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Dossiê

A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de
neuroidentidades virtuais

Javier Marzal1

Sandra Caponi2

Resumo
O artigo examina a influência das redes sociais na saúde mental, destacando como plataformas como o
Instagram e o YouTube contribuem para o aumento dos autodiagnósticos psiquiátricos, especialmente en-
tre os jovens. Esse fenômeno se intensificou durante a pandemia de Covid-19, quando informações sobre
saúde mental se espalharam amplamente, levando muitos a buscarem autodiagnósticos e a se identificarem
com neuroidentidades virtuais, usando expressões como “sou autista”, “sou TDAH” ou “tenho depressão”.
A depressão, o autismo e o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) são definidos no
discurso médico-psiquiátrico como condições que impactam significativamente a vida dos indivíduos. A
depressão é descrita como uma doença psiquiátrica que altera o humor, provocando tristeza profunda, de-
sesperança, baixa autoestima, distúrbios do sono e do apetite (Ministério da Saúde, 2024a). O autismo, ou
Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um transtorno do desenvolvimento neurológico que compromete
a comunicação, a socialização e resulta em comportamentos repetitivos (Ministério da Saúde, 2024b). Já o
TDAH é definido como um transtorno neurobiológico, de origem genética, caracterizado por desatenção,
inquietação e impulsividade, podendo persistir ao longo da vida (Ministério da Saúde, 2024c). Esse pro-
cesso reflete uma psiquiatrização da subjetividade e está profundamente conectado à lógica neoliberal de
transformar identidades em mercadorias. As redes sociais amplificam esse movimento ao oferecerem um
espaço de apoio, mas também simplificam questões complexas de saúde mental, muitas vezes reduzindo a
compreensão do sofrimento psicológico a diagnósticos e rótulos psiquiátricos.
Palavras-chaves: Redes sociais; Autodiagnóstico; Saúde mental; Identidade; Medicalização.

1 Centro Universitário UNICESUSC, Curso de Psicologia. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: javierlgmarzal@gmail.
com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1465-0026 CrediT: conceitualização, redação original, revisão final.

2 Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Educação e Ciências Humanas. Departamento de Sociologia e Ciência
Política. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: sandracaponi@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8180-
944X CrediT: conceitualização, redação original, revisão final.

Revista TOMO, São Cristóvão, v. 44, e21851, 2025
DOI: 10.21669/tomo.v44.21851

Dossiê: Tecnologias digitais e bem-estar: o olhar
da sociologia dos mercados

E-ISSN:2318-9010 / ISSN:1517-4549

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Javier Marzal; Sandra Caponi

Introdução

Neste escrito, abordamos o impacto das redes sociais no campo da saúde mental, fazendo referên-
cia a perfis de usuários de plataformas como Instagram e YouTube. Falar de Redes sociais e saúde
mental, significa falar de aumento de diagnósticos psiquiátricos, de autodiagnósticos, da procura
por medicações psiquiátricas. Perante essa complexidade, propomos priorizar aqui dos eixos de
análise que se encontram articulados.
Por um lado, analisamos o aumento de autodiagnósticos psiquiátricos possibilitado pela divulga-
ção e pelo acesso à informação sobre saúde mental que se disseminou pelas redes sociais, parti-
cularmente após o isolamento imposto pela pandemia de Covid-19. Nessas redes, jovens e adoles-
centes compartilham com facilidade informações e dados, muito questionáveis, sobre sintomas,
testes e estratégias de identificação, fomentando a procura por autodiagnósticos, com os quais
identificar seus mal-estares e sofrimentos.
O aumento dos autodiagnósticos é um fenómeno crescente, especialmente entre os jovens. Estu-
dos recentes indicam que aproximadamente 40% dos brasileiros se autodiagnosticam pela web
(Estadão, 2018). O acesso à informação sobre transtornos mentais nas plataformas digitais facilita
aos usuários a busca de respostas para suas preocupações sem consultar os profissionais de saú-
de, um fenômeno em crescimento depois da pandemia (Murphy, 2023).
Por outra parte, observamos que esse fenômeno de divulgação e ampliação de dados sobre saúde
mental está diretamente vinculado a outro processo, que é a crescente identificação de subjetivida-
des através de um rótulo, de um laudo ou de um diagnóstico psiquiátrico. Num segundo momento,
propomos analisar esse processo de identificação ou de construção da própria subjetividade pela
mediação de determinado diagnóstico psiquiátrico como sendo uma marca ou um atributo de iden-
tificação. Propomos este outro viés de análise pelo fato de cada vez mais pessoas se apresentarem
nas redes sociais, em perfis como: “sou coach e autista”, “sou designer e TDAH”, dentre outros.
Podemos dizer que a identificação da própria subjetividade com um diagnóstico, começou a expan-
dir-se a partir da rápida divulgação do Prozac, nos anos 1990, fomentando narrativas de si em clave
médico-psiquiátrica. Isso que Angel Martinez-Hernáez denominou como neuronarrativas de aflição
(Martinez-Hernáez, 2017). Martinez-Hernáez mostra de que modo surgem e se divulgam relatos em
primeira pessoa, que tendem a apresentar as histórias de vida e os sofrimentos psíquicos, particular-
mente os padecimentos femininos, em termos médicos. Estes relatos utilizam afirmações que indi-
cariam que os problemas vivenciados ao longo das trajetórias de vida encontrariam uma explicação
bioquímica, por algum desequilíbrio neuroquímico. Isto ocorre independentemente do fato de que
as causas neuroquímicas ou genéticas que provocariam os padecimentos, traduzidos como sintomas
de depressão, permaneçam desconhecidas até hoje. Pois ainda desconhecemos as bases biológicas
ou etiopatológicas de diagnósticos como a depressão (Rose, 2019).
No entanto, são muitas as narrativas de si, que reduzem histórias de vida complexas, padecimen-
tos e mal-estares a uma rápida identificação com um diagnóstico psiquiátrico e com explicações
etiopatológicas que reiteram algum suposto desequilíbrio ou déficit neuroquímico. Assim, afir-
mações como “sou depressiva” ou “tenho déficit de serotonina”, se apresentam como um fato que
recobre e resume a identidade do sujeito.
Neste trabalho, propomos analisar esse processo complexo, associado às redes sociais, que abran-
ge desde a procura de autodiagnósticos à construção de neuronarrativas e de neuroidentidades, a

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A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de neuroidentidades virtuais

identidades centradas no sujeito cerebral (Vidal e Ortega, 2019). Este estudo adota uma aborda-
gem qualitativa, baseando-se em análise de conteúdo de postagens nas redes sociais que abordam
autodiagnósticos psiquiátricos. A seleção dos perfis foi realizada com base em critérios específicos
de visibilidade e engajamento, permitindo um exame aprofundado das interações entre autodiag-
nóstico e construção de identidade virtual.

