Da pulsão anarquista ao trabalho de cultura: a transgressão vital no pensamento de Nathalie Zaltzman
Resumo
Neste artigo, é demonstrado o aspecto transgressivo que caracteriza duas proposições maiores no pensamento da psicanalista francesa Nathalie Zaltzman em sua releitura da obra freudiana: a pulsão anarquista e o trabalho de cultura. A pulsão anarquista é apresentada como o viés transgressivo da pulsão de morte, reunindo suas forças em resistência e luta contra ameaças que comprometem a manutenção da vida física e psíquica. O trabalho de cultura, por sua vez, comparece como o viés transgressivo do trabalho de civilização. Enquanto o último se empenha em camuflar determinadas dimensões inerentes à existência humana como, por exemplo, a constituição psíquica do mal, o primeiro pretenderia transformá-las, transpondo em saber compartilhável tais dimensões. Sem necessariamente refutar o pessimismo freudiano quanto ao progresso da humanidade, Zaltzman indicaria justamente pela via das transgressões (pulsional e cultural) possíveis saídas e resoluções frente ao desamparo e à destrutividade que permeiam a condição humana.