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Artigo Livre
A Novidade do Passado: a Sociologia Econômica no Brasil
(1935-19791)
Odil Matheus Fontella2
Resumo
A partir de resgate bibliográfico, temático e institucional, realizado nos últimos dez anos, este artigo evi-
dencia o desenvolvimento da disciplina de Sociologia Econômica no Brasil entre 1935 e 1979. O método
aplicado foi o resgate histórico de artigos, capítulos, conferências, comunicações, relatórios de pesquisa
e livros, além de eventual fortuna crítica, seja em material impresso, seja em formato digital. Para a análi-
se qualitativa dos dados, desenvolveu-se análise textual, seguida de análises temática e interpretativa. As
buscas textuais se concentraram em torno dos termos: “Sociologia Econômica”, “Sociologia da Economia”,
“Sociologia da Vida Econômica”, “Estudos Sociais da Economia”, “Socioeconomia”, “Análise Sociológica da
Economia”, “Aspectos Socioeconômicos”. Durante as cinco décadas analisadas, transpareceram no país abor-
dagens sociológicas/socioeconômicas acerca de temáticas diversas como economia (atividade/disciplina),
mercado, competição, empresa, grupos econômicos, dinheiro, (sub)desenvolvimento, Estado, capitalismo,
estratificação social (classes sociais, renda), empreendedorismo. A disciplina acadêmica de Sociologia Eco-
nômica é longeva, extensa e diversificada no Brasil. Na busca por superar a amnésia sociológica que cerca a
sua trajetória no país, apresenta-se este resgate bibliográfico, temático, autoral e institucional de tal disci-
plina como a novidade do passado.
Palavras-chaves: Sociologia Econômica; Mercado, Dinheiro; Empresa; Desenvolvimento
1 Este artigo é parte de pesquisa mais ampla, que já totaliza, desde 2014, 4 mil páginas sobre o desenvolvimento da Sociolo-
gia Econômica no Brasil, que abarca o período de meados dos anos 1860, época do país monárquico, rural e escravocrata,
quando a sociologia se configurava como uma protossociologia, até o presente. Acerca de todo esse período, já estão cata-
logados ao menos duas centenas de autores(as), nacionais e estrangeiros(as), que desenvolvem abordagens sociológicas/
socioeconômicas de ações e instituições econômicas no Brasil.
2 Pesquisador Independente. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: mfontella1976@gmail.com Orcid: https://
orcid.org/0000-0003-0197-9890
Revista TOMO, São Cristóvão, v. 44, e20837, 2025
DOI: 10.21669/tomo.v44.20837
Artigo Livre
E-ISSN:2318-9010 / ISSN:1517-4549
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Odil Matheus Fontella
INTRODUÇÃO
Nos anos 1980, o renomado sociólogo da Economia Richard Swedberg reconheceu a produção
brasileira em Sociologia Econômica (Swedberg, 1987) ao destacar a criação, em 1978, do comitê
de pesquisa Economia e Sociedade na International Sociological Association (ISA), então coorde-
nado pelo norte-americano Neil J. Smelser e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso3. Em 1979,
o comitê promoveu seu primeiro evento oficial, uma conferência na Itália, com a participação do
sociólogo brasileiro Luciano Martins (autor de obras sobre a formação do empresariado industrial
no Brasil) e de Harry M. Makler, sociólogo atuante no Canadá e nos Estados Unidos e que pesqui-
sou bancos e finanças no Brasil nos anos 1970. No entanto, considero que existe uma espécie de
amnésia sociológica (Law; Lybeck, 2015) sobre o desenvolvimento da Sociologia Econômica no
Brasil. O interesse pela área de pesquisa antecedeu os anos 1970, com suas origens resgatadas,
neste artigo, desde os anos 1930. Argumento que o período de 1935 a 1979 foi um período frutí-
fero de estudos e que é preciso evidenciar o desenvolvimento da área no período citado e referen-
ciar tais publicações na Sociologia Econômica brasileira contemporânea.
Com o fim de superar tal amnésia disciplinar, foi realizado um resgate histórico de parte expressi-
va da Sociologia Econômica no Brasil a partir de um amplo levantamento de artigos, livros, confe-
rências, comunicações, relatórios de pesquisa, além de eventual fortuna crítica, seja em material
impresso, seja em formato digital. As fontes foram mencionadas ao longo deste artigo. As citações
neste artigo, em geral com longos trechos selecionados, justificaram-se como retratos da relevân-
cia da variada trajetória autoral, disciplinar, teórica e empírica da Sociologia Econômica no Brasil
há muitas décadas. O trabalho para reencontrar a origem brasileira da Sociologia Econômica foi
árduo, visto que a maior parte do material se encontrava dispersa e, não raro, estava rotulada
como pertencente a outras áreas de conhecimento. Tal material disperso foi aqui reunido e apre-
sentado como exemplar da novidade do passado que é o resgate da extensa História da Sociologia
Econômica no país.
Assim, foram consultados diversos acervos nacionais e estrangeiros, entre os quais: Fundação Bi-
blioteca Nacional (FBN), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
(FESPSP), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Universidade Federal da Bahia
(UFBA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fundação Getulio Vargas (FGV), Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS), Universidade de Caxias do Sul (UCS), Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(CEBRAP), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Bi-
blioteca Nacional da França (BnF). As buscas se concentraram nos termos: “Sociologia Econô-
mica”, “Sociologia da Economia”, “Sociologia da Vida Econômica”, “Estudos Sociais da Economia”,
“Socioeconomia”, “Análise Sociológica da Economia”, “Aspectos Socioeconômicos”.
Para a apresentação dos resultados, este artigo foi dividido em dois períodos. O primeiro, de 1935
a 1950, situou a aparição do verbete “Sociologia da Economia”, a importância acadêmica de Roger
Bastide e Florestan Fernandes e a inserção da Sociologia Econômica na grade curricular nos cur-
3 Para um histórico inicial do comitê, que existe até hoje, cf. International Sociological AssociationBulletin, 1983, p. 8-9.
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A Novidade do Passado
sos de Ciências Econômicas. Em relação ao segundo período, de 1950 a 1979, foram agrupados
os autores por temas de pesquisa e selecionados trechos de seus livros que comprovam a filiação
à disciplina de Sociologia Econômica. Nesse segundo momento do artigo, foram selecionadas três
temáticas socioeconômicas mais amplas, isto é, dinheiro; empresa, empresários e grupos econô-
micos, e (sub)desenvolvimento em seus aspectos sociais e econômicos. É em respeito aos limi-
tes de um artigo que foram definidos arbitrariamente tais assuntos. Ressalva-se, porém, que esta
publicação integra um projeto mais amplo e ambicioso e são diversas as temáticas existentes no
período aqui selecionado.
Para listar alguns desses outros temas na Sociologia Econômica brasileira de então: mercado; imi-
gração, etnia e economia; religião (catolicismo, protestantismo, messianismo, religiões africanas)
e economia; Estado e economia; família e economia; estratificação social e classes sociais; preço,
inflação e valores (moral e economia); custo de vida e orçamento familiar; propriedade; industria-
lização e urbanização; trabalho feminino; trabalho infantil; trabalho doméstico; economia indíge-
na; fome, desnutrição e mortalidade; modais de transportes (ferroviário, rodoviário, aéreo, nave-
gação de cabotagem); mentalidade capitalista; capitalismo e socialismo; cooperativismo e ajuda
mútua; trabalho, sindicalismo e empresa industrial; pobreza urbana e rural; questão racial e eco-
nomia; favelas e aspectos socioeconômicos e urbanos; habitação; educação e economia; universi-
dade e desenvolvimento; tecnologia; burocracia; racionalidade; empreendedorismo; profissões;
arte e economia; artesanato; mobilidade social; Amazônia, meio ambiente e economia; revisão de
autores clássicos diversos da Sociologia Econômica.