1 Das neuronarrativas às neuroidentidades virtuais

propomos analisar de que modo essas neuronarrativas têm dado lugar à construção de “neuroi-
dentidades virtuais”, constituídas como marcas ou etiquetas identitárias psiquiatrizadas nas re-
des sociais. A referência a rótulos psiquiátricos como forma de divulgação de identidades psiquia-
trizadas se expandiu nos últimos anos, multiplicando-se os perfis com os quais os usuários se
apresentam no mundo digital: “sou coach, mãe e neurodivergente”, “sou professora e autista”, “sou
designer e tenho TDAH”, amplificando o impacto no mercado das redes sociais.
Essa nova prática parece estar diretamente vinculada ao discurso neoliberal, onde a cidadania foi
substituída pelo empresário de si, pelo Capital humano, sempre empreendedor, meritocrático e
flexível, sempre atento à lógica do desempenho e do sucesso profissional (Dardot e Laval, 2017).
Nesse mundo, cabe a cada um de nós, transformar a identidade numa mercadoria capaz de ser
comprada e vendida. Uma mercadoria que deve apresentar-se ao mundo através de uma marca,
de uma etiqueta, neste caso, por referência a uma identidade psiquiatrizada.
Como explica Bauman (2001), na sociedade líquida moderna, os valores e as identidades, sempre
mutáveis e flexíveis, estão diretamente associados a uma mentalidade de auto-comercialização.
Isto significa que, em muitos casos, as identidades podem adotar a forma de mercadorias. É verda-
de que as redes propiciam o encontro de grupos que não perseguem objetivos comerciais, mas sim
políticos, como grupos feministas ou de mulheres negras que lutam por seus direitos. Nos referi-
mos aqui, exclusivamente, a influencers que oferecem seus produtos ou conteúdos digitais, que se
apresentam como uma mercadoria atrativa capaz de capturar o interesse de um grupo específico
de consumidores com os quais compartilha um mesmo diagnóstico.
Definir a própria subjetividade através de um diagnóstico psiquiátrico nas redes sociais pode
ser uma forma de chamar a atenção e demandar algum tipo de compreensão sobre o sofrimen-
to mental. Além disso, pode denotar um modo de procurar a validação de outros usuários que
estejam passando por situações semelhantes, uma forma de defesa frente à solidão que acom-
panha esse sofrimento. Compartilhar sintomas pode gerar empatia e apoio, mas também amplia
o potencial do mercado de consumidores e os lucros possíveis, respondendo à lógica da razão
neoliberal.
A pressão para enquadrar-se nas exigências que impõe o mundo neoliberal, conjuntamente com
a necessidade de se identificar com um grupo nas redes sociais, podem levar a muitos jovens a
apresentar-se a si mesmo como orgulhoso portador de um diagnóstico como TDAH, autismo ou
depressão. Se bem é verdade que o diagnóstico pode servir, em alguns casos, como uma possível
resposta perante o vazio existencial do sofrimento mental, é preciso considerar, também, as conse-
quências negativas que pode trazer, fundamentalmente no que se refere aos estigmas associados
aos transtornos mentais. No caso das redes sociais, o uso e abuso das categorias psicopatológicas
nos conteúdos digitais ampliam o campo de visibilidade algorítmica, direcionando os conteúdos
para aqueles que compartilham esse mesmo diagnóstico.

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Javier Marzal; Sandra Caponi

Certamente, esses perfis possibilitam a criação de um sentimento de pertença a uma comunidade
de iguais, a um grupo onde podem ser compreendidas as dificuldades e os problemas vivenciados
com empatia e sem julgamentos capacitistas. Porém, não é possível deixar de reconhecer que mui-
tos perfis que se definem a partir de neuroidentidades, também podem ser vistos como um modo
de ampliar o número de seguidores e de potenciais consumidores.

2 Redes sociais, autodiagnóstico e sofrimento mental

A prática de autodiagnóstico, amplificada pelo fácil acesso à internet, tornou-se comum no século
XXI. Indivíduos exploram recursos online para decifrar sintomas e condições antes de procurar
orientação especializada. Essa abordagem é facilitada pela disponibilidade e rapidez das informa-
ções, proporcionando uma primeira impressão sobre possíveis diagnósticos e terapias. Contudo,
essa conduta pode acarretar problemas, como a má interpretação de sinais/signos de transtornos
e o estresse decorrente da autoanálise. A variabilidade na precisão e confiabilidade do conteú-
do online pode levar a conclusões erradas e escolhas terapêuticas equivocadas. Alguns autores
da área de saúde alertam para o uso prudente dessas informações e enfatizam a necessidade de
avaliação especializada para confirmar diagnósticos, sublinhando que o autodiagnóstico deve ser
um recurso adicional, e não um substituto para a consulta profissional (Tang e Ng, 2006; Ryan e
Wilson, 2008).
Estudos têm mostrado que o autodiagnóstico pode resultar em autossabotagem, onde as pessoas,
convencidas de que possuem uma condição séria, evitam buscar ajuda profissional apropriada
ou, em contraste, subestimam a gravidade de seus sintomas (Wald, Dube e Anthony, 2007). Além
disso, a interpretação errada de sintomas comuns pode levar a um aumento de ansiedade e hipo-
condria, exacerbando problemas de saúde mental preexistentes (White e Horvitz, 2009; Universi-
dade Federal de Minas Gerais, 2014). Isto não significa que a própria percepção do sujeito sobre
seus sintomas e sua condição não devam ser levadas em consideração na hora de realizar um
diagnóstico e do curso do tratamento. O que se questiona é a simplicidade e a facilidade com que
os diagnósticos clínicos são colocados, desconsiderando o saber especializado.
No âmbito da saúde mental, o autodiagnóstico também ganha espaço nas redes sociais, refletindo
o aumento do acesso a dados médicos, psiquiátricos e psicológicos. Este fato evidencia o interesse
por um entendimento mais aprofundado do sofrimento psicológico, ao tempo que se demandam
respostas expressas. Embora o acesso a informações possa capacitar as pessoas a compreende-
rem seus sintomas, persiste o perigo de mal-entendidos e trivialização de transtornos mentais
graves e a proliferação de novos diagnósticos (Nicholas et al., 2017). Nesse sentido, Caponi (2014)
aponta como nas versões mais recentes do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
– DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em português) (IV e V) tem
aparecido uma série de sintomas que se caracterizam pela sua ambiguidade, Isso permite que
determinados comportamentos antes considerados comuns sejam transformados em transtornos
e, portanto, propicia abordagens terapêuticas novas, mas amparadas na mesma lógica coercitiva e
normalizadora da psiquiatria biomédica.
A autoatribuição de diagnósticos psicopatológicos pode ser interpretada como um esforço para
encontrar sentido e aceitação para o sofrimento mental dentro de uma comunidade (Khalaf et
al
., 2023). Algumas pesquisas indicam que a interação online pode proporcionar um espaço de
apoio e troca de experiências, mas também pode perpetuar diagnósticos errôneos e autoatribui-

