Fernandes (2010), durante os anos de 1965 e 1985, o campo brasileiro passou por grandes transformações tecnológicas, de insumos, maquinários e fertilizantes. Essas mudanças foram financiadas pelo Estado brasileiro e voltadas à grande produção. Como consequência, essa modernização con-servou as bases de concentração fundiária, o que gerou mais de-sigualdades e expropriações no campo.O trabalho da Igreja Católica, via doutrina da Teologia da Liber-tação e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi crucial para o

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nascimento do MST. Segundo Zuin (2018), a CPT tinha como proposta unificar as articulações camponesas fragmentadas pelo Brasil. O domínio eletrônico3 do MST reconhece que o tra-balho católico é parte da própria história do movimento, que une ideologia cristã a traços como justiça social, direitos huma-nos e acesso à terra. Salienta-se a existência de movimentos sociais e iniciativas ante-riores ao movimento, como as Ligas Camponesas e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (MASTER). Dessa maneira, o MST acumulou experiência de lutas anteriores e se apresenta como um continuador de movimentos no campo de diversas ordens (Vieira, 2019; Martins, 1986). As organizações embrionárias do MST chegaram à conclusão de que, se não houvesse uma refor-ma agrária massiva e voltada aos interesses dos trabalhadores, a situação tenderia a piorar, aumentando a desigualdade no cam-po, a violência e a pobreza (Botelho Egas, 2008).O MST surgiu no dia 17 de abril de 1984, na cidade de Cascavel--PR, quando houve o 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Seus objetivos iniciais eram: “[...] lutar pela terra, lutar pela reforma agrária e lutar por mudanças sociais no país4”.Esse movimento social obteve êxito em permanecer atuante por três décadas e se posicionar frente ao Estado brasileiro, atraves-sando desde o mandato de José Sarney (1985-1990) até o atual governo do presidente Jair Bolsonaro (2019 até os dias atuais). Ao longo da sua história, a organização procurou combinar a tática de enfrentamento direto aos proprietários rurais, a par-tir das ocupações de terra, com a tarefa de enfrentamento aos diversos governos, por meio da negociação com o Estado pela desapropriação das áreas ocupadas (Botelho Egas, 2008).
3 Disponível em: https://mst.org.br/nossa-historia/70-82. Acesso em 11 jun. 2021.4 Disponível em: https://mst.org.br/nossa-historia/70-82. Acesso em 11 jun. 2021.

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O MST é o principal movimento social de luta pela terra no Brasil e, atualmente, a organização está consolidada geograficamente em praticamente todos os estados. A sua pauta histórica e cen-tral é a reforma agrária (Caldart, 2001), mas outras bandeiras5 também são levantadas pelos sem-terra, como: acesso à cultura, combate à violência sexista, democratização da comunicação, acesso à saúde pública, combate à desigualdade social, reforma política e soberania nacional.Ao longo dos seus 37 anos, o MST incluiu, em suas fileiras de militância, sujeitos e personagens até então marginalizados e excluídos da cena política, transformando atores invisíveis em protagonistas da luta por terra no Brasil (Caldart, 2004). Essa inclusão tornou a base do movimento ampla, diversa e hetero-gênea, conforme aponta Marques (2006, p. 190): “a grande he-terogeneidade da base social que o constitui é responsável pela existência de uma diversidade de perspectivas e de interesses no interior do movimento”.Uma vez contextualizado o movimento social, é necessário ex-planar sobre a mídia impressa escolhida, que cobriu toda a his-tória do MST. O jornal A Província de São Paulo foi fundado em 4 de janeiro de 1875, por um grupo de abolicionistas e republi-canos que lutava contra a escravidão e o regime monarquista (Vieira, 2019). Em dezembro de 1891, mudou seu nome para O
Estado de São Paulo
e, em 1902, Júlio Mesquita tornou-se o único proprietário do diário (Vieira, 2019; Piligallo, 2012). A família Mesquita está na quarta geração à frente do jornal. O modelo de gestão da mídia é dividido entre dois conselhos: o primeiro, com 16 acionistas, e o segundo, de administração, formado por membros da família Mesquita (Sant’Anna, 2008).
5 Sobre as bandeiras do MST: mst.org.br/quemsomos/#bandeiras. Acesso em 20 dez. 2021.

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Conforme salienta Fonseca (2005), o jornal O Estado de S. Paulo caracteriza-se por defender posições liberais-conservadoras e tradicionalistas. É nítido, ao longo da sua história, defesas irres-tritas da doutrina liberal, da ordem, da autoridade e da defesa da propriedade privada. Parte da história do jornal investigado está diretamente imbri-cada com outra mídia impressa. O Jornal da Tarde (JT) foi fru-to de um esforço do Grupo Estado em modernizar o jornalismo brasileiro e dar um toque informal para a nova mídia. O JT era popularmente chamado de “Estadinho” e O Estado de S. Paulo, “Estadão”. As duas mídias eram controladas diretamente pela família Mesquita. Os anúncios em ambos os jornais, muitas ve-zes, apareciam de forma conjugada. As coberturas sobre alguns temas também eram realizadas em sincronia entre o JT e o OESP. Em 2012 foi anunciado o fim do Jornal da Tarde (Calado, 2012). Alguns cadernos, como o Jornal do Carro, foram incorporados pelo OESP.Atualmente, a mídia impressa O Estado de S. Paulo pertence ao Grupo Estado, sendo um conglomerado de empresas do ramo jornalístico, que engloba O Estado de S. Paulo, Eldorado FM, TV
Eldorado, Rádio Estadão, TV Estadão
e Agência Estado.

