GUERRA DE CANUDOS (1896 – 1897): DA EMANCIPAÇÃO SERTANEJA À BARBÁRIE PROMOVIDA PELO ESTADO-NAÇÃO

CANUDOS' WAR (1896 - 1897): FROM THE INLANDER EMANCIPATION TO THE BARBARISM PROMOTED BY THE NATION-STATE

Autores

  • Robinson Santos Pinheiro Professor da Universidade Federal de Pelotas
  • Tiaraju Salini Duarte Professor da Universidade Federal de Pelotas

DOI:

https://doi.org/10.33360/RGN.2318-2695.2020.i1.p.131-147

Resumo

A partir da revisão bibliográfica sobre a biografia de Antônio Conselheiro, a formação de Belo Monte e a Guerra de Canudos, se objetiva teoricamente versar acerca da emancipação sertaneja que culminou num dos maiores conflitos armados no campo brasileiro. Na barbárie denominada Guerra de Canudos (1896 – 1897), de um lado estavam os sertanejos, localizados na cidade de Belo Monte, norte do estado da Bahia, liderados pelo religioso e simpatizante da Monarquia Antônio Conselheiro; e de outro lado estava o Exército, representante do Governo Republicano (1889). De forma geral, o ataque aos sertanejos foi justificado pelo argumento do perigo da Monarquia se reorganizar. Contudo, de fato, o que explica a Guerra foi o interesse de retomada do poder regional por parte de algumas lideranças religiosas, políticas e econômicas; pois a organização de vida em Belo Monte permitiu romper com um sistema que há séculos sufocava os sertanejos: a concentração de terra e de água. A terra e a água tinham o seu uso socializado, o que permitiu a divisão mais justa da riqueza gerada, garantindo melhor qualidade de vida para os sertanejos. Tal fato fez com que Belo Monte, diante à miséria do sertão semiárido, fosse considerada um paraíso terrestre.

Palavras-Chave: Belo Monte. Sertanejos. Guerra de Canudos. Estado-Nação.

ABSTRACT:

From the literature review on Antonio Conselheiro biography, the formation of Belo Monte and the Canudos War, the objective is theoretically to deal with the inlander emancipation, which culminated in one of the largest armed conflicts in the Brazilian countryside. In that, savage behavior named Canudos' War (1896 - 1897), on one side were the inlanders, located in the village of Belo Monte, situated north of the state of Bahia, led by the religious and sympathizer of the Antônio Conselheiro monarchy; and on the other side was the Army, representative of the Republican Government (1889). In general, the attack on the inlanders was justified by the argument of the danger of the monarchy to reorganize itself. However, as a matter of fact, what explains that war was the interest in the resumption of the regional power by some religious, political and economic leaders; for the organization of life in Belo Monte allowed to break with a system which had suffocated the inlanders for centuries: the concentration of land and water. The land and water had their socialized use, which allowed a fair division of the wealth generated, ensuring better quality of life for the inlanders. Such fact made Belo Monte, before the misery of the semi-arid backcountry, to be considered an earthly paradise.

Keywords: Belo Monte. Inlanders. Canudos War. Nation-State.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Robinson Santos Pinheiro, Professor da Universidade Federal de Pelotas

Professor de graduação e de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pelotas. Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO. Coordenador do Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais - LEUR.

Tiaraju Salini Duarte, Professor da Universidade Federal de Pelotas

Professor de graduação e pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pelotas. Doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo. Coordenador do Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais - LEUR.

 

Referências

ANDRADE, Manuel Correa de. A terra e o homem no Nordeste. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1973.

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia Econômica do Nordeste. São Paulo: Atlas S. A, 1970.

BARTELT, Dawid Danilo. Sertão, República e Nação. São Paulo: Edusp, 2009.

BECKER, Bertha; EGLER, Claudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

BERNUCCI, Leopoldo M. A imitação dos sentidos: protógonos, contemporâneos e Epígonos de Euclides da Cunha. São Paulo: Edusp, 1995.

CALASANS, José. No Tempo de Antônio Conselheiro: figuras e fatos da campanha de Canudos. Coletânea. S. D. Disponível em: http://josecalasans.com/downloads/no_tempo_de_antonio_conselheiro[1959].pdf. Acesso em: 06/02/2013.

CASTRO, Iná Elias de. O mito da necessidade: discurso e prática do regionalismo nordestino. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.

CUNHA, Euclides da. Os Sertões: campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Coleção da Edições de Ouro dos Clássicos Brasileiros, 1967.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1968.

FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

MARX, Karl. O 18 de Brumário de Louis Bonaparte. In: A Editoria Avante. (S. D.). Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/escolhidas/. Acesso em: 13/09/2013.

MARTINS, José de Souza. A política do Brasil: lúmpen e místico. São Paulo: Contexto, 2011.

MONIZ, Edmundo. Canudos: a luta pela terra. 9 ed. São Paulo: Global, 2001.

MURARI, Luciana. “Brasil, Ficção Geográfica”: ciência e nacionalidade no país D’Os Sertões. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: Fapemig, 2007.

NAXARA, Márcia Regina Capelari. Estrangeiro em sua própria terra: representações do brasileiro 1870 / 1920. São Paulo: Annablume, 1998.

NOGUEIRA, Ataliba. Antônio Conselheiro e Canudos: revisão histórica. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974.

OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão dualista. O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2008.

OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma re(li)gião: SUDENE, Nordeste. Planejamento e conflito de classes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

SANTOS, Milton. SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.

SODRÉ, Nelson Werneck. História militar no Brasil. 2ed. São Paulo: Expressão popular, 2010.

SOLA, José Antônio. Canudos: uma utopia no sertão. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 1991.

VIDAL e SOUZA, Candice. A pátria geográfica: sertão e litoral no pensamento social brasileiro. Goiânia: UFG, 1997.

ZILLY, Berthold. A guerra do Sertão como “evento de mídia” na Europa de 1987. In: Anos 90. Vº 1. Nº. 7, Porto Alegre, RS, Pp. 59 – 87, julho de 1997.

ZILLY, Berthold. Flávio de Barros, o ilustre cronista anônimo da Guerra de Canudos. In: Estudos Avançados: dossiê Nordeste seco. Vol. 13, nº 36, São Paulo, may./aug. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141999000200006. Acesso em 22/09/2014.

Downloads

Publicado

2020-04-16

Edição

Seção

Artigo: Epistemologia da Geografia