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A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de neuroidentidades virtuais

ções inadequadas de condições mentais que requerem mais cuidados, como transtorno bipolar e
esquizofrenia (Torous et al., 2014). Para outros autores, a utilização de ferramentas online para
autodiagnóstico não representa um problema sempre que esteja acompanhada de uma educa-
ção adequada sobre a interpretação de informações de saúde e pelo aconselhamento profissional
(Westerlund et al., 2015).
No entanto, essa prática pode levar a uma simplificação excessiva de questões complexas de saúde
mental, ignorando a necessidade de avaliação profissional e a importância crucial das particulari-
dades subjetivas, mas também sociais e culturais. Além disso, o autodiagnóstico pode contribuir
para a estigmatização de transtornos psiquiátricos, reforçando estereótipos e mal-entendidos. Ao
mesmo tempo, a utilização de ferramentas online para autodiagnóstico pode ser vista como uma
extensão das técnicas de controle e normalização. Nesse sentido, Guizzo e Invernizzi (2012) ex-
ploraram como as tecnologias modernas ampliam e intensificam as práticas biopolíticas sobre os
corpos. As autoras argumentam que tecnologias como a internet, redes sociais e aplicativos de
saúde e bem-estar permitem novas formas de vigilância e controle que afetam profundamente
a maneira como os indivíduos percebem e governam a si mesmos (Guizzo e Invernizzi, 2012). O
autodiagnóstico pode ser entendido como uma forma de internalização desse controle, onde os
indivíduos se autovigiam e se autoavaliam de acordo com padrões médicos, perpetuando a lógica
do biopoder.
A identificação e a formação da identidade desempenham um papel crucial no desenvolvimento
humano. Este processo é particularmente significativo na adolescência, faixa etária que é reconhe-
cida como a que mais utiliza as redes sociais. Sabemos que a adolescência é uma fase de intensa
socialização e descoberta, e as redes sociais desempenham um papel significativo nesse processo.
A maioria dos adolescentes ao nível mundial utilizam a internet diariamente, o que reflete a ampla
adoção das tecnologias digitais por essa faixa etária (Centro Regional de Estudos para o Desen-
volvimento da Sociedade da Informação – CETIC, 2021). Plataformas como Instagram e TikTok, as
mais utilizadas pelos jovens, oferecem a eles oportunidades para se expressarem, criarem conte-
údo e se conectarem com seus pares (Lenhart, 2015; Statista, 2023). Precisamente a necessidade
de se conectar com seus pares aponta ao processo de formação da identidade em relação com os
grupos sociais.
A teoria psicossocial de Erikson (1987), por exemplo, destaca a construção da identidade como a
tarefa mais importante da adolescência, onde os jovens começam a explorar diferentes facetas de
si mesmos para formar uma imagem coerente de quem são. Este processo é influenciado por fato-
res intrapessoais, como as capacidades inatas e as características da personalidade, interpessoais,
através das identificações com outras pessoas, e culturais, que incluem os valores sociais aos quais
uma pessoa está exposta. A importância do pertencimento a determinadas comunidades não pode
ser subestimada, pois oferece um senso de segurança, apoio e compreensão que é essencial para o
bem-estar psicológico. O pertencimento e a identidade estão intrinsecamente ligados, pois a sen-
sação de fazer parte de um grupo ou comunidade contribui significativamente para a construção
da própria imagem e autoconceito.
Além disso, a correspondência identitária, que abrange os processos de alinhamento e congru-
ência entre as dimensões pessoal, social e coletiva da identidade individual, é um conceito que
integra diversas teorias sobre identidade, desde a psicanálise até o interacionismo simbólico e os
estudos culturais. Essas teorias oferecem perspectivas valiosas sobre como os indivíduos nave-
gam e negociam sua identidade em diferentes contextos sociais e culturais.

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Javier Marzal; Sandra Caponi

3 “Tudo o que você precisa saber sobre depressão”. Canais e perfis de autodiagnóstico

A era digital tem impulsionado ainda mais a tendência medicalizante da vida cotidiana e dos so-
frimentos psicológicos, com a multiplicação de canais e perfis nas redes sociais dedicados ao au-
todiagnóstico. Nesses espaços, muitas pessoas buscam e compartilham informações sobre saú-
de mental e bem-estar emocional. Embora esses ambientes possam proporcionar apoio e criar
comunidades para quem se sente desamparado pelo sistema de saúde tradicional, há também
preocupações quanto ao incentivo ao autodiagnóstico e à automedicação, muitas vezes sem o
acompanhamento de profissionais qualificados. Isso pode resultar em diagnósticos equivocados,
tratamentos inadequados e, sobretudo, ampliar uma visão simplificada da complexidade da saúde
mental.
O canal de YouTube Psych2Go é um ótimo exemplo de como informações sobre saúde mental po-
dem ser compartilhadas com um público amplo de maneira acessível e envolvente. Através de
imagens atraentes e explicações claras, eles conseguem simplificar temas complexos para que
pessoas de todas as idades e origens possam entendê-los. A versão em português do canal, Psych-
2Go PORTUGUÊS
, é voltada exclusivamente para falantes de português, oferecendo vídeos educati-
vos que focam tanto a cultura quanto o idioma do seu público.
A popularidade do canal, refletida no crescente número de inscritos (413 mil), mostra como a
demanda por informações simples sobre saúde mental tem aumentado. Em um mundo onde se
fala cada vez mais sobre a importância de “cuidar da mente”, mas também sobre “transtornos
mentais”, iniciativas como o Psych2Go ocupam um nicho informativo essencial, sob a bandeira da
“educação do público” sobre esses temas. Com uma abordagem simples e direta, o canal não só
ajuda a disseminar informações sobre os problemas de saúde mental, mas também promove uma
compreensão simplista sobre uma temática tão delicada como o sofrimento psicológico.
Outro ponto a destacar é a capacidade do Psych2Go de se expandir globalmente, oferecendo con-
teúdo em diferentes idiomas. Não se trata apenas de traduzir os vídeos, mas de adaptar os temas
para que façam sentido em diferentes culturas e estilos de vida. Isso não só amplia o alcance do
canal, como também fortalece a comunidade global interessada no tema da saúde mental, promo-
vendo a troca de ideias entre pessoas de todo o mundo, mas também influindo em determinados
tipos de abordagens com um viés medicalizante.
Tomemos como exemplo um dos vídeos publicados neste canal no dia 26 de abril de 2023. O vídeo
se intitula “6 Sinais De Que Você Sofre Depressão (E Não Preguiça)” (Psych2go português, 2023). Os
criadores apresentam o vídeo do modo seguinte:

Você já perdeu o senso de direção na vida e não soube mais o que fazer? Você sempre se
sente “preguiçoso”, desmotivado e sem inspiração? Como vivemos em uma sociedade tão
cruel e hipercompetitiva, tão obcecada pela busca de riqueza e sucesso, é provável que so-
framos de estresse crônico. Quando nos sobrecarregamos constantemente, estamos fada-
dos a experimentar alguns efeitos adversos em nosso bem-estar mental e emocional. Mas
e se a sua preguiça for mais do que apenas burnout emocional? E se isso já se tornou algo
muito mais sério? Assista a esse vídeo para descobrir (Psych2go português, 2023).

O vídeo alcançou um total de 289.510 visualizações e 26 mil likes, só no Brasil. Também foi signifi-
cativa a quantidade de comentários alcançados até setembro de 2024: um total de 1.127. Isto, sem
dúvidas, aponta a níveis importantes de engajamento com seu conteúdo, mas também de intera-

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A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de neuroidentidades virtuais

ções diretas. Vejamos agora os principais temas tratados nos comentários, que podem nos aportar
informação relevante sobre o papel destes conteúdos digitais na prática do autodiagnóstico e da
ampliação da lógica medicalizante do sofrimento mental.
O vídeo tem como objetivo ajudar os espectadores a identificar sinais de depressão e diferenciá-la
da preguiça, facilitando a compreensão do que podem estar vivenciando. São destacados seis pon-
tos principais: a desmotivação constante, que persiste mesmo após tentar melhorar com métodos
comuns; a dificuldade de se sentir melhor, mesmo cuidando de si ou passando tempo com pessoas
queridas; a perda de interesse em atividades que antes traziam prazer; dificuldades em realizar
tarefas diárias; o desânimo sem uma razão aparente; e a dificuldade de superar esses sentimentos
com simples mudanças de atitude. O vídeo ressalta que, ao contrário da preguiça, a depressão não
é uma escolha e precisa de ajuda profissional para ser tratada.
O vídeo, apesar de utilizar o recurso das animações e da linguagem simples e direta para alcançar
um maior engajamento do público leigo, contribui à ampliação de uma visão medicalizante da de-
pressão. Sua abordagem tende a interpretar sentimentos comuns, como desmotivação ou cansaço,
como sinais de um transtorno mental grave. Isso poderia contribuir para uma excessiva patolo-
gização de experiências comuns, como o estresse ou a falta de energia em situações cotidianas.
Embora a depressão seja uma condição que precise de atenção, é importante contextualizar esses
sentimentos dentro da variedade de respostas humanas normais, evitando que cada momento de
desânimo seja interpretado como doença mental e, portanto, psiquiatrizada.
A ideia principal que acompanha o vídeo é que a depressão é uma “doença mental grave que pre-
cisa ser tratada com ajuda profissional e, se necessário, medicação”, priorizando intervenções far-
macológicas por cima das psicoterapêuticas. Essa abordagem pode desconsiderar outros fatores
relevantes, como o contexto socioeconômico, as culturas, as condições de vida e trabalho, e as rela-
ções pessoais, que também influenciam o bem-estar emocional e poderiam ser abordados de for-
mas não necessariamente médicas. Ao mencionar que vivemos em uma “sociedade competitiva”, o
vídeo não explora profundamente como essa estrutura social impacta a saúde mental (Psych2go
português, 2023). A medicalização do sofrimento psicológico desloca a responsabilidade para o
indivíduo, ignorando questões como pobreza, desigualdade e a falta de apoio social, que podem
ser fatores determinantes no desenvolvimento da depressão.
O foco exagerado na necessidade de tratamento profissional pode acabar limitando a forma como
enxergamos o enfrentamento do sofrimento psíquico, o que leva a uma estigmatização de abor-
dagens alternativas, como o autocuidado, o apoio da comunidade e as terapias que não envolvem
medicamentos. Embora em casos graves de depressão a intervenção médica possa ser necessária,
essa visão costuma desvalorizar outras maneiras de lidar com o sofrimento. Além disso, ao des-
tacar somente as emoções e comportamentos individuais, o vídeo deixa de lado fatores sociais
e contextuais, o que acaba isolando o sofrimento em um nível pessoal. A ideia dos “quatro D’s
da normalidade” (desvio, desgaste, dano e disfunção) (Psych2go português, 2023), oferece uma
visão simplificada do diagnóstico, incentivando o autodiagnóstico e reforçando a psiquiatrização
desde um enfoque biologicista. Os comentários no vídeo, por sua vez, revelam reações do público
que podem contribuir para esse processo e influenciar a forma como os criadores de conteúdo
agem, evidenciando o impacto desse tipo de material no aumento do autodiagnóstico de questões
psicológicas.
Um dos temas mais relevantes nos comentários desse vídeo em questão é a Experiência pessoal.
A frequência com que os usuários mencionam a palavra “eu” (379 vezes entre os 1.127 comentá-

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Javier Marzal; Sandra Caponi

rios) (Psych2go português, 2023), indica uma tendência clara de compartilhar experiências pes-
soais, o que pode sugerir uma busca por apoio e compreensão dentro da comunidade. Entre os
comentários mais relevantes nesse sentido, está o de uma seguidora que expressa o seguinte:

Eu me sinto inútil por não querer fazer nada e por realmente não ter força o suficiente para
fazer alguma coisa e minha família só piora esse sentimento, não é a intenção deles, mas eu
faço um esforço gigantesco pra pegar uma vassoura pra ajudar minha mãe em casa e ouvir
sempre que eu não faço nada mesmo me esforçando muito pra fazer qualquer coisa me
desanima dez vezes mais (Psych2go português, 2023).