Figura 1: Infográfico sobre o Grupo Estado

Fonte: Media Owneshirp Monitor Brasil

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Vale ressaltar que o aglomerado midiático citado já não possui amarras físicas, isto é, não se restringe apenas à capital paulista
e ao Estado de São Paulo. Nas palavras de Francisco de Mesquita Neto6: “[...] Estadão como uma estratégia multiplataforma inte-grada (papel, digital, áudio, vídeo e mobile), para levar um maior volume de conteúdo a mais leitores, sem barreira de distância”. Uma prova disso é que a mídia ocupa as principais redes sociais. Além disso, as suas edições são diariamente lançadas em forma-to digital, fato que integra o jornal paulistano na globalização mundial da informação. Moraes (2013) aponta que os megagrupos midiáticos, neste caso, o Grupo Estado, detêm a infraestrutura tecnológica e as ba-ses logísticas que regem habilmente os processos de produção da informação. A convergência entre mídia, telecomunicações e informática viabiliza o aproveitamento de um mesmo produto em diferentes plataformas, assim, trata-se de um monopólio dos meios de transmissão, distribuição, circulação e exibição (Mora-es, 2013).O jornal escolhido para análise figura entre os quatro jor-nais mais lidos e de maior tiragem desde a década de 1960 (Sant’Anna, 2008) e, em 2016, foi o terceiro jornal mais lido do país. Essa mídia aborda o tema da questão fundiária, do campe-sinato brasileiro e dos sem-terra desde o século XIX.Na década de 1980, o caderno “Questão Agrária” foi criado, eviden-ciando a importância e o interesse que a temática agrária e fundiá-ria adquiriu tanto no Brasil quanto dentro do jornal. A permanência desse caderno ao longo de mais de 20 anos demonstra o interesse da mídia em pautas relacionadas aos movimentos sociais rurais, à reforma agrária e ao debate da produtividade e renda da terra. A quantidade de matérias sobre o movimento social no Acervo Es-

6 Visto em: https://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2012/10/gru-po-estado-anuncia-o-fim-do-jornal-da-tarde.html. Acesso em 20 dez. 2021.

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tadão também é um indicativo da importância dessa organização para o jornal. Em torno de 11 mil matérias foram publicadas en-tre 1984 e 2016 com os termos “MST”, “Movimento Sem Terra” e “Movimento dos Trabalhadores Sem Terra”. Como pontua Indursky (2019, p. 169): “O surgimento do movimento dos trabalhadores sem-terra no Brasil desencadeou uma discussão muito intensa so-bre suas práticas”. Assim, este artigo contribui tanto com a sempre intensa discussão sobre o movimento pela terra como com a lite-ratura acadêmica que analisa o enquadramento sobre o MST na mídia (Berger, 1998; Comparato, 2001; Souza, 2002; Hammond, 2004; Gonçalves, 2008; Campos, 2010), trazendo o enquadramento sobre o MST no período de 2001 a 2004.
3. A construção do MST nos editoriais de O Estado de S.
PauloEsta seção apresenta os principais argumentos utilizados pela mí-dia impressa na construção da imagem do MST em seus editoriais. Em razão da quantidade de textos jornalísticos, 67 ao todo, não foi possível a utilização de todos. Assim, optou-se por trabalhar com 23. Dessa forma, os fragmentos dos editoriais que foram inseridos representam e sintetizam de maneira latente as principais linhas argumentativas e padrões de cada enquadramento.
A negação da condição camponesa: de um modo geral, nes-te enquadramento, foram utilizados dois argumentos para des-legitimar as ações do MST. O primeiro seria a inabilidade dos sem-terra em trabalhar com a terra. O segundo consiste em uma construção do militante do movimento como um sujeito oriun-do dos centros urbanos. A mídia impressa construiu o sem-terra como um indivíduo que não está apto ao labor rural, de tal for-ma que são desempregados urbanos apostando em uma oferta ilusória do MST. Os “falsos sem-terra têm as mais diversas ori-gens, sendo raros os que têm conhecimento suficiente de técni-cas agrícolas” (O Estado de S. Paulo, 2003a, p. A2). Prosseguem,

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em janeiro de 2004: “[...] trabalhador da periferia jamais teve nenhum contato com o campo – integram os batalhões de inva-sores de fazendas” (O Estado de S. Paulo, 2004a, p. A2).No editorial do dia 06 de junho de 2004, intitulado “Tirando fé-rias com o MSTour”, a mídia construiu um MST como uma agên-cia de viagens que promove férias a grandes massas de desem-pregados urbanos, os “falsos sem-terra”:
essa tem sido a regra das invasões de terras promovidas pelo MST e seus congêneres. Na falta de verdadeiros sem-
-terra
, arregimentam os excluídos da cidade para servir
aos seus propósitos, duvidosos
. Talvez uma hipotética revolução salvadora [...] no mais, facilmente se comprova a manipulação a ideológica. Pobres coitados, miseráveis e
desempregados, habitantes infelizes da periferia das ci-
dades, viraram sem-terra pela oferta ilusória do MST
, de-vidamente respaldada pela chamada Igreja progressista, que parece incitar à violência e à justiça na marra. [...] Os falsos
sem-terra
também aceitam engrossar a infantaria dos sem
lei
impelidos por uma motivação comum a quase todos os se-res humanos desde tempos imemoriais: a vontade de fazer
de vez em quando algo diferente da mesmice de todos
os dias (
O Estado de S. Paulo, 2004b, p. A3, grifos do autor).

O jornalismo opinativo de O Estado de S. Paulo se mostrou radi-calmente contra a ideia da reforma agrária. No enquadramento analisado, o processo era apenas uma tentativa de resolução dos problemas da cidade com a migração para o campo. As “favelas rurais” seriam uma realidade de boa parte dos assentamentos. O fato de os trabalhadores desempregados estarem nos assenta-mentos só enfraqueceria a própria terra e mudaria a concentra-ção de pobres da cidade para o meio rural. O argumento dos mi-litantes, como desprovidos de conhecimentos necessários que a terra exige, apareceu alguns meses depois, em abril. Dessa vez, a mídia impressa investiu a falta de experiência com o aumento da inflação de gêneros alimentícios:

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a pequena propriedade de subsistência – principalmente aquela ocupada pelos assentados do MST, que têm as mais diversas origens profissionais, sendo raros os que têm co-
nhecimentos suficientes de técnicas agrícolas –
não pode, simplesmente porque o ministro quer, produzir excedentes da noite para o dia. E, senão houver um abundante abasteci-mento dos gêneros que compõem a cesta básica, a “circulação monetária” de que, antecipadamente, se gaba o ministro Gra-ziano, apenas provocará o que já está se verificando nas
primeiras localidades contempladas pelo Fome Zero: o
encarecimento dos produtos de primeira necessidade
(O
Estado de S. Paulo
, 2003b, p. A2, grifos do autor).A mídia impressa argumentou que os assentados não geram ex-cedente na produção na terra devido a sua falta de entendimen-to com o labor rural, fato esse que desencadeava a não produ-tividade e posterior aumento dos preços de produtos da cesta básica. Dentro do enquadramento de negar a condição campo-nesa utilizada pela mídia impressa, prevaleceu uma lógica de inutilidade do militante perante a terra.

