AS PROMESSAS DA RETÓRICA GORGIANA: PLEONEXIA E MEDO NO GÓRGIAS DE PLATÃO
DOI:
https://doi.org/10.52052/issn.2176-5960.pro.v11i27.8563Abstract
De todas as denúncias contra a retórica de estirpe gorgiana que são feitas por Sócrates no Górgias, de Platão, talvez a mais importante seja a revelação de que ela favorece o crescimento indefinido dos apetites e a pleonexia, ou seja, o desejo de ‘ter mais’, ou, simplesmente, a ganância. A promessa de poder sugerida pela personagem Górgias e defendida por seu aluno Polo no começo do diálogo parece conduzir-nos diretamente ao coração da pleonexia calicleana que coroa a obra. Neste artigo, pretendo explorar o tema da pleonexia no referido texto de Platão a partir de uma relação que, embora pouco comentada, parece-me bastante forte no diálogo. Trata-se da conexão entre pleonexia e medo na retórica gorgiana. Ou, de modo ainda mais específico: trata-se da dependência que a retórica gorgiana possui em relação ao páthos do medo. Segundo procurarei mostrar, os retóricos e amantes da retórica que povoam a obra acabam por levar seus leitores a entrever essa dependência, na medida em que fundamentam suas promessas de poder na promessa de defesa irrestrita contra ameaças de toda espécie. Ou seja, ao longo das três conversas travadas por Sócrates, vemos seus interlocutores apelarem para o medo supostamente existente em seus concidadãos e ouvintes, realçarem perigos e ameaças e afirmarem explicitamente que a retórica é a única arma de defesa verdadeiramente potente em uma cidade democrática. Em suma: a partir da análise de importantes trechos da obra, pretendo mostrar o quanto as personagens valem-se do potente discurso do medo para persuadir seus ouvintes de que a retórica é a técnica mais valiosa e o maior bem possível nas póleis que habitam.