Outra usuária também relata: “Tenho depressão desde menina, hoje em dia piorou porque não
tenho vontade de fazer coisa alguma. Queria viver os meus sonhos. Me identifiquei demais com o
vídeo, tenho também TAG, fobia social, sou distímica e desenvolvi tricô. Me trato desde 2005 mas,
tem sido complicado” (Psych2go português, 2023)1.
Como podemos observar nesses comentários, muitos usuários compartilham suas histórias de
vida, detalhando suas batalhas pessoais com a depressão, desde a infância até a vida adulta. Isso
indica que esse público está utilizando esse espaço como uma forma de expressar seu sofrimento,
buscando não apenas desabafo, mas também solidariedade e apoio de outros que passam por
situações semelhantes com as quais se identificam. Esses relatos mostram como a seção de co-
mentários pode se transformar em uma espécie de comunidade de apoio, com uma identidade em
comum, onde as pessoas encontram compreensão e acolhimento em meio às suas dificuldades. A
existência deste tipo de espaços de apoio mútuo não é algo negativo, mas o conteúdo dos comen-
tários continua reproduzindo a lógica classificatória que coloca de um lado os comportamentos
“normais” e do outro, as manifestações de uma “patologia mental”. Por outra parte, estas comuni-
dades que se formam no espaço dos comentários do canal tem uma existência muito efêmera e,
portanto, não são capazes de gerar um tipo de vínculo afetivo ou terapêutico real.
Outro dos temas que ressaltam nesta seção é o uso de Termos negativos e sentimentos de desânimo.
Aqui, a negação aparece fortemente ligada a sentimentos de desespero, solidão e falta de esperan-
ça. Muitos usuários descrevem uma sensação de inércia diante da vida, o que se vê reforçado pelo
conteúdo do vídeo. Nesse sentido, vários comentários descrevem uma sensação de estagnação
na vida, dificuldades para interagir com os outros, falta de motivação e frustração constante ao
tentar agradar as pessoas ao redor. Os comentários revelam essa dor: uma pessoa menciona estar
no início da depressão, chorando de madrugada por não ter com quem desabafar; outra fala sobre
como desistiu de tentar e agora chora todos os dias. A falta de energia para sair de casa, encontrar
novos interesses ou simplesmente se comunicar também aparece com frequência, reforçando um
cenário de esgotamento emocional e isolamento (Psych2go português, 2023).
Além dos sintomas de depressão, muitos também comentam sobre a falta de compreensão de seus
familiares e amigos, o que aumenta ainda mais o sentimento de solidão. Essa falta de empatia por

1 O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), a fobia social e a distimia são condições definidas no discurso médico-psi-
quiátrico como transtornos que afetam significativamente a vida emocional e social dos indivíduos. O TAG é caracterizado
por uma preocupação excessiva e persistente, frequentemente acompanhada de sintomas físicos como tensão muscular e
fadiga (Valença et al., 2023). A fobia social, por sua vez, é descrita como um transtorno de ansiedade marcado pelo medo
intenso e persistente de situações sociais, levando a comportamentos de esquiva e comprometimento da vida social e
profissional (Einstein, 2024). Já a distimia é definida como um transtorno depressivo crônico, caracterizado por um estado
de humor persistentemente deprimido, com sintomas mais leves que os da depressão maior, mas que podem durar anos
(Freire et al., 2005).

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A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de neuroidentidades virtuais

parte das pessoas ao redor agrava a sensação de que estão enfrentando a depressão sozinhos. Ao
mesmo tempo, é comum ver nos comentários a busca por identificação e apoio através do vídeo.
Um exemplo disso é uma pessoa que, ao assistir ao conteúdo, chorou ao perceber que talvez es-
teja realmente passando por depressão, mas vê nesse reconhecimento um primeiro passo para
melhorar.
Por último, o uso de psicofármacos também aparece associado à depressão, como vemos nestes
comentários:

[Comentário 1]: Então, quando você vai buscar ajuda de um psiquiatra (que não tem) no
SUS eles te passam os antidepressivos obsoletos e calmantes. Eu sou usuária de Diazepam
há 15 anos. Estão tentando fazer o desmame mas só piora. Uma consulta particular não
está acessível ainda. Então a gente toca o barco. Na UBS onde passo não tem psiquiatra e
nem psicólogo. Difícil, as pessoas acham que é fácil ter depressão, só sabe quem passou
ou passa por isso. [Comentário 2]: Eu já tive depressão profunda no trabalho, às vezes eu
chegava bem atrasado, surtava, chorava principalmente quando eu estava sozinho. Na fa-
culdade a mesma coisa, me trancava no banheiro para chorar mais de meia hora, além disso
outros pensamentos suicidas envolvendo minha cabeça (...) (Psych2go português, 2023).

4 As neuroidentidades virtuais na sociedade do desempenho

Como já foi dito, a redução de nossa subjetividade a uma identidade psiquiatricamente cristaliza-
da, parece ser altamente funcional para a razão neoliberal, com seus pressupostos de uma huma-
nidade flexível, meritocrática, exitosa e empreendedora e fundamentalmente feliz. Como Dardot e
Laval (2017), James Davies (2021), Elton Corbanezi (2021) e outros autores têm sabido mostrar,
essa exigência de um padrão inalcançável de êxito e felicidade produz sujeitos que se sentem inca-
pazes de atingir o padrão de normalidade exigido. O neoliberalismo é uma fábrica de “inadequa-
dos”, de “sujeitos impossibilitados” de “fracassados” na empresa de querer alcançar postos cada
vez mais elevados de prestígio e de autoexigência.
Esses fracassos estão longe de ser vivenciados como decorrentes das exigências ilimitadas do neo-
liberalismo e de uma sociedade centrada no desempenho e na competência permanente. Também
são vivenciados na simulação da felicidade e no individualismo, onde foram perdidas as redes de
proteção e solidariedade entre pares. Logo, esses fracassos passaram a ser vistos como problemas
dos indivíduos, dando um passo a mais, como um problema biológico, mas particularmente
médico-psiquiátrico.
Assim, quando não atingimos as metas estabelecidas, não se pensa que elas são inatingíveis,
mas sim que o problema está em nós, porque somos muito ansiosos, ou muito deprimidos, por-
que não conseguimos estar suficientemente felizes, porque não sabemos gerir nossas emoções.
Como Eva Illouz, Edgar Cabanas (2022) e James Davies (2021) mostraram um imenso grupo de
saberes Psi se dedicaram, pacientemente, a afirmar, que nossas alterações de humor ou nossos
sofrimentos e inadequações são sintomas de algum problema individual, geralmente psiquiátri-
co, e não o resultado de nossa incapacidade ou ineficácia para atingir os padrões impostos pelo
mundo empresarial.
O que significa esta sociedade do desempenho? Significa o imperativo constante de alcançar ní-
veis de excelência determinados por modelos de comportamentos cada vez mais exigentes, já não
impostos por uma autoridade externa, mas sim autoimpostos e autogerados. Os seres humanos

