A criatividade do vivenciar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21665/2318-3888.v12n23p305

Palavras-chave:

Aspiração. Atenção. Caligrafia. Concrescência. Copiar. Criatividade. Fazer. Educação. História. Imaginação. Improvisação. Inovação. Confecção de rendas. Música. Notação. Ontogênese. Performance. Tempo. Vivenciar.

Resumo

A criatividade é geralmente retratada como um fator X responsável pela geração espontânea do absolutamente novo. No entanto, a obsessão pela novidade implica uma atenção aos produtos finais e uma atribuição retrospectiva das suas formas a ideias sem precedentes na mente dos indivíduos, ignorando os potenciais geradores de forma das relações e processos em que as pessoas e coisas surgem e se desenvolvem. Nesses processos, espera-se tipicamente que o aprendiz copie as obras dos grandes mestres do passado. No entanto, mesmo seguindo um roteiro ou uma partitura, cada praticante tem de improvisar o seu próprio caminho através do conjunto de tarefas que a performance implica. Com exemplos da música, da caligrafia e da confecção de rendas, mostro que as fontes da criatividade não estão na cabeça das pessoas, mas em seu envolvimento em um mundo em formação. Nesse tipo de criatividade, mais vivenciada que realizada, a imaginação não é tanto a capacidade de apresentar novas ideias, mas o impulso aspiracional de uma vida que não apenas se vive, mas se conduz. Para onde ela é conduzida, no entanto, não é dado de antemão. Abrindo-se ao desconhecido, se expondo, a imaginação conduz não pela maestria, mas pela submissão. Assim, a criatividade do vivenciar, da ação sem agência, é a criatividade da própria vida.

Tradução: Beto Vianna

Submissão: 15 mai. 2024 ⊶ Aceite: 3 jun. 2024

Downloads

Biografia do Autor

Tim Ingold, University of Aberdeen

Timothy Ingold é Professor Emérito de Antropologia Social na Universidade de Aberdeen, e membro da Academia Britânica e da Royal Society de Edimburgo. Realizou trabalho de campo etnográfico entre os povos Saami e Finlandês na Lapônia e escreveu sobre questões comparativas de meio ambiente, tecnologia e organização social no Norte circumpolar, bem como sobre o papel dos animais na sociedade humana, sobre questões de ecologia humana e sobre teoria evolutiva em antropologia, biologia e história. A partir daí, passou a explorar as ligações entre percepção ambiental e prática qualificada, com vistas a substituir modelos tradicionais de transmissão genética e cultural por uma abordagem relacional com foco no crescimento de habilidades incorporadas de percepção e ação em contextos sociais e ambientais de desenvolvimento. Em sua pesquisa mais recente, seguiu três linhas de investigação que surgiram do seu trabalho anterior, sobre a dinâmica do movimento de pedestres, a criatividade da prática e a linearidade da escrita. Aposentou-se da Universidade em 2018, mas continua pesquisando e escrevendo como acadêmico independente.

Referências

BENVENISTE, É. Active and middle voice in the verb. In: Benveniste, É. (Ed.). Problems in General Linguistics. Coral Gables: University of Miami Press, 1971. p. 145-151.

BERGSON, H. Creative Evolution. London: Macmillan, 1911.

BODEN, M. The Creative Mind: Myths and Mechanisms. London: Weidenfeld and Nicolson, 1990.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. A Thousand Plateaus: Capitalism and Schizophrenia. London: Continuum, 2004.

GELL, A. Art and Agency: An Anthropological Theory. Oxford: Clarendon Press, 1998.

GIBSON, J. J. The Ecological Approach to Visual Perception. Boston: Houghton Mifflin. 1979.

INGOLD, T. Evolution and Social Life. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.

INGOLD, T. The Perception of the Environment: Essays on Livelihood, Dwelling and Skill. London: Routledge, 2000.

INGOLD, T. From the transmission of representations to the education of attention. In: WHITEHOUSE, H. (Ed.). The Debated Mind: Evolutionary Psychology Versus Ethnography. Oxford: Berg, 2001. p. 113-153.