Criminalização das lideranças: as linhas argumentativas presen-tes neste enquadramento direcionaram ataques e criminalizações às lideranças sem-terra. Vale ressaltar que os argumentos não par-tem de juristas diretamente, mas da própria mídia impressa.Por diversas vezes, os coordenadores e dirigentes do movimen-to eram retratados como manipuladores e arrogantes. As decla-rações dadas pelo MST nos jornais eram colocadas em contrapo-sição com os editorialistas do jornal. Por exemplo, em ocasiões que as lideranças usavam o termo “manifestação” ou “ocupação”, o jornalismo opinativo tratou de desconstruir as palavras e sa-lientar que tratava-se de invasões criminosas de propriedades privadas: “o que eles chamam de ‘manifestações’ incluíram, an-tes de ontem, a invasão do prédio do Incra, no Recife, e o seques-tro, durante algumas horas, de três funcionários” (O Estado de S.
Paulo
, 2002a, p. A2). No mesmo ano, em editorial do dia 22 de agosto, o jornal se referiu aos líderes como:

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emessetistas agem como os mafiosos, em suas chantagens
e ameaças
dirigidas, com um certo grau de sutileza, a auto-ridades públicas, ora se comportam da forma direta, explí-cita e primitiva dos cangaceiros nordestinos da primeira metade do século passado, cobrando para se ausentarem das cidades invadidas, ora partem para a guerrilha, própria das regiões mais atrasadas do continente latino-americano (O Estado de S. Paulo, 2002b, p. A2, grifos do autor).

Em agosto de 2003, o editorial intitulado “Guerra Insana no Cam-po” voltou a representar João Pedro Stédile – líder do MST – da se-guinte forma: “profeta da fome e do desemprego. Assim pode ser carimbado o Stédile, ideólogo-mor do MST, ao incitar a luta contra os grandes empresários” (O Estado de S. Paulo, 2003c, p. A2). No mesmo editorial, a mídia se refere ao líder como “imbecil” e “igno-rante” ao tentar travar uma guerra contra os produtores da “agri-cultura moderna, profissionalizada” porque seria, justamente essa última, que o levaria a alimentar as massas urbanas do Brasil.
Argumentos legalistas e constitucionais: os argumentos jurídi-cos foram amplamente utilizados pela mídia impressa. Os princí-pios de defesa da propriedade privada e do Estado de Direito são os mais utilizados para fazer ataques agressivos ao MST.

Mas nunca essa verdade foi tão bem ilustrada entre nós com o agora, com a “evolução” de um chamado movimento so-cial no caminho da ilegalidade, partindo do desrespeito
à propriedade – pública e privada – e chegando ao con-
fronto aberto com as instituições e autoridades públi-
cas, procurando levá-las ao máximo de desmoralização
. É claro que o leitor já percebeu que estamos nos referindo ao Movimento dos Sem-Terra (MST) (O Estado de S. Paulo, 2004c, p. A3, grifos do autor).O que ainda não se percebera, até agora, era que o dito “mo-
vimento social” já tenta assumir funções do próprio Es-
tado
– o que é demonstrado pela rede de ensino paralela que vem implantando no País, espalhada por 23 unidades da Fe-deração (O Estado de S. Paulo, 2004d, p. A3, grifos do autor).

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Em editorial, cujo título foi “As Labaredas do Inferno”, apareceu o argumento de que os limites da lei não deveriam ser ultrapas-sados, sendo obrigação o cumprimento das normas jurídicas. O MST foi retratado como uma organização oriunda do inferno, as suas labaredas seriam as suas ações fora da lei. No imaginário popular, o inferno é um local de sofrimento, de pessoas condena-das ao infortúnio eterno por suas ações em vida, seria um lugar repleto de demônios e maldades.A defesa da propriedade, seja ela via constitucional, seja aquela em que os fazendeiros fazem justiça com as próprias mãos, tam-bém foi utilizada. Na visão do editorialista, quem se vê invadido, em terras ou imóveis, “possui o direito legítimo de defender o que é seu” (O Estado de S. Paulo, 2002c, p. A2). No editorial do dia 25 de abril de 2004(e), intitulado “Sim, está em jogo a autoridade”, a mídia conclamou o Estado a reagir contra o movimento sem-ter-ra, uma vez que os direitos de livre circulação e da propriedade privada estavam sendo constantemente transgredidos pelo MST.A publicação do dia 25 de janeiro de 2001 traz como título “O arrombador da República”, creditando ao movimento ações na qual o “arrombamento” é praticado pelo MST, que viola a ordem constitucional vigente, sem sequer dispor de um CNPJ. O mesmo texto acusa os sem-terra de promover “[...] a lavagem cerebral das crianças acampadas em suas versões caboclas de madraças fundamentalistas islâmicas” (O Estado de S. Paulo, 2001, p. A2).Em 28 de julho de 2003(d), o jornal acusou o MST de praticar ações que vão de encontro às ordens democráticas, na qual as regras da república estariam diretamente em risco com os atos da organização. Condições pré-revolucionárias estavam fomen-tadas no país, os sem-terra estavam caminhando para a efetiva-ção do “Plano R”, expressão que também dá nome ao editorial. A revolução estaria iminente e seria coordenada por lideranças dos sem-terra. Dessa forma, a mídia conclama que a tolerância à organização deveria acabar.

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Em 2003(e), insatisfeito com a liberdade do líder José Rainha, o editorial de 13 de setembro lançou uma ofensiva a uma suposta triangulação do ministro José Dirceu, do secretário de justiça do estado de São Paulo, Alexandre de Moraes, e do governo paulista do PSDB. A tríplice foi acusada de impedir a prisão de Rainha. As autoridades foram apontadas como usurpadores dos direitos da democracia, o princípio da impessoalidade foi ferido, as “influ-ências” e os “jeitinhos” fizeram suspender a prisão do líder do MST, na ótica da mídia.
Negativação do sujeito sem-terra: este enquadramento refere--se às negativações dos indivíduos que compõem o movimento. Em várias ocasiões, os militantes foram chamados de “ameaça-dores”, “improdutivos”, “problemáticos”, “sem razão de existir”, “arruaceiros”, “inviáveis”, “agressivos”, “fascistas”, “criminosos rurais” e “bandidos de colarinho branco”.Reforçando o estereótipo de violento, o editorial do dia 25 de ja-neiro de 2002 trouxe o MST como “brutal”, “agressor da vida hu-mana”, “capaz de cometer diversas modalidades de ações delin-quenciais”. No texto em questão, o MST foi representado assim: “[...] essa sigla está ligada, de maneira indissociável, a diversos tipos de violência” (O Estado de S. Paulo, 2002d, p. A2). O jornal representou o movimento como praticante de diversos crimes.