2 1935-1950: A SOCIOLOGIA DA ECONOMIA EM MANUAIS, DICIONÁRIOS E CURSOS
E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DISCIPLINAR DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA
A partir dos anos 1930, época do surgimento de diversos manuais sociológicos no Brasil (vide
Meucci, 2001, para uma listagem de obras), fizeram-se presentes citações breves, esquemas e
alguma discussão sobre o que é Sociologia Econômica e quais os seus principais temas: trabalho,
mercado, moeda (dinheiro), competição/concorrência, capitalismo, socialismo, liberalismo, esta-
tismo, pobreza e assistência (Delgado de Carvalho, 1935). Nesse período, as condições sociológicas
da Economia são o foco de discussão como explicitado no trecho a seguir:
A vida econômica preocupou o homem de todos os tempos, mas o seu estudo sistemático
e sociológico é relativamente recente porque, durante séculos, o lar foi a célula econômica
e as relações de intercâmbio e interdependência foram relativamente poucas. É no mundo
moderno, no qual se multiplicaram as comunidades, as transações, as facilidades de toda
ordem, que devia tomar proporções de verdadeira ciência o estudo das condições socioló-
gicas da Economia (Delgado de Carvalho, 1939, p. 178).
Nesse período, tal Sociologia da Economia já possui definições sumárias, como o verbete – “Economia
(Sociologia da)”, escrito pelo sociólogo e antropólogo, com formação em Economia, Emilio Willems
(vide Baldus e Willems, 1939). Este autor também produziu um capítulo teórico/empírico acerca
da imigração alemã no Brasil, desenvolvendo uma Sociologia Econômica da mentalidade capitalista
com base em Max Weber e Werner Sombart (Willems, 1940) – ressalva-se que Willems (1905-1997)
era alemão e viveu no Brasil entre 1931 e 1949. A Sociologia Econômica seguiu sendo citada em
edições de manuais sociológicos no decorrer dos anos 1940 e também foi citada por Willems em
dicionário sociológico no começo da década posterior (Willems, 1950). Nessa última obra, Willems
considerou a Economia como integrante da cultura e definiu os objetivos da Sociologia Econômica:
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Odil Matheus Fontella
Economia. Parte da cultura que visa à produção, a distribuição e o consumo de utilida-
des relativamente escassas (...) A produção de utilidades (caça, pesca, pastoreio, lavoura,
manufatura, transporte, etc.) associa os homens de maneira específica, dando não somen-
te origem a grupos especializados, mas influindo também sobre os demais, muitas vezes
de modo decisivo. De outro lado, a organização social influencia o desenvolvimento das
atividades econômicas. Os padrões econômicos estão intimamente associados aos demais
padrões culturais, de modo que modificações na cultura não econômica repercutem geral-
mente sobre as atividades econômicas e vice-versa. A sociologia econômica visa o es-
tudo daquelas formas de associação que se propõem objetivos econômicos ou que
sofrem influências econômicas. Também o estudo das modificações estruturais que
grupos econômicos sofrem pela interação com grupos não econômicos figura entre
os objetivos da sociologia econômica (Willems, 1950, p. 49, grifo nosso).
A Sociologia Econômica foi também destacada na revista Sociologia (que circulou entre 1939 e
1966) com o primeiro artigo de relevo “Introdução a um Curso de Sociologia Econômica” editado
em 1942, de autoria do sociólogo e antropólogo francês Roger Bastide (1898-1974), que trabalhou
no Brasil entre 1938 e 1954. No artigo, Bastide abordou assuntos diversos como o enfoque socio-
lógico das instituições econômicas e das leis econômicas, o caráter histórico do Homo oeconomicus
e apresentou contribuições da Escola Durkheimiana (Mauss, Simiand, Halbwachs, Bouglé) acerca
de temas como troca, salário, classe e estratificação, consumo e propriedade.
Acerca das instituições econômicas, tais como sindicato, cooperativa, empresa ou mercado, Bas-
tide os conceituou do ponto de vista sociológico como “relações inter-humanas”, relações que são
estabelecidas por determinado número de representações coletivas. Sobre o que denominou as
grandes leis da vida econômica, tais como concorrência e cooperação, Bastide diferenciou as pers-
pectivas da Economia, da Sociologia, da Moral e do Direito. A respeito de cooperação entre em-
pregadores, por exemplo, Bastide entendeu que ao sociólogo importaria examinar a intensidade
e a qualidade das solidariedades que tal cooperação criou, ao passo que ao economista restaria
analisar qual influência teve tal cooperação sobre geração de riquezas, salários ou distribuição de
produtos.
A respeito do mercado, Bastide (1942, p. 364), ao se sustentar na análise weberiana, afirmou que:
“(...) o sociólogo que se ocupasse do mercado teria por missão mostrar como ele desconcretiza o
homem, desprendendo-o das diversas relações vividas, nas quais é ele envolvido – de parentesco
de religião ou de raça – para fazê-lo entrar numa nova ordem de simples relações formais amigá-
veis”. Anos mais tarde, ao se tratar do estudo dos mercados nagôs, na África Ocidental, desenvolvi-
do por Roger Bastide em colaboração com Pierre Verger (Bastide, Verger, 2002 [1959]), o enfoque
sobre esferas mercantis vinculou essa dimensão formal, típica do capitalismo plenamente dirigido
ao lucro, com dimensões de caráter comunitário e familiar, igualmente compostas de elementos
étnicos e religiosos.
Bastide também citou Karl Marx e notadamente Max Weber que tratou de mercado em Economia
e Sociedade, com indicação de rodapé da segunda edição da obra, em 1925, em alemão, língua que
Bastide justamente aprendeu para ler a obra weberiana no original, aprendizado incomum na So-
ciologia francesa daqueles tempos. Bastide, inclusive, recebeu uma carta, em 1936, em que Marcel
Mauss revelou incômodo com a obra de Weber (Steiner, 2011, p. 199).
A influência de Bastide para a afirmação da Sociologia Econômica brasileira ultrapassou o artigo
publicado em 1942. Por exemplo, em breve Introdução a artigo extenso de pesquisa sobre urba-
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A Novidade do Passado
nização e industrialização em São Paulo, coordenada pela socióloga Lucila Herrmann (Herrmann
et al., 1943), publicado na “Revista do Arquivo Municipal”, Bastide defendeu síntese prática so-
bre dois modos de se definir o escopo teórico da Sociologia Econômica. Um seria o substituto
da disciplina de Economia e o outro complementar à disciplina. Na sequência, Bastide detalhou
que o objetivo do Departamento de Pesquisas Sociais comandado pela socióloga Lucila Herrmann
(1902-1955), na Universidade de São Paulo, foi desenvolver diversificada Sociologia Econômica
do estado de São Paulo (economia agrícola, industrial, de serviços e desenvolvimento urbano).
Desse modo, tratou-se de pioneiro centro de pesquisas empíricas em Sociologia Econômica
no Brasil, um marco institucional, histórico e acadêmico da disciplina no país.
Ainda nos anos 1940, Florestan Fernandes (1920-1995), também diretamente influenciado por
Roger Bastide, tratou explicitamente de Sociologia Econômica e do enfoque que a Sociologia e a
Antropologia conferem à atividade econômica. Em 1948, Florestan Fernandes considerou a Socio-
logia Econômica, amparado no artigo de Roger Bastide (1942), como a disciplina mais adequada
para o estudo sociológico do que Fernandes denomina como economia primitiva, isto é, os sistemas
econômicos das sociedades primitivas. Fernandes defendeu que:
(...) a Sociologia Econômica precisa elaborar instrumentos próprios de investigação, susce-
tíveis de facilitar a exploração, a elaboração e a interpretação de materiais sobre os siste-
mas econômicos das sociedades primitivas. Doutro lado, fica claro que não existe nenhuma
razão de ordem científica que impeça estes desenvolvimentos da Sociologia Econômica.
Os sistemas econômicos dos povos primitivos constituem, ao contrário, um objeto aberto
à explicação do método sociológico. O maior serviço prestado pelos etnólogos à análise da
Economia foi, exatamente, o de quebrar as barreiras do etnocentrismo ocidental, que se
revelava fortemente exclusivista e unilateral, mesmo sob a forma de consciência científica
dos fenômenos econômicos (Fernandes, 1976 [1948], p. 245).