INGOLD, T. Being Alive: Essays on Movement, Knowledge and Description. Abingdon: Routledge, 2011.

INGOLD, T. Making: Anthropology, Archaeology, Art and Architecture. Abingdon: Routledge, 2013.

INGOLD, T.; HALLAM, E. Creativity and cultural improvisation: An introduction. In: HALLAM, E.; INGOLD, T. (Ed.). Creativity and Cultural Improvisation. Oxford: Berg, 2007. p. 1-24.

KUBLER, G. The Shape of Time: Remarks on the History of Things. New Haven: Yale University Press, 1962.

LIEP, J. Introduction. In: LIEP, J. (Ed.). Locating Cultural Creativity. London: Pluto Press, 2001. p. 1-13.

MAKOVICKY, N. ‘Something to talk about’: Notation and knowledge-making among Central Slovak lace-makers. In: MARCHAND, T. H. J. (Ed.). Making Knowledge: Explorations of the Indissoluble Relation Between Mind, Body and Environment. London: Royal Anthropological Institute, 2010. p. 76-94.

MASSCHELEIN, J. E-ducating the gaze: The idea of a poor pedagogy. Ethics and Education, v. 5, n. 1, p. 43-53, 2010. DOI: https://doi.org/10.1080/17449641003590621.

MCLEAN, S. 2009. “Stories and cosmogonies: Imagining creativity beyond ‘nature’ and ‘culture’”. Cultural Anthropology, v. 24, n. 2, p. 213-245. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1548-1360.2009.01130.x.

NAKAMURA, F. Creating or performing words? Observations on contemporary Japanese calligraphy. In: HALLAM, E.; INGOLD, T. (Ed.). Creativity and Cultural Improvisation. Oxford: Berg, 2007. p. 79-98.

OAKESHOTT, M. Rationalism in Politics and Other Essays. Indianapolis: Liberty Press, 1991.

ORTEGA Y GASSET, J. History as a System And Other Essays Toward a Philosophy of History. New York: W. W. Norton, 1961.

RAIMONDI, V. O papel do linguajar na evolução humana: uma abordagem baseada na teoria da deriva natural. Ambivalências, v. 11, n. 22, p. 94-120, 2023. DOI: https://doi.org/10.21665/2318-3888.v11n22p94-120.

SPERBER, D. Explaining Culture: A Naturalistic Approach. Oxford: Blackwell, 1996.

TOOBY, J.; COSMIDES, L. The psychological foundations of culture”. In: BARKOW, J.H.; COSMIDES, L.; TOOBY, J. (Ed.). The Adapted Mind: Evolutionary Psychology and the Generation of Culture. Oxford: Oxford University Press, 1992. p. 19-136.

WALDENFELS, B. Bodily experience between selfhood and otherness. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 3, n. 3, p. 235-248, 2004. DOI: https://doi.org/10.1023/B:PHEN.0000049305.92374.0b.

WHITEHEAD, A. N. Process and Reality: An Essay in Cosmology. Cambridge: Cambridge University Press, 1929.

WIEMAN, H. N. Intellectual Foundations of Faith. London: Vision Press, 1961.

WILF, E. Rituals of creativity: tradition, modernity, and the ‘acoustic unconscious’ in a U.S. collegiate jazz music program. American Anthropologist, v. 114, n. 1, p. 32-44, 2012. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1548-1433.2011.01395.x.

YEN, Y. Calligraphy and Power in Contemporary Chinese Society. London: Routledge Curzon, 2005.

Downloads

Publicado

27-06-2024

Como Citar

INGOLD, Tim. A criatividade do vivenciar. Ambivalências, São Cristóvão-SE, v. 12, n. 23, p. 305–322, 2024. DOI: 10.21665/2318-3888.v12n23p305. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/Ambivalencias/article/view/n23p305. Acesso em: 24 abr. 2025.

Edição

Seção

Tradução