Por sobre seus métodos fascistas de atuação, no que
não faltaram depredações de sedes de fazendas, ma-
tanças de animais, acampamentos predatórios em pro-
priedades rurais produtivas, bloqueio de estradas, rou-
bo de cargas e de pedágios e mais um sem-número de
ações antissociais, quando não claramente criminosas,
praticadas durante suas ocupações
, o MST também con-tribuiu, decisivamente, para o desvirtuamento da reforma agrária, na medida em que deslocou para os assentamentos famílias sem qualquer experiência, ou vocação - e às vezes sem qualquer necessidade - para lidar com a terra (O Estado
de S. Paulo
, 2003e, p. A2, grifos do autor).

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Há bastante tempo que esse chamado “movimento social” também vem perpetrando crimes típicos de “colarinho
branco”, com os desvios de dinheiro de origem pública
- por meio de operações financeiras, as mais cabeludas,
capazes de canalizar grandes somas de dinheiro para
os bolsos particulares de seus líderes
(O Estado de S. Pau-
lo
, 2004f, p. A2, grifos do autor).

Além de construir uma imagem criminosa do MST, o jornal bus-cou informações sobre o movimento dentro dos domínios ele-trônicos e pedagógicos dos sem-terra. Em uma leitura do cader-no Educando, do Jornal Sem Terra, O Estado de S. Paulo (2004g, p. A2) diz que a organização não seria um movimento social, mas “político revolucionário”, voltado para “destruição da economia de mercado, da democracia e das liberdades”. Por fim, ironiza o ABC inserido na cartilha: “para soletrar, a liberdade deveria ser retirada, o alfabeto do MST é o abc das invasões, depredações, sequestros e destruições” (p. A2).
O MST não deveria existir: este enquadramento representa uma linha argumentativa de que o MST não deveria existir e apresenta razões diversas para a sua extinção.

Voltando ao Brasil, não são poucos os que se confundem com o linguajar bravio e convicto dos militantes do movimento dos honoráveis trabalhadores sem-terra. O MST ameaça bo-
tar fogo nos campos do Brasil
. Tudo em nome da elimina-ção dos latifúndios e da nobre causa da terra a quem não a tem. Mal sabem eles que a sua hora já passou (O Estado de
S. Paulo
, 30. maio. 2003f, p. A2, grifos do autor).

Em um editorial cujo título foi “O MST que se lixe”, o texto de-monstra o tratamento que a mídia utilizou nos seus editoriais para se referir ao movimento. A expressão transmite uma ideia de que não devemos ligar ou nos importar com os sem-terra. A conclusão do texto, e de muitos outros, é uma pergunta direcio-nada diretamente ao leitor de O Estado de S. Paulo: “você, leitor,

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já reparou que de uns anos para cá, o MST além de promover arruaças urbanas, só tem invadido propriedades produtivas?” (O Estado de S. Paulo, 2003g, p. A2). Em outra publicação, a orga-nização foi representada como inviável, uma vez que o MST “não contribui em nada para o desenvolvimento do meio rural brasi-leiro, para a produção agropecuária, para a melhoria do empre-go, da renda ou das condições de vida no campo” (O Estado de S.
Paulo
, 2004f, p. A2).No dia 06 de setembro, o jornal traz declarações do sociólogo Zander Navarro para comprovar que “o MST não é um movimen-to social, no sentido sociológico, e menos ainda popular. É ape-nas uma organização pequena, do sistema político” (O Estado de
S. Paulo
, 2003h, p. A2). Ancorada nas declarações de Navarro, a mídia argumenta que as ações dos sem-terra são “infantis e inconsequentes”. O sociólogo retrata a orientação do movimen-to como “leninismo pueril”, responsável por estratégias fracas-sadas do movimento. A conclusão do editorial, ancorada em Navarro, é que a entidade não deveria existir: “[...] ela em nada contribui para a reforma agrária ou para a solução do problema fundiário do país” (O Estado de S. Paulo, 2003h, p. A2).
Agronegócio e neoliberalismo: o jornal apresenta uma for-ma particular de enquadrar questões econômicas relacionadas à agricultura familiar e ao agronegócio. De modo geral, a mídia coloca um conflito entre ambas. Em um dos poucos momentos, a mídia impressa demonstrou abertamente as suas convicções e o que seria a sua ideologia econômica, em editorial chamado “O falso enfoque agrário”:

MST é um partido político não legalizado. As teses que defende são políticas. Não acreditam, seus líderes, na
economia de mercado
. Seus integrantes são contrários à
propriedade privada
, a não ser a dos que se filiam às suas plataformas ideológicas e políticas. Têm horror à riqueza
dos outros, que pretendem transferir para si mesmos e

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para os demais correligionários. [...] Criando uma Repú-blica própria dos “acampados” no país, que capta os novos desempregados, por força de uma recessão provocada por excesso de tributos e de juros [...] Jamais dizem que o Bra-
sil é uma potência agropecuária superior aos países de-
senvolvidos e que luta - exatamente por sua eficiência
- para ter espaço na globalização econômica. Jamais in-
vadem terras improdutivas, mas sim terras produtivas,
justamente aquelas que estão permitindo ao Brasil essa
magnífica performance no cenário mundial
(O Estado de
S. Paulo
, 2003i, p. A2, grifos do autor).O jornal faz uma defesa irrestrita do agronegócio, a qual atribui eficiência e uma alta produtividade. Além disso, uma união da financeirização com a agricultura, o que permite que ações se-jam vendidas e compradas em bolsas de valores, associada a um determinado gênero alimentício, também apareceu na mídia. Trata-se de um viés liberal que aparece no editorial do dia 27 de julho de 2003, cujo título é “Um país que assusta o investidor”. A mídia impressa fez um alerta ao governo petista, ressaltando que o crescimento econômico dos anos seguintes iria depender da segurança oferecida ao investidor, “só com a participação do setor privado, nacional e estrangeiro o país poderá ampliar e mo-dernizar sua infraestrutura” (O Estado de S. Paulo, 2003j, p. A2).Em 30 de maio de 2004 o editorial do jornal defendeu mais uma vez os interesses dos investidores no Brasil, dessa vez salientan-do que os investimentos em reforma agrária não trazem confor-to ao capital para ser aplicado no país. Destinar dinheiro no pro-cesso de reforma era uma estratégia errada no entendimento da mídia, uma vez que as ocupações estavam reagindo com armas de fogo, por parte dos fazendeiros, fato que estaria assustando investidores internacionais. Por fim, o texto conclama o Estado brasileiro para priorizar investimentos em áreas que possam dar tranquilidade aos recursos dos investidores por setores do capital financeiro. “A prioridade deveria ser aquela que dá aos investidores a tranquilidade que seus recursos não serão de for-ma alguma expropriados” (O Estado de S. Paulo, 2004h, p. A2).