O artigo de 1948 foi republicado por Fernandes como o sexto capítulo que compõe o livro Ensaios
de Sociologia Geral e Aplicada, com a primeira edição em 1960. Nesse estudo teórico, intitulado O
Estudo Sociológico da Economia Primitiva, Fernandes evocou distintos sociólogos e antropólogos
como Bastide (1942) sobre o que é Sociologia Econômica: Karl Marx (Contribuição à Crítica da
Economia Política, em tradução do próprio Fernandes, lançada em 1946), Max Weber (Economía
y Sociedad, História Económica General), Werner Sombart (El Apogeo del Capitalismo), o durkhei-
miano François Simiand (Le Salaire, l’évolution sociale et la monnaie), Melville J. Herskovits (Man
and His Work), Marcel Mauss (Essai sur le Don) e E.E. Evans Pritchard (The Nuer).
Em estudo sobre a economia Tupinambá, Fernandes (1949) considerou toda a atividade econômi-
ca, toda a economia como inserida na sociedade, perspectiva fundamentada na obra do antropó-
logo e sociólogo funcionalista austríaco Richard Thurnwald (1869-1954). Fernandes detalha:
Penso que não seria de todo descabido chamar a atenção para a orientação metodológi-
ca adotada na análise da economia Tupinambá. Para o antropólogo e para o sociólogo, a
economia é acima de tudo uma realidade humana. Por isso, quando empregam o termo
sistema econômico fazem-no tendo em mente designar a integração das atividades econô-
micas à estrutura social (...) Todas as ações econômicas, sem nenhuma exceção possível,
têm por objetivo a satisfação de necessidades humanas fundamentais, culturalmente defi-
nidas sob a forma de valores sociais (...) Assim, caem dentro do sistema econômico todas as
atividades, ações e relações sociais que colocam os indivíduos uns diante dos outros como
homines economici (...) A peculiaridade na colocação do problema consiste, é óbvio, em con-
siderar a economia como parte da sociedade. São amplas as pistas abertas deste modo à
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Odil Matheus Fontella
análise sociológica. Elas abrangem: as formas socioculturais de adaptação e de controle do
meio físico; a organização social das atividades econômicas grupais e intergrupais; as rela-
ções tangenciais dos grupos sociais com o sistema econômico; a interferência dos fatores
econômicos na cristalização e no ordenamento de determinados tipos de relações sociais
(entre indivíduos ou grupos) (Fernandes, 1949, p. 8-9).
Em 1945, Getúlio Vargas assinou um decreto que determinou modificações no currículo de cursos
de Economia no Brasil (vide Marchetti, 2009, sobre evolução de currículos de Economia). Uma das
disciplinas que se consolidou no currículo foi Princípios de Sociologia Aplicados à Economia,
designada por simplificação como Sociologia Econômica. Assim, entre o final de 1940 e o começo
da década de 1960, a referida disciplina começou a fazer parte do currículo dos cursos de Ciências
Econômicas, em ao menos quatro capitais: Rio de Janeiro (RJ atualmente, à época capital federal),
São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS).
3 1950-1979: A SOCIOLOGIA ECONÔMICA NO BRASIL – DINHEIRO; EMPRESA,
EMPRESÁRIOS E GRUPOS ECONÔMICOS; (SUB)DESENVOLVIMENTO
Entre 1950 e 1979, três grandes eixos temáticos ganharam foco na Sociologia Econômica brasilei-
ra: (1) dinheiro; (2) empresa, empresários e grupos econômicos, e (3) (sub)desenvolvimento e a
crescente industrialização e urbanização do país.
3.1 Sociologia do dinheiro
Nos anos 1950, a Faculdade de Ciências Econômicas da então Universidade de Minas Gerais, atual
UFMG, contava em seu quadro com o livre-docente de Sociologia Econômica, professor de Política
e advogado mineiro Julio Barbosa (1920-2002), que, ao término daquela década, foi reconhecido
como um nome exemplar da Sociologia Econômica no país (Candido, 2006[1959], p. 300).
Ao final dos anos 1950 e 1960, Barbosa publicou estudos sociológicos4, dos quais pode-se desta-
car Elementos para uma Sociologia do Dinheiro (1952), editado em Belo Horizonte (MG) e apre-
sentado pelo autor como “uma tipificação sociológica, na qual o dinheiro aparece como um dado
concreto, propulsor de formações sociais capazes de apreensão científica” (Barbosa, 1952, p. 10).
Barbosa afirmou que sua pesquisa se restringiu ao impacto monetário na estrutura social e a in-
fluência do dinheiro sobre aspectos vitais do homem moderno e não buscou examinar nem as
circunstâncias da invenção nem da evolução da moeda. Destacou que seu objetivo foi analisar
sociologicamente o dinheiro no complexo cultural típico do Ocidente sob o regime capitalista:
A nossa pesquisa circunscreve-se à repercussão do dinheiro na estrutura social moderna,
e sua influência nos modos de ser, pensar e agir adotados pelo homem de hoje. Considera-
mos o dinheiro, na sua forma atual, como um produto inerente à sociedade capitalista, da
qual, aliás, é a mais delicada flor. Dinheiro e capitalismo são duas figuras geminadas que se
completam por sua essencial irredutibilidade (Barbosa, 1952, p. 11).
4 Outras obras são: Teoria e Ideologia Econômica (1953); Da Natureza Instrumental do Pensamento Econômico (1954); Intro-
dução à Sociologia Especial (1955), no qual apresenta a Sociologia Econômica como uma Sociologia Especial, subárea da
Sociologia; Contribuição à Crítica da Ciência Econômica nos Países Subdesenvolvidos (1961).
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A Novidade do Passado
Barbosa se fundamentou na Sociologia Econômica alemã de Georg Simmel e Max Weber para evi-
denciar o dinheiro como o meio de cálculo e de racionalização da vida social no regime capitalista.
Além disso, salientou que uma das mais relevantes consequências da economia monetária é a
ampliação do alcance da estrutura grupal, exatamente pelo caráter abstrato, flexível e impessoal
do seu uso (Barbosa, 1952, p. 39).
Barbosa concluiu que o dinheiro predomina de modo avassalador no que designa como categorias
da vida social moderna e enfatiza o caráter analítico e compreensivo da Sociologia do Dinheiro:
(...) a circulação monetária, do ponto de vista sociológico, acarretou a introdução de uma
série típica de categorias da vida social, as quais lograram ser adotadas pelo homem mo-
derno de modo o mais amplo possível. O raciocínio social, os valores, a técnica, a ciência,
tudo recebeu do dinheiro a sua contribuição condicionadora. Hoje, cada vez se torna menor
a área não invadida pelo impacto monetário (...) Porque o dinheiro é uma avalanche. Sua
ideologia é implacável e esmagadora. A sociologia do dinheiro que ousamos propor é o seu
estudo e a sua compreensão. Por intermédio dela é que os economistas, os políticos, os
moralistas e o próprio homem moderno poderão decidir se o caminho será transacionar
com ela, sujeitar-se, dominá-la ou superá-la. Aqui, porém, a sociologia se despede, mas não
se desinteressa (Barbosa, 1952, p. 70).
Duas décadas após a sociologia monetária proposta por Barbosa, o jurista, sociólogo e historia-
dor Raymundo Faoro (1925-2003) publicou uma abordagem sociológica do dinheiro, em uma
junção de Sociologia de matriz weberiana, Economia, História, Política e Literatura. Os Donos do
Poder (1958, com segunda edição ampliada em 1975) é sua obra mais conhecida. Entretanto,
também escreveu o livro Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio (1974), no qual apresenta
vasta e documentada análise socioeconômica e política da onipresença e do poder do dinheiro nas
últimas décadas do Império e nas primeiras da República no Brasil, tudo ilustrado pela literatura
machadiana. Faoro advertiu:
Ninguém se engane com o painel aparente da sociedade na obra de Machado de Assis (...)