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Javier Marzal; Sandra Caponi

seríamos, assim, virtualmente livres, guiados pela sensação de “poder fazer” qualquer coisa, o que
configura uma nova forma de subjetivação da realidade. Em outras palavras, a ideia de que nossos
limites são subjetivos, que as barreiras para um desempenho exitoso são imaginárias, nos leva a
permanecer em um estado constante de procura da excelência, sem nos preocuparmos demasiado
pelos efeitos negativos da urgência.
Nesse sentido, a internet e as redes sociais têm desempenhado um papel essencial, reforçando
ainda mais a sensação de pressa, mas também de fugacidade. As tecnologias digitais, cada vez
mais presentes na nossa vida cotidiana, proporcionam um fluxo constante de estímulos que, ime-
diatamente, se transformam em informação. O volume infinito de informação e sua velocidade,
cada vez maior, exige respostas ao mesmo nível, ou seja, com rapidez e atenção. Não importa se
nossa capacidade de processar essa nova realidade é limitada, somos compelidos a responder e a
estar “constantemente informados”. Tampouco importa se o processamento e as respostas a esse
fluxo de informação são superficiais. O mais importante é responder.
Dessa maneira, observamos uma generalização da linguagem Psi como ferramental que parece
exercer influência sobre a maneira como os sujeitos descrevem sua experiência e sua própria sub-
jetividade/identidade. Pergunta-se: por que essas pessoas sentem a necessidade de entender a si
mesmas nesse registro? É possível que acreditem que somente pela via da descrição cientificizada
na figura do diagnóstico psiquiátrico terão seu sofrimento legitimado ou, ainda, que essa lingua-
gem é a mais adequada para descrever suas particularidades na medida em que elas reverberam
problemas em comum de um grupo extenso de pessoas. Nesse sentido, postagens na internet so-
bre classificações diagnósticas funcionam como viés de confirmação.
Tomemos como exemplo o caso de um coach de TDAH. Seus cursos e mentorias são dedicados
a ensinar pessoas que receberam o mesmo diagnóstico a lidar com suas características. Em seu
perfil no Instagram, relata que tem o diagnóstico “formal” há 20 anos. Formado em Letras, se es-
pecializou em neurolinguística com o objetivo de compreender melhor o transtorno. Apresenta-se
como um educador e é mentor da sua comunidade de clientes, que ele chama de “Indistraíveis”.
Por sua notoriedade nas redes sociais (são cerca de 435 mil seguidores só no Instagram), comu-
mente é convidado para participar de podcasts, videocasts e mesmo programas de televisão. Tra-
remos alguns trechos de suas falas recortados dessas participações e postados em seu Instagram
como forma de divulgar seu trabalho.
Em uma dessas entrevistas (Nunes, 2024a), comenta que precisou parar os estudos durante a
graduação diversas vezes. Seu relato se refere a um período em que inegavelmente estava em
sofrimento, e é caracterizado por linguagem biomédica: as dificuldades e angústias que acompa-
nharam o processo de trancamento do curso são descritas como “comorbidades”. Ou seja, ao seu
TDAH, sobrepunham-se outros transtornos tais como ansiedade, depressão, fobia social. Relata
que demorou anos para procurar um médico. Atribui ao TDAH a culpa, e a sensação de não ter o
direito de sofrer, por acreditarem ser “preguiçosas”.
Em outro corte da mesma entrevista (Nunes, 2024b), postado em seu perfil de Instagram, ao
ser perguntado se existiriam exames de imagem para o diagnóstico ou não, ele responde que
não, para depois dizer que em universidades estadunidenses seria possível realizar estes exa-
mes. Mas que, no geral, o exame seria clínico – tal qual preconiza o DSM. Em seguida, afirma
que a chance de um indivíduo com TDAH ter a “parte da frente” do cérebro (provavelmente se
referindo ao córtex pré-frontal) “menor” que outras pessoas seria alta. São bastante conhecidas

11

A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de neuroidentidades virtuais

historicamente as tentativas de ligar características orgânicas dos cérebros dos indivíduos e
suas doenças mentais.
Em outro corte (Nunes, 2024c), afirma que pessoas com TDAH têm “disfunções emocionais”. Essas
disfunções seriam diferentes de pessoa para pessoa. Segundo ele, nos Estados Unidos, “muito mais
avançados nos estudos de TDAH” (sic), já haveria pesquisas no sentido de relacionar o transtorno
com tais “desregulações emocionais”. Ele dá o exemplo de situações hipotéticas como funerais,
em que não conseguiria se conectar com a tristeza do luto experienciado pelos demais presentes.
Em contrapartida, a experiência de assistir um filme infantil e se emocionar a ponto de chorar é
colocada como exemplo de disfunção.
Devido à característica difusa e múltipla dos exemplos dados como sintomas, é comum encontrar
nos comentários das postagens, algumas delas com dezenas de milhares de curtidas, pessoas di-
zendo coisas como “Dos 50 sintomas de TDAH eu tenho 80”, “Leio um parágrafo no mínimo três
vezes e volto do início da página sempre. Será que tenho esse diagnóstico?”, “Todo dia descobrindo
que, o que eu achava que era um traço de personalidade é só um dos sintomas dos meus transtor-
nos”, e assim por diante.
As práticas e referências utilizadas frequentemente são provenientes de experiências dos Estados
Unidos, que parecem ser apontadas como mais avançadas. A título de amostra, trazemos o exem-
plo de uma jovem estadunidense com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que medeia grupos
de autistas adultos. Em seu site, temos poucas informações a seu respeito. Foi diagnosticada aos
24 anos e, ao se deparar com a falta de suporte para autistas adultos, fez uma espécie de forma-
ção em Harvard em que coordenou grupos, inclusive de Terapia Comportamental Dialética (DBT
Dialectical Behavior Therapy em inglês). No site e em suas redes sociais, ela oferece grupos de
apoio (Autisticthrifter, 2024).
Em estudos futuros, talvez seja interessante investigar a relação entre sofrimento no mundo do
trabalho e a tendência a pessoas que se identificam com estes diagnósticos em acabar se voltando
para esse tipo de empreendedorismo. Numa sociedade em que os indivíduos não podem falhar,
estas pessoas são levadas a questionar se suas dificuldades não seriam uma característica inata.
Neste perfil, as características que aparecem como sintoma também são bastante variadas e ba-
nais. Num dos seus vídeos, a jovem fala sobre a “ecolalia interna”2: repetição mental de cantigas
infantis, onomatopeias, pequenas frases e músicas. Num comentário fixado na postagem, ela traz
uma pequena definição de ecolalia e por quê ela é considerada um sintoma.