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Pressão Política: os enquadramentos de pressão política apa-recem fundamentalmente no ano de 2003, durante o mandato do então presidente Lula. Trata-se de opiniões e juízos de valor relacionados aos direcionamentos da gestão petista.O jornal afirmou que Lula não teria condições de enfrentar os sem-terra caso não demitisse o então ministro do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o presidente do Instituto Na-cional de Colonização Reforma Agrária (INCRA). Esses servido-res da burocracia federal seriam “companheiros de viagem” de Lula, e responsáveis pela tragédia no campo brasileiro. No mes-mo editorial, de abril de 2004, a mídia desaprovou a alocação de recursos para a reforma agrária. No dia 22 de agosto de 2004, quando o então presidente anunciou que 4,5 mil cargos seriam incorporados ao INCRA – órgão responsável por promover a re-forma agrária –, o jornal salientou que o governo não poderia agir de acordo com a pressão dos movimentos sociais. A argumentação utilizada foi a de que o aumento do funcionalis-mo seria danoso ao país e que todos os cargos seriam indicados por João Pedro Stédile e que nenhuma indicação seria da Confe-deração Nacional da Agricultura (CNA). A CNA é uma entidade que atua desde a década de 1980 visando ser representante de uma agricultura de larga escala.No ano de 2003, com a alteração do presidente do INCRA, o editorial do dia 06 de outubro comentou a situação como “uma burrice”, o nome do dirigente do instituto não seria capaz de de-volver a paz no campo, uma troca que “não resolveria nada”. O próprio INCRA, na visão do editorial, só servia para repassar di-nheiro público para a organização “paraestatal”, “uma vez que a maior parte de seus recursos advém direta ou indiretamente das instituições públicas” (O Estado de S. Paulo, 2003l, p. A2).

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4. Uma leitura crítica dos dadosEm um primeiro momento, é necessária uma contextualização histórica e política do período analisado. O último governo PSDB foi marcado por uma intensa repressão do Estado contra os mili-tantes, de sorte que as crescentes mobilizações e demonstrações políticas do MST, na década de 1990, culminaram na Medida Provisória n.º 2.027-38, de 2000, que delegava à União a entra-da nos imóveis para fim de vistoria e, posteriormente, a compra para fim de desocupação.A MP punia, com exclusão do programa de reforma agrária, qualquer participante de ocupações de terra no Brasil. No ano de 2001, o governo Fernando Henrique Cardoso anunciou a Me-dida Provisória n.º 2.109-52, que alterava o decreto anterior, ga-rantindo um controle institucional maior ao Estado na aplicação de lei para punir movimentos sociais que lutavam por terra. A medida passou a responsabilizar os membros da ocupação ju-dicial e criminalmente, e também as entidades ou organizações que auxiliassem, incentivassem, participassem ou induzissem ocupações ou conflitos agrários ou fundiários. Eram punidos de todos os repasses de verbas, financiamentos e crédito público (Brasil, 2001).Assim, o governo FHC, por meio da legalidade da Constituição e da burocracia federal, forçou os movimentos de terra a recuar na ocupação, seja de propriedades de terra, seja de prédios pú-blicos (Fernandes, 2010). Com as Medidas Provisórias não seria mais imprescindível a mediação e interlocução do MST com o governo. Durante o período, os diversos sujeitos sem-terra eram cadastrados diretamente nos postos de reforma agrária pelo Brasil, o que fez despencar as ocupações e o número de famílias assentadas. Conforme Girardi (2008), as ocupações de terra em 2001 e 2002 caíram de maneira expressiva: se, em 2000, exis-tiam 100 mil famílias em ocupações de terra, esse número caiu para 50 mil no ano seguinte.

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Em 2003, marcou-se a ascensão do então presidente Luiz Iná-cio Lula da Silva ao Executivo Federal e, antes mesmo de tomar posse, Lula prometia uma ampla reforma agrária, democrática e popular. Durante o primeiro ano da gestão do PT, a expectativa de reforma agrária se espalhou por vários movimentos de luta pela terra. O ex-presidente fez discursos sinalizadores de uma ampla reforma agrária. Se nos anos de 2001 e 2002 o movimen-to sem-terra sofreu uma repressão, em 2003 existiu uma imi-nência real da reforma agrária, até mesmo um Plano Nacional de Reforma Agrária foi elaborado.O aumento do número de matérias no ano de 2003 e a postu-ra mais agressiva e criminalizadora por parte da mídia impres-sa podem ser explicados pela iminência de reforma agrária e, posteriormente, pela grande mudança estrutural e fundiária no Brasil. Os dados apontam que os editoriais visam barrar e des-construir qualquer tentativa de ganhos políticos e sociais para o movimento. A ascensão do Partido dos Trabalhadores pode ser considerada como um sinal de alerta para O Estado de S. Paulo.Os quatro anos analisados são marcados por uma inexistência e baixa adesão às ferramentas como smartphones, internet e com-putadores. O começo da década no Brasil não contava com a di-versidade de mídias e redes sociais presentes nos dias de hoje. Trata-se de um momento em que televisão, rádio e mídia impres-sa exerciam uma grande hegemonia. No caso do OESP, a literatura (Pilagallo, 2012; Severiano, 2012) já aponta como as relações so-ciais e de poder no Brasil são intermediadas pelo jornal. Os enquadramentos construídos nas matérias e editoriais foram radicalmente contrários ao MST. A linha editorial fez do movi-mento um algoz, um inimigo declarado, um grupo diabólico que não deveria nem sequer existir. A negação da condição sem-terra e da sua capacidade de labor com a terra presente nos editoriais estruturou argumentos em que os militantes não podem receber a terra e não a merecem porque são desempregados urbanos e