Nitidamente, há uma estrutura de classes – banqueiros, comerciantes e fazendeiros – so-
bre outra estrutura de titulares, encobrindo-a e esfumando-lhe os contornos. É a camada
da penumbra que decide os destinos políticos, designa deputados e distribui empregos pú-
blicos. São as “influências”, os homens que mandam, que se entendem com os executores e
dirigentes das decisões do Estado. Duas faixas se separam, com clareza, no conteúdo e no
conceito, na ação social, não raro entrecruzando-se e se confundindo. Para simplificar e com
antecipação: a classe em ascensão coexiste com o estamento; muitas vezes, a classe perde
sua autonomia e desvia-se de seu destino para mergulhar no estamento político, que orienta
e comanda o Segundo Reinado. Há uma sociedade de classe em plena expansão, cifrada,
nas expressões mais gloriosas, nos banqueiros, nos prósperos comerciantes, nos capitalistas
donos de rendas, nos senhores de terras e nos escravos. O dinheiro é a chave e o deus desse
mundo, dinheiro que mede todas as coisas e avalia todos os homens. Falcão, persona-
gem de um conto publicado em 1883 (A anedota pecuniária, II, 422), ao relatar o enterro de
um amigo, para referir o esplendor do préstito de 1864, não achou melhor expressão do que
dizer: “Pegavam no caixão três mil contos!” (Faoro, 1974, p. 4, grifo nosso).
Também nos anos 1970, a socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018), discípula, tra-
dutora e divulgadora da obra de Roger Bastide, abordou o poder da influência do dinheiro no
Brasil desde sua colonização por Portugal. No artigo teórico, “Singularidades Socioculturais do
Desenvolvimento Brasileiro” (1975), ela enfatizou o papel predominante do dinheiro sobre a vida
econômica brasileira:
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Colônia Portuguesa até 1822, o desenvolvimento artesanal e industrial do Brasil co-
nheceu grandes obstáculos colocados pela metrópole. A sociedade agrária que se orga-
nizou pouco a pouco no País era dominada pela ânsia dos colonizadores de ‘fazer América’,
isto é, de enriquecer e de voltar para Portugal, para ali gastar o dinheiro adquirido, de-
monstrando o poder econômico recentemente conquistado. (…) Esta demonstração clas-
sificava imediatamente o indivíduo nos níveis superiores da sociedade e lhe permitia in-
gressar numa parentela importante através do casamento. Desde o início da colonização,
a sociedade brasileira foi portanto uma sociedade dominada pelo dinheiro (Pereira
de Queiroz, 1975, p. 69, grifo nosso).
3.2 Sociologia da Empresa, empresários e grupos econômicos
A Sociologia da Empresa no Brasil é longeva e diversificada em temáticas, autores e obras. Entre os
anos 1950 e 1970, o Brasil passou por um período de profundas transformações: industrialização,
urbanização, aumento populacional, burocratização, secularização. As consequências foram o ex-
pressivo aumento do número de empresas no país, mudanças nas formas de estratificação social,
da estrutura do mercado de trabalho que favorecia uma grande oferta de mão de obra (todavia,
sem qualificação e com baixos salários) e novo padrão de relações laborais, de natureza puramen-
te contratual.
Este último aspecto ocorreu especialmente nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São
Paulo (Costa Pinto e Bazzanella, 1958; Costa Pinto, 1959, 1962, 2018[1958]; Bazzanella, 1963,
1962; Fernandes, 1963; Brandão Lopes, 1964; Blumer, 1960). Esse cenário foi fértil para que
emergissem pesquisas para entender o papel da empresa (seus problemas organizacionais, suas
relações de trabalho, sua integração ao meio socioeconômico circundante) na sociedade bra-
sileira. Nessa direção, Florestan Fernandes considerou um projeto de pesquisas sociológicas,
sob sua coordenação, sobre empresa industrial na cidade de São Paulo, como exemplo de So-
ciologia Econômica (Fernandes, 1963, p. 351). Para fins analíticos, esta seção foi dividida em
subtemas.
3.2.1 Racionalização, Organização do Trabalho e Burocratização da Empresa
Nos anos 1950, uma preocupação da Sociologia Econômica brasileira é com o “espírito” da ra-
cionalização da organização do trabalho na empresa e a sua crescente burocratização. As
obras dos sociólogos Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982) e Mário Wagner Vieira da Cunha
(1912-2003) são exemplares desse momento (Guerreiro Ramos, 1951, 2009[1950]; Vieira da
Cunha, 1951).
Guerreiro Ramos considerou a empresa como um sistema social: “compreende-se que a empresa
não existe abstratamente e, sim, em um contexto social” (Guerreiro Ramos, 2009[1950], p. 102).
Para o autor, o foco da pesquisa deve ser a inter-relação da indústria e da comunidade; a empresa
como sistema social; o ajustamento e o desajustamento do trabalhador no trabalho industrial;
as ocupações e suas implicações e características; as relações industriais; a industrialização das
áreas subdesenvolvidas (Guerreiro Ramos, 1951, p. 5-6). Assim, a racionalização do trabalho é
confrontada com a empresa considerada como integrante do complexo social: “Vieram mostrar os
recentes estudos sociológicos que a empresa não é uma entidade cindida do complexo social, ela
está permeada, dinamizada por forças sociais provenientes do meio em que se encontra” (Guerrei-
ro Ramos, 2009 [1950], p. 104).
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A Novidade do Passado
Na década seguinte, Fernando Henrique Cardoso (1964), apoiado em estudos do sociólogo francês
Alain Touraine, tratou em artigo dos limites da teorização da Sociologia sobre a questão da empre-
sa e da burocratização. Cardoso considerou que:
Os limites da possibilidade de conceber-se a empresa a partir de modelos tradicionais de
burocratização impõem-se à teoria sociológica moderna. Esta, ao mesmo tempo que enri-
quece o conceito de burocratização através de uma casuística que inclui a noção de «fun-
cionalização», deixa de supor que a burocratização total seja uma característica inerente ao
espírito de racionalidade da empresa capitalista moderna (Cardoso, 1964, p. 161)
3.2.2. Mobilidade de mão de obra e empresa
No início dos anos 1950, Lucila Herrmann, uma pioneira da Sociologia Econômica e de base es-
tatística no Brasil (Candido, 1958), prosseguiu, sozinha ou em colaboração (Herrmann, 1951;
1953; Herrmann e Castro, 1952), com estudos iniciados na década anterior sobre o problema
do turnover, isto é, a mobilidade de mão de obra em empresas como os casos da companhia de
aviação Panair5 e da indústria têxtil. Herrmann (1951, p. 321) apontou a rotatividade elevada
principalmente entre o pessoal das funções de terra do aeroporto, dos quais 70% eram operários
não qualificados. A busca pelo prestígio de se trabalhar em companhia de aviação, até mesmo para
os trabalhadores sem qualificação para altos cargos, era acompanhada de desilusão pela ocorrên-
cia de imprevistos, dificuldade de acessar o aeroporto, condições árduas de trabalho. Acerca da
indústria têxtil, Herrmann, em colaboração com Luiz Cunha Castro (1952), elencou as razões que
levam ao turnover da mão de obra: havia as razões próximas, como a dispensa de um operário
por falta de serviço, pedido espontâneo de demissão, dispensa por serviço insatisfatório, e remo-
tas, como ineficiência da administração, dificuldades financeiras da empresa, flutuações cíclicas
(Herrmann e Castro, 1952, p. 59).
3.2.3. Empresa e mercado como instituições sociais
Em 1952, em Porto Alegre (RS), Laudelino Teixeira de Medeiros (1914-1999), então catedrático
das disciplinas de Sociologia Econômica e de Estudo Comparado dos Sistemas Econômicos, definiu,
em breve artigo em revista editada por acadêmicos de graduação em Economia, que uma realida-
de econômica como formação de preço é também realidade social e que empresa e mercado são
instituições sociais:
Nos mesmos acontecimentos em que descobrimos a realidade econômica encontramos
também a realidade social: uma fábrica pode ser encarada como um fato econômico de pro-
dução e como um fato de organização social; um ato de comércio, que é um fato econômico
de produção de serviços, também pode ser encarado como um fato social de solidariedade.
