A questão subjetiva na lógica da despatologização das transidentidades- uma perspectiva psicanalítica em diálogo interdisciplinar com perspectivas críticas.
Resumo
O presente trabalho objetiva tecer uma reflexão acerca da constituição psíquica do sujeito proposta pela psicanálise, em conjunto com o conceito de gênero de Judith Butler, para repensar as problemáticas conceituais na leitura sobres os corpos e os processos de subjetivação na infância. Essa investigação foi realizada a partir de interrogações teórico-clínicas dos conceitos de prosódia significante e citacionalidade articulados com a escuta clínica de pessoas trans, que parecem tecer, em seus relatos, uma legitimação das manifestações cisgêneras e uma abjeção das manifestações transidentitárias. Tal entrelaçamento, entre clínica e teoria, apontou para a necessidade de utilizar os estudos de gênero como arejadores teóricos devido a leituras cisheteronormativas na infância, mesmo quando a psicanálise se propõe a pensá-la, desde a sua origem, polissêmica e polimorficamente. Ao percebermos como os corpos e as infâncias são marcadas por meio da citacionalidade e da prosódia significante, as quais pretendem manter um poder discursivo por meio da cisheteronormatividade, podemos reconhecer suas operacionalidades e constatar suas violências em diversos campos de saber, como a família, a escola, a saúde, a assistência social e cultura. Com tais fatos, se torna necessário abrirmos questões na teoria psicanalítica para que possamos repensar a forma da nossa escuta e da nossa intervenção frente a manifestações de gênero na infância que não estão em conformidade com a norma; para, assim, conseguirmos trabalhar pela via da singularidade, e não da normatividade devido a uma necessidade política.