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não têm condições técnicas de produzir riqueza da terra. O su-jeito sem-terra, da base do movimento, foi construído como um alienado político que segue ordens de lideranças autoritárias e corruptas. O discurso utilizado pela mídia de negar a capacida-de técnica dos sem-terra e de recrutar trabalhadores urbanos tem por finalidade barrar a reforma agrária e responsabilizar os movimentos sociais por alterações migratórias e de violência no campo e na cidade (Vieira, 2019). A mídia também utiliza, de maneira massiva, a criminalização e a difamação dos militantes do MST. O ato de criminalizar, se-gundo Escrivão Filho e Frigo (2010), é o fato de atribuir crime a alguém ou manifestação. A criminalização se dá por meio de um processo estruturado de violência física e simbólica, na medida em que setores utilizam das suas funções para aplicar uma natu-reza criminosa aos movimentos sociais, sempre sob o argumen-to de manter a democracia, as instituições e a ordem.O jornal dedica-se a construir e elaborar tipificações de crimes, desvios e delitos como vandalismo, corrupção, roubo, sequestro e formação de quadrilha. De forma acentuada, também foi utilizada a designação do crime de invasão, palavra que sacraliza o discurso de criminalização com base na imutabilidade e defesa irrestrita da propriedade privada, fato que torna eterna a atual estrutura fun-diária brasileira e oculta a função social da terra (Indursky, 2019).Nessas construções estereotipadas sobre sujeitos criminosos, surge uma indústria do medo e da insegurança, que atribui con-flitos e transgressões a um único grupo social, de forma que os sem-terra passam a ser temidos e rejeitados, canalizando estig-mas e depreciações (Lemes, 2018). Também é intensa a predileção do jornal opinativo de O Estado
de S. Paulo
em se fixar em noticiar crimes. Como consequência, a mídia impressa constrói uma relação em que precisam existir culpados para aplicar a lei e necessita-se reprimir de maneira ju-

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rídica e penal os culpados pelas “invasões” e conflitos. Por mais que a mídia não faça parte do sistema penal tradicional, ela traz para si uma aliança entre criminalização e exigências punitivas, que tornam os meios de comunicação parte de um controle so-cial informal (Lemes, 2018; Budó, 2013). Os editoriais analisa-dos insistiram que o MST desmoraliza a justiça, as instituições e as autoridades públicas, em um grande apelo para que os sem--terra sejam contidos de maneira jurídica e penal.O jornal, além de inserir o MST em determinados frames, realiza uma espécie de vigilância de determinados sujeitos caracteriza-dos como transgressores e ameaçadores. Esse mecanismo fun-ciona como uma retroalimentação entre crime e punição, em que inimigos são construídos e, posteriormente, combatidos. Dessa maneira, a organização dos sem-terra aparece como um bando criminoso que confronta a lei, assim, é necessário não apenas cri-minalizar o movimento, mas também penalizá-lo (Lemes, 2018).O processo de criminalização e posterior culpabilização jurídica sinaliza que a mídia entende o processo de ocupação e contesta-ção da estrutura fundiária como atividade criminosa. Qualquer repasse de verba ou incentivo político para o MST é visto, aos olhos dos editoriais, como corrupção e desvio da finalidade do Estado. Esse processo significa que o jornalismo opinativo de OESP defende a imutabilidade da propriedade privada e da es-trutura fundiária brasileira, ignorando que a terra possua uma função produtiva, ética e social. Os apelos constitucionais e jurídicos também podem ser expli-cados pelo fato de o jornal ser um defensor histórico da ideolo-gia da “ordem e progresso” (Fonseca, 2005). O Estadão possui um forte caráter conservador e retrata quase todos os conflitos sociais, dentre eles as ocupações de terra, como causadoras de prejuízos e atentatórias à ordem pública (Guilherme, 2018; Fon-seca, 2005). Trata-se de um verdadeiro temor pela “subversão” da ordem econômica e jurídica.

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O combate incessante ao movimento social também se deve ao fato de o MST apresentar, para o Estado e sociedade civil, uma ou-tra leitura jurídica possível da Constituição Federal. Essa interpre-tação questiona os grandes latifúndios improdutivos e, ancorados no artigo 5º da CF, os sem-terra pressionam por desapropriações das terras improdutivas. Essas ações são sempre combatidas, uma vez que a grande imprensa busca criminalizar projetos questio-nadores, quase sempre por meio da defesa irrestrita da proprie-dade (Viera, 2019). Os editoriais de OESP defendem posições de maneira expressiva e incisiva, rejeitando qualquer tipo de visão ou expressão contrárias às suas (Fonseca, 1997). Trata-se de uma espécie de “dirigismo” do cidadão médio e do Estado brasileiro, em que o jornal constrói as suas opiniões como se fossem o bem comum da nação. Esse bem comum é simbolizado como uma ne-cessidade de destruição e combate ao MST. Essa perspectiva é uma das características mais latentes dos editoriais do jornal. Existe uma tentativa de persuadir e dirigir o poder público e a sociedade civil. A própria mídia oferece a sua visão sobre a disputa na formação de ideias e valores: “[...] informar a opinião pública por um lado, e por outro, de ajudar a formá-la” (O Estado de S. Paulo, 1984 apud FONSECA, 1997, p. 116). Além disso, é possível notar que o jornal OESP procura dirigir-se diretamente a um leitor mais elitizado, os chamados formadores de opinião e classe média (Guilherme, 2008; Fon-seca, 1997). Esses extratos sociais, na interpretação da mídia, possuem uma missão de difundir a narrativa consumida diaria-mente nas suas páginas. Ao fim do ano de 2002, e consequentemente, a vitória do Par-tido dos Trabalhadores no ano de 2003 gerou um aumento das disputas em torno de questões fundiárias. De maneira precisa, foi encontrado na pesquisa aquilo que Zuin (2018) levanta: mo-mentos de relevância nacional e de iminência de uma possível reforma agrária fizeram com que a mídia colocasse em oposição a agricultura familiar, construída como arcaica e improdutiva, e