E, de fato, é quase impossível examinar a realidade econômica sem que aflore a realidade
social, ou vice-versa, pois somos levados a não parar na análise. E esta atinge quase sempre
as implicações e as consequências, que são ora sociais, ora econômicas. É, por exemplo, o
caso do preço em economia: se examinamos a sua formação, facilmente aparece o “custo
de vida” e todas as suas implicações e consequências sociais e morais. Os próprios tratados
de economia pura não fogem a uma ou outra referência incidente a este respeito (...) A Eco-
5 Ao lado de Fernando de Azevedo (1950), Herrmann é também pioneira em pesquisas sociológicas no país acerca de trans-
portes e aviação comercial.
10
Odil Matheus Fontella
nomia, ao elaborar a teoria econômica, não pode ignorar a realidade propriamente social,
sobre a qual, ou na qual, existem os fatos econômicos. Em primeiro lugar, as instituições
econômicas – pontos de partida ou de amarra das relações econômicas – são instituições
sociais e muitas organizações societárias: a empresa, o mercado, o costume regulador, a
divisão profissional do trabalho, etc. (Medeiros, 1952, p. 700).
3.2.4 Racismo, preconceito, barreiras profissionais e empresa em quatro capitais brasileiras
Em 1953, o sociólogo Luiz de Aguiar Costa Pinto (1920-2002), no livro “O Negro no Rio de Ja-
neiro”, demonstrou o racismo e a discriminação no recrutamento para determinados empregos,
em empresas particulares, com base em anúncios de jornais. Costa Pinto (1953, p. 76) observou
a existência de recursos velados como a exigência de “boa aparência” ou, quando a candidatura a
emprego era feita por carta, com o pedido antecipado de fotografia anexa de candidato(a) à vaga.
Em outros casos, apontou o sociólogo, a exigência discriminatória era explícita, com a ressalva de
que candidatas a participar de um espetáculo musical deveriam ser “brancas”.
Em 1955, os sociólogos Roger Bastide e Florestan Fernandes coordenaram livro sobre discrimi-
nação e seus impactos sociais, culturais e econômicos na capital paulista: Relações Raciais entre
Negros e Brancos em São Paulo, tem uma segunda edição, revista e ampliada, em 1959. Na edição
de 1955, em estudo intitulado Manifestações do Preconceito de Cor, Bastide observou barreiras
profissionais para o trabalho de negros em empresas industriais e comerciais em São Paulo. Bas-
tide (1955) evidenciou que a mulher negra ou mestiça sofria ainda mais discriminação por meio
do que é denominado preconceito estético:
As pessoas de cor são relegadas para longe da vista do público, nas oficinas internas; não
são aceitas nos escritórios a que o público tem acesso, como secretárias ou datilógrafas
(...) O chefe do pessoal de uma loja, frequentada sobretudo pela classe média, não pôde
disfarçar a sua pena: ‘Sinto muito ser obrigado a recusar moças diplomadas e inteligentes’
(Bastide, 1955, p. 145).
Também em 1955, o antropólogo Thales de Azevedo (1904-1995) tratou de preconceito e discri-
minação racial em capítulo sobre comércio no livro As Elites de Cor. Thales de Azevedo (1955, p.
94-95) apresentou diversos casos e situações em que o elemento étnico-cultural foi chave para ex-
plicar diferenças e desigualdades de estratificação social – classe, profissão, renda e status social.
Um dos casos apontados pelo autor está na contratação livre, em firmas controladas por europeus
em Salvador, de pessoas negras e mestiças, mas com restrição: “Nos escritórios das grandes firmas
importadoras e exportadoras, constituídas em parte de europeus como alemães, suíços, ingleses
(...) podem alcançar posições de responsabilidade, mas poucas vezes têm acesso ao quadro dos
proprietários” (Azevedo, 1955, p. 94).
Em artigo de 1960, Fernando Henrique Cardoso tratou de profissionalização e ascensão social
de negros em Porto Alegre. Cardoso considerou que, para o negro que ascende socialmente, há,
além do preconceito de cor, o preconceito de classe. Cardoso observou que não há, naquele mo-
mento, barreiras intransponíveis para o negro no processo de ascensão social, mas igualmente
aponta que há ao menos um importante setor industrial na capital gaúcha que sequer admite ne-
gros como operários. “As entrevistas feitas com chefes de pessoal e gerentes de fábricas e grandes
organizações comerciais mostram que as avaliações, contidas na lista de estereótipos desfavorá-
veis apresentadas pelos alunos de curso médio permanecem válidas na orientação do comporta-
mento dos brancos que detêm posições chave para a obtenção pelos negros de melhores situações
11
A Novidade do Passado
ocupacionais” (Cardoso, 1960, p. 594). Cardoso concluiu que, mesmo quando há ascensão profis-
sional e social, os negros na Porto Alegre de então encontraram dificuldades.
É verdade que podem ascender socialmente. Mas esta ascensão, no mais das vezes, em lu-
gar de significar a integração nas camadas médias da população branca, significa, em Porto
Alegre, a par de maior consideração social por parte de todos – brancos ou negros –, seu
ingresso no mundo à parte dos negros que, por terem mudado de «status» formalmente
sob alguns aspectos, e realmente sob outros, não podem mais participar da vida dos demais
negros de condição social semelhante aquela que possuíam no passado, nem conseguem
ser aceitos como iguais pelos brancos da sua nova condição social (Cardoso, 1960, p. 596).
3.2.5 Empresa como grupo social, Sociologia da empresa capitalista
Em 1955, o sociólogo e jurista Evaristo de Moraes Filho (1914-2016) apresentou uma so-
ciologia da empresa como grupo social.
A empresa é um grupo social, é uma instituição social (...) Constitui-se por um grupo de
pessoas, numeroso quase sempre (capitalistas, sócios, dirigentes, administradores, técni-
cos, operários, empregados de toda ordem, etc.), que se aproximam para realizar uma certa
ideia. Toda empresa tem uma finalidade a cumprir, ela é feita para fabricar determinados
produtos, pretende lucros, espera progredir (Moraes Filho, 1955, p. 59, grifo nosso).
Assim, após conceituar a empresa como “verdadeira unidade sociológica fechada” (p. 60), Moraes
Filho elencou processos sociais na empresa: competição, conflito, acomodação, assimilação e coo-
peração. Em relação à organização, o sociólogo e jurista tratou da estratificação e mobilidade na
empresa.
Em 1960, Moraes Filho publicou artigo conceitual sobre os efeitos sociais do desenvolvimento eco-
nômico e as consequências da industrialização sobre a estrutura e a dinâmica da empresa. Ele
considerou que a Sociologia se interessa pelo que representa a empresa de forma social e como se
realizam em seu interior os processos sociais (Moraes Filho, 1960, p. 232).
Com o crescente desenvolvimento econômico à época no Brasil, Moraes Filho enumerou as con-
sequências no meio social e nas relações entre empregado e empregador no âmbito da empresa
capitalista: divisão do trabalho social, na forma funcional e na forma técnica, cada vez mais com-
plexa e especializada; produção industrial em grandes estabelecimentos fabris que demanda um
permanente exército de reserva de mão de obra; grandes concentrações de capital para manuten-
ção do parque industrial; migração de regiões mais pobres para mais ricas; aumento de contatos
sociais e de comunicações em meios urbanos fabris; ampliação do consumo e do mercado; aumento
das distâncias entre patrões e operários; surgimento de instituições para aplicação de legislação
social, administrativa, previdenciária, trabalhista e sindical; aumento da complexidade da organi-
zação interna da própria empresa: diferenciação, hierarquização, racionalização.
