O ARTIFÍCIO ESTÉTICO DA NARRATIVA POLÍTICA: UMA INTERPRETAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE DEMOCRÁTICA À LUZ DO PENSAMENTO MAQUIAVELIANO
DOI:
https://doi.org/10.52052/issn.2176-5960.pro.v11i30.11698Abstract
A discussão em torno da fundamentação da democracia apresenta divergências tanto na questão substancial quanto na forma. Malgrado as diferenças conceituais, na atualidade parece ser uma tese comum a de que, para governar, é indispensável a aquiescência do povo. Desde cedo, percebe-se que as fissuras sociopolíticas não poderiam ser contidas exclusivamente com a força. De mais a mais, tudo sugere que esta esteja do lado dos governados, restando ser imprescindível aos governantes conquistar o coração e o pensamento do povo, a fim de incutir certas crenças que lhes permitissem conservar o domínio do poder exclusivo para si. Desse modo, quando se coloca em evidência a política, percebe-se que ela é protagonizada, de um lado, pelos políticos e, de outro, pelos espectadores, o que a torna parecida com o teatro e permite ao político recorrer à ilusão e à fraude para perseguir seus objetivos particulares, enquanto finge servir ao bem-estar coletivo. Como o teatro, a política esconde as reais motivações que ocorrem nos bastidores do poder. A peça A Mandrágora, de Maquiavel, mostra como a fraude é utilizada para conquistar um fim e, ao mesmo tempo, não ferir os valores dominantes. A pretexto de causar o cômico, o florentino mostra o trágico da política, o que, em si, talvez seja uma lição ao povo para entender como os governantes perseguem seus propósitos. Nesse sentido, este escrito pretende mostrar que A Mandrágora é uma obra que, ao seu modo, introduz o pensamento político de Maquiavel, evidenciando, no caso, que a política usa a fraude como ferramenta.