(...) ecolalia é supernormal! Tipicamente é mais frequente antes dos três anos de idade,
quando as habilidades de linguagem estão se desenvolvendo. Quando persiste depois dessa
idade é considerada menos típica. Neste vídeo, tento retratar esse tipo de estímulo interno
que é ininterrupto para mim. Acontece subconscientemente e encontro-me constantemen-
te ecoando coisas na minha cabeça. E muitas destas coisas estão na minha cabeça desde
minha infância. Por exemplo: não assisto ‘O Mágico de Oz’ desde os seis anos de idade, mas
[a música] ainda está ecoando na minha cabeça. (Louisa, 2024a, tradução nossa.)

2 A ecolalia é definida no discurso médico-psiquiátrico como a repetição involuntária e automática de palavras ou frases
ditas por outra pessoa. Trata-se de um comportamento frequentemente associado a condições neuropsiquiátricas, como o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e alguns tipos de afasia, podendo ser uma estratégia compensatória ou uma mani-
festação de dificuldade na comunicação espontânea (Coelho & Perissinoto, 2023).

12

Javier Marzal; Sandra Caponi

Seu perfil tem diversos vídeos em que relata suas experiências cotidianas, e em seu discurso todas
elas são relacionadas ao “cérebro autista”. Alguns exemplos: a experiência de “ensaiar” o que dirá
em suas conversas (id., 2024b), responder pessoas “no piloto automático” e esquecer em seguida o
que disse (id., 2024c), interesse pelo comportamento humano (id., 2024d), estresse em situações
em que muitos amigos e família se reúnem (id., 2024e). Vivências bastante cotidianas, experien-
ciadas por variadas pessoas em variadas culturas, porém, neste caso, ligadas a um funcionamento
cerebral específico traduzido em termos de nosografia psiquiátrica.
As experiências vividas por estas pessoas e seus seguidores são reais e certamente podem levar
a muito sofrimento e sensação de desajuste em relação a grupos, família, trabalho e situações
sociais diversas. Características como dificuldade de memorização, de conexão com outras pesso-
as, dificuldade de retenção da atenção, dificuldade para se conectar e criar vínculos com colegas,
familiares e parceiros, falta de ânimo, tristeza profunda, dificuldade de concentração para a lei-
tura e a aprendizagem etc., são experiências sentidas e legítimas. No entanto, ao expressar suas
dificuldades, frequentemente essas pessoas são hostilizadas. No diagnóstico, veem a possibilidade
de ter a legitimação dessas experiências e dissabores. O que nos leva a indagar: que ordem social
faz com que indivíduos sintam a necessidade de traduzir suas dificuldades em termos biomédicos
para que sejam legitimadas em seu sofrimento?

Considerações finais

No artigo de Johnstone e Cromby, “Neurodiversidade: Somos todos neurodivergentes hoje?”, os
autores argumentam que a crescente prevalência de diagnósticos como TDAH (Transtorno de Dé-
ficit de Atenção e Hiperatividade) e TEA (Transtorno do Espectro do Autismo), especialmente
nas sociedades modernas, está diretamente vinculada às políticas neoliberais, que exacerbaram a
desigualdade, a insegurança no emprego e o estresse social. O neoliberalismo criou um ambiente
em que se espera que os trabalhadores sejam cada vez mais flexíveis e adaptáveis, uma exigência
que entra em conflito com a necessidade de estabilidade de muitas pessoas, às quais hoje se inclui
no ambíguo espaço do Transtorno do Espectro Autista.
Não se trata de questionar a validade do diagnóstico de autismo, que certamente se aplica a mui-
tas crianças com dificuldades de comunicação, verbalização e motricidade, mas de analisar as
consequências da extensão desse diagnóstico a um grupo muito amplo de pessoas que foram diag-
nosticadas como autistas por apresentarem características não desejadas pelo mundo neoliberal,
referindo-se, particularmente, ao diagnóstico tardio de TEA em adultos. No mundo do trabalho
atual, exige-se cada vez mais que os trabalhadores sejam socialmente qualificados, que tenham
competências socioemocionais, isto é que se mostrem bem humorados, felizes, flexíveis, que acei-
tem as mudanças, criando uma forte pressão para que as pessoas “mascarem” as suas dificuldades,
que escondam seus problemas por trás de uma fachada de conformidade, uma tarefa que pode ser
impossível para algumas pessoas que desejam realizar suas tarefas num marco de segurança, pre-
visibilidade e introspeção, características que poderão ser associadas aos estereótipos supostos
de um diagnóstico de TEA.
Nesse sentido, o autodiagnóstico de depressão, cada vez mais comum com a ajuda das redes so-
ciais e o fácil acesso a informações médicas, traz preocupações importantes. Ao resumir uma ex-
periência emocional complexa a um diagnóstico psiquiátrico, há o risco de tratar como doença
reações normais a situações difíceis, como estresse, luto ou frustrações do dia a dia. Além disso,