3.2.6 Grupos econômicos e o conjunto de empresas interligadas
O sociólogo, antropólogo e historiador Mauricio Vinhas de Queiroz (1921-1996) estava no centro
de uma pesquisa – no início dos anos 1960, no Rio de Janeiro, na então Universidade do Brasil
(hoje, UFRJ) – sobre a estrutura e as funções dos grupos econômicos, com o estudo sendo realizado
12
Odil Matheus Fontella
por sociólogos e economistas. Tal levantamento deve ser visto ainda hoje como um dos maiores
projetos em Sociologia Econômica no país. Vinhas de Queiroz definiu grupo econômico como:
(...) todo conjunto relativamente poderoso de empresas interligadas pelo capital e/
ou pelo poder de decisão de dirigentes comuns, sempre que os vínculos existentes
entre as mesmas sejam mais fortes do que aqueles porventura mantidos com outros
grupos ou empresas isoladas. Compreende-se que só um conjunto ‘relativamente pode-
roso’ é que poderia ser considerado grupo econômico; pois, caso contrário, correríamos
o risco de colocar ao lado das companhias associadas que constituem o objeto de nosso
estudo – e que desempenham função importante e até decisiva na economia e na sociedade
– reuniões ocasionais de pequenas firmas como armazéns e padarias, cuja análise fugiria
ao nosso escopo (Vinhas de Queiroz, 1962, p. 157-158, grifo do autor).
Outro estudo sobre grupos econômicos na Sociologia Econômica Brasileira se encontra em São
Paulo, sobretudo na segunda edição revista, de 1973, do livro do sociólogo José de Souza Martins
Conde Matarazzo – o Empresário e a Empresa: estudo de Sociologia do Desenvolvimento.
Em referência ao trabalho de Vinhas de Queiroz sobre grupos econômicos (1962), Martins assim
explicou sua análise:
(...) eu vinha trabalhando com o conceito de “grupo econômico”, entendido como “conjunto
estável e relativamente poderoso de firmas interligadas pelo capital e o poder de decisão
de dirigentes comuns, devido a que o trabalho situa-se como parte de um projeto maior de
investigações sobre os grupos econômicos no Brasil. Por isso, empresa aqui é tomada não
como sinônimo de estabelecimento e sim de grupo de estabelecimentos interligados e o
empresário como dirigente principal quanto ao poder de decisão. Pelo conceito de grupo
alcancei a base real de atuação do empresário e, neste caso, a dimensão social adequada
da sua ação. A escolha do grupo Matarazzo para fundamentação empírica principal da mo-
nografia impôs-se não só por se tratar de grupo dos mais antigos (surgiu em 1881), mas
por se tratar de grupo sobre o qual se abateu a maioria das vicissitudes da industrialização
– econômicas, culturais e políticas. É, pois, um grupo altamente significativo para obter-se
uma compreensão sociológica do problema aqui tratado (Martins, 1973, p. 7).
4 DESENVOLVIMENTO E A MUDANÇA ESTRUTURAL DA SOCIEDADE E DA
ECONOMIA
O tema do desenvolvimento econômico e social é dos mais proeminentes na Sociologia Econômica
brasileira entre os anos 1950 e 1970. Para o sociólogo Juarez Rubens Brandão Lopes (1925-2011),
“desenvolvimento é entendido como envolvendo, em essência, mudança estrutural da sociedade
e da economia” (Brandão Lopes, 1968, Introdução, p. XV). Nessa perspectiva sociológica, o desen-
volvimento econômico é o resultado de um jogo de forças sociais. Brandão Lopes (2008 [1964])
buscou entender como o Brasil se urbanizou e se industrializou, com a análise dos processos de
migrações de população de meio rural/sociedade tradicional (com o exame da economia tradicio-
nal dessa sociedade fundamentado em Karl Polanyi) para uma sociedade urbano-industrial nas
cidades (onde predomina a economia de mercado, discutida com base em Max Weber). Brandão
Lopes assim definiu o processo do desenvolvimento para a Sociologia:
O desenvolvimento decorre do jogo de forças sociais e, ao mesmo tempo, tais forças se forjam
no seu curso. De um lado temos o desenvolvimento como resultado do entrecruzamento das
ações dos vários grupos e movimentos sociais, numa dada configuração estrutural; do outro,
13
A Novidade do Passado
constituem-se (ou se reconstituem) nesse processo de mudança o modo de ser e de agir da-
queles grupos (latifundiários, burguesia mercantil, industriais, camadas médias urbanas e
massas populares), assim como se altera a cena de sua ação (Brandão Lopes, 1968, p. 142).
Já as obras de L. A. Costa Pinto, entre as décadas de 1950 e 1970, abordam diversos temas de So-
ciologia Econômica no Brasil: classes sociais; sociologia das invenções; sociologia das profissões,
do comércio e da empresa varejista (como o breve estudo teórico-empírico O Balconista, de 1954
e reeditado em 1963); sociologia agrária e histórica e lutas de famílias por terras; o trabalho do
negro e a discriminação enfrentada por essa população no Rio de Janeiro dos anos 1950. No entan-
to, é na área de Sociologia do Desenvolvimento que Costa Pinto apresenta uma contribuição ainda
mais notória: a análise da dicotomia entre tradicional e moderno e entre arcaico e desenvolvido.
Para ele, o desenvolvimento econômico é um problema sociológico no Brasil:
O estudo sociológico dos problemas de desenvolvimento econômico não teria interesse,
nem mesmo, talvez, tivesse objeto, se o que estivesse em desenvolvimento não fosse uma
realidade humana, um conjunto de relações sociais cotidianas e concretamente vividas,
uma estrutura social e um estilo de vida. É isso o que realmente se transforma e como
tudo isso constitui o campo da sociologia, resulta que o desenvolvimento econômico é um
problema muito mais sociológico do que estritamente econômico. Entendemos que três
ordens de problemas constituem o foco do interesse sociológico na análise do desenvolvi-
mento econômico, na sua técnica e na sua política: a primeira é o estudo das condições so-
ciais do desenvolvimento; a segunda, é o estudo das implicações sociais do desenvolvimento;
a terceira, de natureza mais teórica e abstrata, é o estudo do próprio desenvolvimento em
si, como processo social e histórico (Costa Pinto, 1962, p. 300, grifo do autor).
De 1956 até o golpe civil-militar em março de 1964, Costa Pinto estruturou um centro de inves-
tigações sociológicas/socioeconômicas por meio de Instituto de Ciências Sociais onde hoje é a
UFRJ. Ali, sobressaíram publicações acerca de desenvolvimento de Costa Pinto e de seu fiel auxi-
liar de pesquisas, o sociólogo e economista Waldemiro Bazzanella (1923-2002), então professor
assistente de Sociologia Econômica na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do
Brasil (atual UFRJ).
Recepcionado no Rio de Janeiro por Costa Pinto e por Bazzanella, o sociólogo norte-americano
Herbert Blumer (1900-1987), célebre por ter criado a expressão/abordagem conceitual Intera-
cionismo Simbólico, viveu e trabalhou no Brasil durante 14 meses. A experiência brasileira marcou
profundamente a produção de Blumer nos anos 1960 sobre as dificuldades dos sociólogos em
conceituarem industrialização, urbanização e desenvolvimento (social, humano e econômico), em
especial nos países considerados em desenvolvimento como o Brasil de então.
Em artigo publicado nos Estados Unidos em 1966 e editado em português, no Brasil, como capí-
tulo de coletânea sobre Sociologia do Desenvolvimento, em 1975, Blumer criticou com veemência
as limitações ou mesmo ausência de conceituação analítica e de objetivos práticos a respeito da
ideia de desenvolvimento social. Os temas discutidos por Blumer são ainda mais impactantes ao se
lembrar que, à época da publicação, o Brasil era uma ditadura:
(...) não tem sido possível encontrar, nos trabalhos correntes sobre a expansão social, es-
tudos que se dediquem a temas de importância como os de superar a prática generalizada
de corrupção governamental, conseguir que os governos adotem políticas de austeridade,
arranjar que ricos latifundiários e industriais aceitem uma taxação razoável de suas ren-
das, induzir a classe rica a não exportar a sua riqueza e a aplicá-la no desenvolvimento
14
Odil Matheus Fontella
econômico doméstico, obter mudanças na estrutura da propriedade das terras de forma
que estas possam ser usadas com maior produtividade, conseguir que os legisladores des-
tinem somas maiores para educação do que para fins militares (em 1961, o orçamento do
Brasil destinava 45 por cento para o Exército contra 2,6 por cento para Educação), livrar
as burocracias públicas de um número excessivo e improdutivo de funcionários, romper os
sistemas venais de influência familiar, impedir climas sociais que favoreçam a demagogia,
controlar a avidez de grupos de interesse poderosos, introduzir um sistema prático de con-
trole de natalidade ou a justiça nas cortes. Estou tentando mostrar que, mesmo em termos
práticos, os sociólogos dedicam muito pouco estudo às formas de se conseguir desenvolver
valores culturais e formas sociais que eles aceitam como os objetivos do desenvolvimento.