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o moderno agronegócio, concebido como produtivo e gerador de riquezas. A mídia nitidamente se coloca como uma defenso-ra irrestrita dos investidores e das garantias contratuais. Vieira (2019) pontua que as mídias hegemônicas acabam por se aliar ao discurso de produtividade e do neoliberalismo. Uma digressão ao começo da década de 2000 é necessária para entender a defesa absoluta do agronegócio e a sua associação com a mídia. Esse é um momento histórico que tanto os gêne-ros alimentícios produzidos pelos produtores de grande escala quanto os veículos midiáticos possuem ações cotadas na bolsa e um grupo diverso de acionistas. As construções sobre o MST, nessa esfera, traduzem uma ideia de que o movimento social pode desvalorizar determinadas ações por uma suposta falta de paz no campo, das garantias contratuais e da propriedade privada. Assim, a organização é construída como um grupo que assusta os investidores, com capacidade de desvalorizar ativos financeiros cotados em bolsas de valores. Vale ressaltar que esse momento histórico contava com grande valorização do agrone-gócio7 e crescente rendimento desse setor. No primeiro ano da análise (2001), o faturamento era de 63 bilhões, e, no último (2004), foi de 111 bilhões de reais.Desse modo, o Grupo Estado e outras empresas jornalísticas são também grupos financeiros e grandes atores do mercado, com capacidade de influência sobre a valorização de determinados ativos econômicos. Como resultado, certos meios de comunica-ção social difundem uma ideologia mercadológica financeira em forma de informação, promovendo uma visão de mundo ideal (Ramonet, 2013), quase sempre ancorada em produtividade e ganhos.
7 Disponível em: https://blog.climatefieldview.com.br/qual-e-a-participacao-do-agro-negocio-no-pib-e-nas-exportacoes-brasileiras. Acesso em 04 ago. 2021.

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A união entre agronegócio e comunicação também está atrelada à política. Segundo Aires e Santos (2017), apenas entre os oito maiores políticos do Brasil, entre eles prefeitos, senadores e de-putados federais, se concentram outorgas de TV, rádio e jornais. Além disso, apenas nesse grupo, se concentram 180 mil hectares de terra. A imprensa se posiciona dentro das razões apresentadas como uma ferramenta de manutenção da estrutura fundiária e repro-duz discursos, cuja análise visa a desqualificação e a crimina-lização dos sujeitos antagônicos a suas visões. O empenho e o esforço em destruir o “grupo perigoso” do MST são parte de um projeto estrutural que mira barrar mudanças de ordens econô-micas e sociais no campo brasileiro. A mídia investigada respon-sabiliza o MST e seus militantes como agentes de um caos no campo que retira a possibilidade de os grandes empresários ru-rais produzirem. O movimento social é retratado como incapaz de produzir e extrair riqueza da terra, e que nutre uma inveja do sucesso do modelo “próspero” do agronegócio. A linha ideológica e econômica do jornalismo editorial do OESP é o conservadorismo-liberal-antiestatal. Assim, não to-leram que o Estado promova qualquer tipo de intervenção na estrutura fundiária brasileira e no universo social do campo brasileiro. O editorial de OESP é radicalmente contrário aos as-sentamentos de terra, liberação de linhas de crédito agrícola para os movimentos sociais e que governos e prefeituras inter-venham de alguma maneira em prol dos sem-terra. Trata-se de uma defesa incondicional da “Livre Empresa Rural”, categoria cunhada pela mídia que apela pela autorregulação do campo brasileiro e pela manutenção da estrutura fundiária contra a reforma agrária. Está presente nos editoriais analisados um maniqueísmo insta-lado pela mídia entre nós vs. eles, o “nós” carrega a legalidade, o bem, a produção e o respeito ao Estado. O campo semântico

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“eles” é representado pelo MST e por todas as mazelas que esse movimento carrega, aos olhos do jornal. Essa prática foi percebi-da também por Lemes (2018) e Budó (2013), definindo-a como ações que visam a inflamar uma polarização social e política dentro da sociedade. Os antagonismos, as hostilidades e as opo-sições são próprios da mídia, a elaboração de dicotomias histó-ricas é uma arma retórica contínua da grande imprensa (Motta, 2010; Fonseca, 2005). Disso decorre também uma situação em que o jornalismo trans-mite para a sociedade civil ideias temáticas de lutas entre as for-ças do bem e do mal, em que ações de combate seriam necessá-rias para a destruição de um inimigo, incitando antagonismos e enfrentamentos, o que alimenta o confronto em sucessivas afirmações, promove hostilidades, exacerba os conflitos (Motta, 2010).Como apontado na seção 3, existe uma forma conservadora e pa-dronizada de enquadrar as questões fundiárias no jornal: trata--se de posições antirreforma agrária e de oposição ao MST. Esse padrão do OESP transmite uma ideia de constante batalha entre partes (produtores x sem-terra; ordem x desordem; agronegó-cio x agricultura familiar). Como em qualquer conflito envolven-do duas partes, a mídia normaliza que um dos lados se empenhe a qualquer custo em defender a propriedade. O enquadramen-to de guerra presente nas mídias, apontado por Motta (2010), abarca representações e discursos com temas em que forças do bem e do mal se enfrentam e que só pode existir um único per-dedor, nesse caso, o agronegócio que necessita derrotar o MST. Nesse processo, o jornal opinativo de O Estado de S. Paulo utiliza uma narrativa de que o agronegócio precisa superar inúmeros obstáculos e adversidades e, ainda assim, permanece com uma performance produtiva excelente. A transformação de problemas sociais e políticos em conflitu-osos, por parte da mídia, resulta naquilo que Butler (2020), de