13

A psiquiatrização da vida cotidiana e a construção de neuroidentidades virtuais

o autodiagnóstico costuma ignorar o contexto social e cultural da pessoa, esquecendo que a de-
pressão não pode ser entendida isoladamente. Essa simplificação pode acabar medicalizando o
sofrimento e reforçando estigmas, desviando a atenção de soluções sociais para tratamentos pu-
ramente médicos.
Desse modo, os comportamentos que antes eram considerados parte da variabilidade humana,
passaram a ser diagnosticados como transtornos psiquiátricos, agrupando todas as característi-
cas consideradas não desejadas, na ampla categoria de neurodivergência. A partir do que foi dito
até aqui, podemos afirmar que assistimos à ampliação do número de pessoas que se reconhecem
e se reivindicam como neurodivergentes, colocando um problema vinculados à categoria de neu-
rotipicos. Johnstone e Cromby (2024) argumentam que a categoria de neurodivergência poderia
ser aplicada a todas e todos, pois nossas histórias de vida, nossos pensamentos e as formas como
enfrentamos nossos problemas são diferentes.
Como diria Hannah Arendt (2005), “ninguém é igual a qualquer outro que tenha vivido, viva ou
viverá jamais”. O que define à condição humana é nossa diferença, e nada existe nos estudos neu-
rológicos, por neuroimagem, genéticos, ou de qualquer outra abordagem que indique que existe
um cérebro ou um determinado processo neuroquímico que possa considerar-se como plenamen-
te normal
. Essa fronteira difusa entre neurotípicos e neurodivergentes, amplia a possibilidade de
que muitas pessoas com sofrimento psíquico, insatisfeitas e submetidas a exigências inatingíveis,
se identifiquem como neurodivergentes, apresentando-se, nas redes sociais, a partir de neuroi-
dentidades virtuais. Devemos tratar com extrema cautela o uso do termo “neurodiversidade”,
destacando a importância de construir uma sociedade que celebre as diferenças, que respeite as
diversidades e que integre e inclua a todos e todas, sem impor moldes capacitistas.
No entanto, as identidades psiquiatrizadas, sejam ou não virtuais, silenciam os vínculos com os
contextos sociais adversos que produzem sofrimento. Nada diz sobre histórias de vida perpassa-
das por violências como racismo, bullying, machismo ou LGTBfobia. Ao mesmo tempo, as neuroi-
dentidades virtuais parecem possibilitar a criação de um mercado lucrativo para medicamentos,
terapias e produtos associados ao bem-estar. As dificuldades implícitas nessa redução do eu a uma
identidade psiquiatrizada ou a uma neuroidentidade está muito bem resumida nesta afirmação de
Lola Mondéjar:

A subjetividade seria o oposto da identidade. Onde há identidade, ilusão de unidade, não há
exploração da multiplicidade, não há diálogo com as identificações que nos constituem. A
subjetividade implica a criação de um eu que interroga identificações anteriores e constrói
outras num processo dinâmico constante que só cessa com a morte. Digamos que quanto
mais identidade, menos subjetividade (Penas, 2020, online, tradução nossa).

As neuroidentidades diluem a complexidade e a multiplicidade da subjetividade, despolitizam os
mal-estares e os sofrimentos, individualizam e cerebralizam as dificuldades vivenciadas.

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Javier Marzal; Sandra Caponi

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Javier Marzal; Sandra Caponi

The Psychiatricization of Everyday Life and
the Construction of Virtual Neuro-Identities
Abstract
This article examines the impact of social media on
mental health, highlighting how platforms such as Ins-
tagram and YouTube contribute to the rise in psychia-
tric self-diagnosis, especially among young people.
This phenomenon has intensified during the Covid-19
pandemic, when information about mental health has
spread widely, leading many to seek self-diagnosis
and identify with virtual neuroidentities, using ex-
pressions such as “I am autistic”, “I have ADHD” or “I
have depression”. Depression, autism, and Attention
Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) are defined
in medical-psychiatric discourse as conditions that
significantly affect individuals’ lives. Depression is
described as a psychiatric illness that alters mood,
causing deep sadness, hopelessness, low self-esteem,
and disturbances in sleep and appetite (Ministry of
Health, 2024a). Autism, or Autism Spectrum Disorder
(ASD), is a neurodevelopmental disorder that impairs
communication, socialization, and manifests in repe-
titive behaviors (Ministry of Health, 2024b). ADHD,
on the other hand, is defined as a neurobiological di-
sorder of genetic origin, characterized by inattention,
restlessness, and impulsivity, which can persist throu-
ghout life (Ministry of Health, 2024c). This process
reflects a psychiatrization of subjectivity and is dee-
ply connected to the neoliberal logic of transforming
identities into commodities. Social media amplifies
this movement by offering a space for support, but
it also simplifies complex mental health issues, often
reducing the understanding of psychological suffering
to psychiatric diagnoses and labels.
Keywords: Social media; Self-diagnosis; Mental
health; Identity; Medicalization.

La psiquiatrización de la vida cotidiana y la
construcción de neuro-identidades virtuales
Resumen
Este artículo examina el impacto de las redes socia-
les en la salud mental, destacando cómo plataformas
como Instagram y YouTube contribuyen al aumento
de los autodiagnósticos psiquiátricos, especialmente
entre los jóvenes. Este fenómeno se intensificó duran-
te la pandemia de COVID-19, cuando la información
sobre salud mental se difundió ampliamente, llevan-
do a muchos a buscar autodiagnóstico e identificarse
con neuroidentidades virtuales, utilizando expresio-
nes como “soy autista”, “soy TDAH” o “tengo depresi-
ón”. La depresión, el autismo y el Trastorno por Déficit
de Atención con Hiperactividad (TDAH) son definidos
en el discurso médico-psiquiátrico como condiciones
que afectan significativamente la vida de las perso-
nas. La depresión se describe como una enfermedad
psiquiátrica que altera el estado de ánimo, provocan-
do tristeza profunda, desesperanza, baja autoestima y
trastornos del sueño y del apetito (Ministerio de Salud,
2024a). El autismo, o Trastorno del Espectro Autista
(TEA), es un trastorno del desarrollo neurológico que
dificulta la comunicación, la socialización y se manifi-
esta en comportamientos repetitivos (Ministerio de Sa-
lud, 2024b). Por su parte, el TDAH se define como un
trastorno neurobiológico de origen genético, caracteri-
zado por la falta de atención, inquietud e impulsividad,
que puede persistir a lo largo de la vida (Ministerio de
Salud, 2024c). Este proceso refleja una psiquitrización
de la subjetividad y está profundamente conectado con
la lógica neoliberal de transformar identidades en mer-
cancías. Las redes sociales amplifican este movimiento
al ofrecer un espacio de apoyo, pero también simplifi-
can problemas complejos de salud mental, reduciendo
a menudo la comprensión del sufrimiento psicológico a
diagnósticos y etiquetas psiquiátricos.
Palabras Clave: Redes Sociales, Autodiagnóstico, Sa-
lud mental, Identidad, Medicalización

Histórico
 Recebido: Outubro/24
 Parecer: Outubro/24
 Parecer: Novembro/24
 Aceito: Novembro/24
 Revisado Autor: Novembro/24
 Revisão Gramatical/Ortográfica e ABNT: Novembro/24
 Revisado Autor: Dezembro/24
 Publicado: Dezembro/24

Equipe Editorial Revista TOMO envolvida no processo editorial deste artigo
 Marina de Souza Sartore (Editora-Chefe)
 Tatiana Silva Sales (Editora Assistente Júnior)