Quer em termos práticos, quer em termos analíticos, não há uma preocupação significativa
em isolar os mecanismos de expansão social (Blumer, 1975 [1966] p. 49).
Igualmente entre o final dos anos 1950 e o início da década seguinte, em São Paulo, realizaram-se
pesquisas sociológicas, de recorte teórico-empírico, sobre trabalho, trabalhadores/operários fabris,
sindicalismo, empresa industrial, empresários e o papel do Estado no desenvolvimento econômico.
Décadas mais tarde, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, autor do clássico livro socioeconômico
Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico no Brasil (1964b), recordou tal época:
Passávamos pois da Sociologia para a antropologia e para a economia, tanto que um dos
meus primeiros impulsos foi fazer alguma coisa juntando economia com sociologia. Mais
tarde organizamos o Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho (Cesit) com esta mesma
preocupação (Cardoso, 2013, p. 180).
O Cesit, lembrado por Cardoso, foi fundado em 1961 por Florestan Fernandes e Alain Touraine.
Outro marco desse período da Sociologia com ênfase no econômico em São Paulo foi o projeto Eco-
nomia e Sociedade no Brasil. Florestan Fernandes o detalhou, em longa entrevista, nos anos 1970,
e o considerou como exemplo de Sociologia Econômica:
Logo no começo da década de 60, graças, principalmente, ao Fernando Henrique, nós ob-
tivemos uma dotação especial da Confederação Nacional da Indústria. Montamos, então,
o projeto “Economia e Sociedade no Brasil”. Nesse projeto nós tínhamos quatro investiga-
ções: sobre o empresário industrial, do Fernando Henrique; sobre o Estado, do Octavio
[Ianni]; um terceiro, sobre o trabalho, da Maria Sylvia e da Marialice; e o quarto, no qual eu
entrava, sobre as relações da urbanização com o crescimento econômico (para o qual Paul
Singer fez os cinco estudos de caso) (...) Acabamos dando uma contribuição importante a
uma área da Sociologia que poderia ser chamada de sociologia econômica: a teoria do de-
senvolvimento econômico nas nações capitalistas dependentes. Esse acabou sendo o nos-
so principal foco de trabalho. E essa é por assim dizer, a área em que eu mais trabalhei de-
pois que iniciamos o projeto Economia e Sociedade no Brasil (Fernandes, 1975, p. 16-17).
Além de Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes se referiu à parte do projeto Economia e
Sociedade relativa ao Estado, de autoria de Octavio Ianni (Ianni, 1964; 1965). Quanto ao desenvolvi-
mento econômico e urbanização em cinco cidades brasileiras, esse trabalho foi classificado pelo pró-
prio Paul Singer como Sociologia Econômica (Singer, 1977 [1968], p. 17). Em relação à parte sobre
trabalho, designada às sociólogas Maria Sylvia de Carvalho Franco e Marialice Foracchi (1929-1972),
dois fatores a obstaculizaram: transferência departamental da primeira autora e a morte prematura
da segunda. No entanto, em publicação póstuma, Foracchi editou o livro A participação social dos ex-
cluídos, em que examinou a condição social de desempregados e subempregados. Já Maria Sylvia foi
autora de obra clássica em Sociologia Econômica e Histórica: Homens Livres na Ordem Escravocrata.
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A Novidade do Passado
Florestan Fernandes detalhou o embasamento dessa Sociologia Econômica do (sub)desenvolvimen-
to, explicitada no projeto Economia e Sociedade, em livro editado em 1963, A Sociologia numa
Era de Revolução Social, em que define o que é a análise sociológica da economia:
A análise sociológica tenta compreender e explicar os fatos econômicos como parte da or-
ganização da sociedade. As atividades econômicas, como todas as atividades supraindivi-
duais dos homens, são coordenadas e reguladas por mecanismos sociais, o que faz com que
a ordem econômica seja uma expressão do padrão de integração social (...) A abordagem
sociológica da economia caracteriza-se, assim, pela preocupação básica de assentar a expli-
cação das regularidades econômicas na dinâmica das sociedades humanas (...) patenteou-se
claramente que a eficácia dos agentes humanos e o ritmo do crescimento econômico não
dependem, apenas, das condições e fatores especificamente econômicos – a sociedade en-
clausura a economia (Fernandes, 1963, p. 307-308, grifo do autor).
É necessário destacar que, entre a segunda metade dos anos 1950 e o final do decênio de 1970,
a Sociologia Econômica do Desenvolvimento é especialmente desenvolvida sobre a região Nor-
deste do Brasil. Neste ponto, por razões exclusivamente de espaço, respeitados os limites ex-
positivos de um artigo, são indicadas algumas obras de especial relevo sobre desenvolvimento
em perspectiva sociológica na referida região: os problemas sociais da exploração de petróleo
na Bahia (Costa Pinto, 1958; Azevedo, 1959; Machado Neto, 1989 [1971]); os condicionantes
sociais e culturais do desenvolvimento e da industrialização no Ceará (Aguiar Walker, 1970); os
aspectos sociais, culturais e econômicos de populações no Vale do Rio São Francisco (Pierson,
1972).
Em termos teóricos relativos a uma Sociologia Econômica do Desenvolvimento realizada por auto-
res nordestinos, é de se destacar obras do sociólogo, jurista e filósofo baiano A. L. Machado Neto
(1961; 1963) e do economista paraibano Celso Furtado (1979). No ensaio O Desenvolvimento do
Ponto de Vista Interdisciplinar, Furtado evidencia mudanças de enfoque em análises teóricas de
problemáticas sociais do desenvolvimento econômico:
O estudo do desenvolvimento ao conduzir a uma progressiva aproximação da teoria da
acumulação com a teoria da estratificação social e com a teoria do poder, constituiu-se em
ponto privilegiado de convergência das distintas ciências sociais (...) a temática tradicio-
nal em torno aos “obstáculos ao desenvolvimento” tendeu a ser substituída por outra que
alimenta o debate sobre os “limites ao crescimento”, os “estilos de desenvolvimento”, os
“tipos de sociedade”, a “ordem mundial”. O aprofundamento da análise das relações inter-
nacionais de dominação-dependência e de sua introjeção nas estruturas sociais, permitiu
ver com maior clareza a natureza da forças que respondem pela tendência à permanente
concentração da renda em benefício das economias dominantes e pela marginalização de
frações crescentes de população dentro dos países de economia dependente. Por outro, a
crítica da “lógica dos mercados” levou a uma clara percepção do impacto no ecossistema de
um tipo de sociedade que impulsa à acumulação ao mesmo tempo que reproduz necessa-
riamente as desigualdades (Furtado, 1979, p. 25-26).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo trouxe o resgate de temas desenvolvidos pela Sociologia Econômica no Brasil, entre
1935 e 1979. A própria definição do que é a Sociologia Econômica, do que é a análise sociológica
da Economia, como atividade e como disciplina, já é assunto trabalhado nos anos 1930 e na dé-
cada seguinte. A partir dos anos 1950, predominaram temáticas socioeconômicas no Brasil como
16
Odil Matheus Fontella
dinheiro; empresa, empresários e grupos econômicos, e sociologia do (sub)desenvolvimento bra-
sileiro e latino-americano.