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maneira precisa, chama atenção: certos enquadramentos atuam para que algumas pessoas não sejam consideradas qualificadas o suficiente para serem consideradas vidas. A autora salienta que, se um indivíduo não está enquadrado dentro de normas e padrões, então a sua existência é descartável e não é passível de luto. Esse é o caso do sujeito sem-terra e das lideranças do MST, sempre qualificados como criminosos, diabólicos, improdutivos, mafiosos. Butler (2020) salienta que a capacidade epistemológica de apreen-der uma vida é parcialmente dependente de normas que caracteri-zam um indivíduo enquanto ser passível de empatia. Os exemplos dos editoriais moldam um grupo social para que não seja reconhe-cido enquanto sua própria natureza, humanidade e identidade: 1) A mídia retira o seu aspecto camponês e sua relação produti-va com a terra. Isso significa que as construções sobre o sujei-to sem-terra ignoram que a base do movimento é composta em sua grande maioria por camponeses (Stédile; Fernandes, 2001), com uma relação histórica, cultural e de identidade com a terra. 2) O jornal subverte a ideologia e o aspecto religioso do MST. Con-forme debatido, o movimento social possui profundas ligações com o cristianismo, sobretudo na Igreja Católica, que promo-veu noções de justiça social cristã aos sem-terra. Salienta-se que esse movimento empreende romarias católicas e adota em suas místicas aspectos do cristianismo católico. Ao retratar os sem-terra e a sua organização como diabólica, a mídia inverte para o leitor a base da crença e da justiça social do MST. 3) O OESP transforma a principal ferramenta de luta do movi-mento social, a ocupação de terra, em um ato criminoso e pas-sível de punição. Ao ignorar a função social da terra prevista na Constituição Federal, a mídia impressa acaba rotulando as ocupações de terra em crime de invasão. Dessa forma, o

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movimento tem a sua principal ação de luta constantemente agredida nos discursos editoriais.A guisa de conclusão, por mais que a mídia, aqui analisada, seja radicalmente contrária ao MST, é necessário destacar a capaci-dade do movimento social em empreender ações que chamem atenção das grandes mídias e do Estado: conseguiu estar nas pautas dos principais jornais assegurando um espaço midiático (Melo, 2009). Em um contexto em que o jornal ocupava um pa-pel de grande destaque na comunicação, é primordial que o MST adequasse a sua luta, visando os meios de comunicação.Sobretudo no governo FHC, o trabalho dos sem-terra em rela-ção à mídia foi fundamental. A cobertura da Marcha à Brasília, no primeiro governo PSDB, foi noticiada por dezenas de mídias nacionais e internacionais. Também nesse ano, o presidente passou a reconhecer e “se referir explicitamente ao movimento” (Comparato, 2001, p. 117). O incômodo do governo foi justamen-te a habilidade que o MST demonstrava em aparecer e dialogar nas diversas mídias brasileiras. Ressalta-se que, anteriormente a Marcha à Brasília e ao Massacre de Corumbiara em 1995, o governo PSDB não reconhecia a existência do MST e se recusava ao diálogo com o movimento social:
Para ele [Fernando Henrique Cardoso], o MST não existia. Derrotamos essa tática de uma maneira voluntária e tam-bém involuntária. A involuntária foi o massacre de Corum-biara (RO), em agosto de 1995, que revelou ao mundo a existência dos problemas agrários no Brasil. A voluntária foi o nosso III Congresso Nacional, em Brasília, com aquela passeata de 5 mil pessoas que nos recolocou na imprensa (Stédile; Fernandes, 2001, p. 143).

Foi também o reconhecimento midiático sobre alguns eventos e o crescente aumento dos editoriais, na década de 1990 e começo dos anos 2000, que transformaram o MST no maior movimento

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social de terras do Brasil, ultrapassando a CONTAG e a CUT Rural (Comparato, 2001).
ConclusãoOs dados demonstraram uma mídia ativa que colocou em práti-ca um constante discurso estigmatizante e contrário ao MST. O jornal tratou de despolitizar as ações dos sem-terra, tornando o tema fundiário bélico, quando, por outro lado, o MST argumenta que suas ações querem sanar problemas fundiários, de desigual-dade e cidadania (Stédile; Fernandes, 2001). Diante dos seus interesses nas questões fundiárias, o editorial do OESP tomou partido do agronegócio e da não-realização da reforma agrária em editoriais referentes às temáticas relacionadas à terra. A retórica dos editoriais evoca sentimentos negativos relaciona-dos ao sem-terra e à reforma agrária. Trata-se de um discurso de cunho conservador, pois apela para a ordem e constrói inimigos usando termos como arruaceiros, bandidos e violentos. Foram constatadas construções em que o MST aparece como um foras-teiro social, que deseja alterar o status quo fundiário, levando desordem e caos ao campo. Construí-lo como ameaça é funda-mental para que a sociedade, especialmente aqueles setores que não estão diretamente ligados ao campo, passem a estigmatizar os sem-terra. A estratégia adotada por parte do editorial de O Estado de S. Pau-
lo
passou por argumentos de produtividade, corrupção, violên-cia, moralidade, até chegar naquilo que soa como mais grave: “o governo e a sociedade deveriam acabar com isso (MST)” (O
Estado de S. Paulo
, 2004d, p. A2).Os editoriais desvelam uma construção midiática sobre o mo-vimento social que retira e estigmatiza os principais pilares do MST, na sua forma de ação, por meio das ocupações, na maneira

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como utiliza e produz na terra, por meio da agricultura familiar, nas suas lideranças e dirigentes, e nas suas razões de existir enquanto organização social, que agrupa excluídos do acesso à terra. A mídia enquadra o movimento social de uma maneira desconstrutiva.Os dados mostram que o editorial impõe, de maneira contínua e agressiva, valores de manutenção de status quo, da ordem, da manutenção dos privilégios rurais e da não aceitação da ascen-são social de camadas sociais historicamente marginalizadas.Existe nos editoriais um discurso que revela uma ordem social e valores normativos atrelados ao conservadorismo, à moral e à ordem. Os textos analisados colocam o MST em um local de usurpação da lei e da ordem e também da agenda econômica do agronegócio O conteúdo dos editoriais chama atenção para o problema da exploração das terras no Brasil. O debate sobre o acesso à terra é histórico e problemático, esse é o tema de fundo de todas as discussões empreendidas pela mídia. Em momentos em que vi-sões divergentes sobre a democratização do direito à terra são inseridas no debate público, como no caso do Plano Nacional de Reforma Agrária do governo do PT em 2003, o editorial de O
Estado de S. Paulo
tratou de utilizar enquadramentos que visam barrar a reforma agrária e criminalizar o MST.Para além dos enquadramentos construídos sobre o movimento social, esta pesquisa oferece uma base empírica para refletir sobre a visão de ordem social e fundiária da mídia impressa do editorial do Estado de S. Paulo. Essa ordem, amálgama de silenciamento, criminalização, pressão política e lobby pró-livre mercado, tem por finalidade deslegitimar e barrar o MST enquanto sujeito polí-tico e intermediador da pauta da reforma agrária e da cidadania.

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Recebido em 11/01/2022 Aceito em 09/05/2022