Em termos teóricos, temáticos e de autoria, espera-se ter evidenciado a variedade de abordagens
socioeconômicas, influências teóricas variadas, teoria e empiria diversificados, autores(as) diver-
sos(as). É possível notar que os três temas citados acima são abrangentes e se justapõem a outros
assuntos da Sociologia Econômica. Dinheiro se vincula a preço, inflação, valores (moralidade e
economia), religião, custo de vida. Empresa, empresários e grupos econômicos têm vínculos com
burocracia, organização, racionalidade, mercado, Estado, etnia, gênero, família, elites, trabalho.
(Sub)Desenvolvimento trata inevitavelmente de trabalho, educação, empresa, mercado, planifica-
ção, Estado, gênero, classes sociais, renda, desigualdade, pobreza, riqueza, meio ambiente, cida-
des, campo e vida rural.
Neste artigo, buscou-se indicar aspectos institucionais da Sociologia Econômica no Brasil, com a
criação, por exemplo, de centros de pesquisa na área, em São Paulo, nos anos 1940 e 1960. Apesar
da curta duração de cada um, foram marcos disciplinares no país, conduzidos, respectivamente,
por Roger Bastide e Lucila Herrmann e, mais tarde, o Cesit de Florestan Fernandes e equipe (com
a participação fundadora de Alain Touraine). Entre 1945 e 1960, sinalizou-se igualmente a exis-
tência da disciplina de Princípios de Sociologia Aplicados à Economia, ou Sociologia Econômica.
Ainda em termos institucionais, quatro capitais brasileiras, já nos anos 1950, mantinham cadeiras
de ensino/centros de pesquisa em Sociologia Econômica: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizon-
te e Porto Alegre. Na região Nordeste, realizaram-se importantes estudos em áreas como Sociolo-
gia da Empresa (Firma) e, notadamente, Sociologia do Desenvolvimento. Nota-se que importantes
acadêmicos da disciplina, aqui apontados, são oriundos do Nordeste: Alberto Guerreiro Ramos, L.
A. Costa Pinto, Thales de Azevedo e Celso Furtado, bem como houve o caso de estrangeiros que
lá pesquisaram: Roger Bastide, Pierre Verger, Donald Pierson e Harry M. Makler. E sobre a inter-
nacionalização da Sociologia Econômica brasileira, tal dimensão já era evidente ao final dos anos
1970, por meio da presença de pesquisadores(as) nacionais ou com vínculos acadêmicos ao Brasil
e presentes na Associação Internacional de Sociologia (ISA).
Esta publicação integra um projeto mais amplo, ambicioso, detalhado e demorado, iniciado em
março de 2014 por idealização do autor: o resgate histórico mais completo possível da disciplina
de Sociologia Econômica no Brasil, desde seus primórdios, nas últimas décadas do século XIX, épo-
ca de uma protossociologia. O levantamento (temático, autoral e institucional) realizado seguiu a
abordagem da Sociologia/Sociologia Econômica em cursos de Direito no Brasil afora. Este levanta-
mento abordou as duas primeiras décadas do século XX, e, então, abrangeu a produção acadêmica
de Sociologia Econômica no Brasil a partir da institucionalização da Sociologia no país, nos anos
1930, até esta terceira década do século XXI6.
Considera-se que o resgate do passado de uma disciplina acadêmica no país é um embasamento
para compreender que correntes, tradições, temas, instituições e autores(as) foram mantidos(as)
e esquecidos(as). Tal compreensão é um desdobramento possível e viável para futuras pesquisas.
Mas, para sustentar tal compreensão, é preciso que se localize e se examine o máximo de materiais
disciplinares disponíveis. Com base em dez anos de pesquisas, acredita-se já haver uma vasta
6 O autor deste artigo apresentou trabalhos em eventos acadêmicos a respeito de partes de tal projeto, entre 2017 e 2023,
em instituições como UFRGS, PUCRS e USP, além de publicar dois estudos sobre autores fundamentais na trajetória da
Sociologia Econômica do Brasil: Roger Bastide (Fontella, 2017) e Lucila Herrmann (Fontella, 2022).
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A Novidade do Passado
fundamentação, mesmo que se reconheça ser algo ainda em aberto. Uma certeza de momento é
que a disciplina acadêmica de Sociologia Econômica se revela longeva, extensa e diversificada no
Brasil. Na busca por superar a amnésia sociológica que cerca a sua trajetória no país, apresen-
tou-se aqui este resgate bibliográfico, temático, autoral e institucional de tal disciplina como a
novidade do passado.
Referências
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Odil Matheus Fontella
The Novelty of the Past: Economic
Sociology in Brazil (1935–1979)
Abstract
Based on a bibliographical, thematic, and institu-
tional review carried out over the last ten years,
this article highlights the development of the dis-
cipline of Economic Sociology in Brazil between
1935 and 1979. Regarding the method, we applied
the historical retrieval of articles, chapters, confe-
rences, communications, research reports, books,
and any critical fortune, either in printed or digital
format. For the qualitative data analysis, we per-
formed textual analysis, followed by thematic and
interpretative analysis. The textual search focused
on the terms: “Economic Sociology”, “Sociology of
Economics”, “Sociology of Economic Life”, “Social
Studies of Economics”, “Socioeconomics”, “Sociolo-
gical Analysis of Economics”, “Socioeconomic As-
pects”. During the five decades analyzed, sociolo-
gical/socioeconomic approaches to diverse topics
such as economics (activity/discipline), market,
competition, firm, economic groups, money, (un-
der)development, the State, capitalism, social
stratification (social classes, income), entrepre-
neurship, have become apparent in the country.
The academic assignment Economic Sociology
is long-standing, extensive, and diverse in Brazil.
Attempting to overcome the sociological amnesia
that surrounds its trajectory in the country, we
present this bibliographical, thematic, authorial,
and institutional recovery of this discipline as a
novelty from the past.
Keywords: Economic Sociology; Market; Money;
Firm; Development.
Lo nuevo del pasado: la sociología
económica en Brasil (1935-1979)
Resumen
A partir de una revisión bibliográfica, temática e
institucional realizada en los últimos diez años, este
artículo destaca el desarrollo de la disciplina de So-
ciología Económica en Brasil entre 1935 y 1979. El
método aplicado fue la recuperación histórica de
artículos, capítulos, conferencias, comunicaciones,
informes de investigación y libros, así como cual-
quier fortuna crítica, ya sea en material impreso o
en formato digital. Para el análisis cualitativo de los
datos, se realizó un análisis textual, seguido de aná-
lisis temáticos e interpretativos. Las búsquedas tex-
tuales se concentraron alrededor de los siguientes
términos: “Sociología Económica”, “Sociología de la
Economía”, “Sociología de la Vida Económica”, “Es-
tudios Sociales de la Economía”, “Socioeconomía”,
“Análisis Sociológico de la Economía”, “Aspectos So-
cioeconómicos”. Durante las cinco décadas analiza-
das, se han hecho patentes en el país los enfoques
sociológicos/socioeconómicos de temas diversos
como economía (actividad/disciplina), mercado,
competencia, empresa, grupos económicos, dinero,
(sub)desarrollo, Estado, capitalismo, estratificación
social (clases sociales, renta) y emprendimiento. La
disciplina académica de la Sociología Económica es
antigua, extensa y diversa en Brasil. En un intento
por superar la amnesia sociológica que rodea su
trayectoria en el país, esta recuperación bibliográfi-
ca, temática, autoral e institucional de esta discipli-
na se presenta como la novedad del pasado.
Palabras Clave: Sociología Económica, Mercado,
Dinero, Empresa, Desarrollo.
Histórico
Recebido: Agosto/24
Parecer: Outubro/24
Parecer: Outubro/24
Aceito: Outubro/24
Revisado Autor: Novembro/24
Revisão Gramatical/Ortográfica e ABNT: Novembro/24
Revisado Autor: Dezembro/24
Publicado: Dezembro/24
Equipe Editorial Revista TOMO envolvida no processo editorial deste artigo
Marina de Souza Sartore (Editora-Chefe)
Marco Aurélio Dias de Souza (Editor Assistente)
Vilma Soares de Lima Barbosa (Editora Assistente)