VESTÍGIOS DO MUNDO ANTIGO EM TRÊS ÉPICOS DE ORFEU

ANCIENT WORLD REMAINS IN THREE EPICS OF ORPHEUS

Autores

  • Antônio Donizeti PIRES UNESP - Araraquara/SP

Resumo

RESUMO: Orfeu (o mais importante poeta lendário antigo) é dos mitos mais fascinantes do panteão grego, além de ser considerado fundador do culto de mistérios que leva seu nome (Orfismo). O arcabouço narrativo do mito perfaz-se em quatro mitemas: a) a participação de Orfeu na viagem dos Argonautas; b) seu amor pela ninfa Eurídice, que logo lhe é arrebatada pela morte; c) sua catábase ao Hades, aonde vai para resgatar a esposa dos mortos: ele o consegue, mas ao olhar para trás infringe a proibição dos reis infernais e perde Eurídice definitivamente; d) a própria morte violenta de Orfeu, dilacerado pelas furiosas bacantes da Trácia. Aos quatro mitemas, soma-se o atributo geral do Vate portador da lira, cujo canto aliciante comovia e demovia animais, pedras e árvores, mas também homens e deuses. Orfeu, por isto, seria um herói civilizador mais afeito à pólis (e não autor de façanhas grandiosas como Héracles ou Teseu), pois ensina pelo poder e pela sabedoria do canto (música e poesia unidas, fundamentais na educação grega).
O caráter civilizador de Orfeu transparece nos quatro mitemas (o primeiro é vincadamente épico; os outros três são lírico-dramáticos, conforme a riquíssima tradição artístico-literária que engendraram). Para o momento, pretende-se apresentar criticamente as três epopeias Argonáuticas legadas pelo mundo antigo: a de Apolônio de Rodes (contexto helenístico; séc. III a.C.), a de Valério Flaco (contexto imperial romano, de restauração; séc. I. d. C.) e a considerada anônima (séc. IV d. C.), estudando-as numa perspectiva comparativa que problematize história e religião, mito (Orfeu) e sociedade, literatura e filosofia.

PALAVRAS-CHAVE: Poesia épica. História antiga. Mitologia. Orfismo. Filosofia antiga.

      

ABSTRACT: Orpheus (the most important ancient legendary poet) is one of the most fascinating myths of the Greek pantheon, besides being considered the founder of the cult of mysteries named after him (Orphism). The narrative framework of the myth is made up of four mythemes: a) the participation of Orpheus in the voyage of the Argonauts; b) his love for the nymph Eurydice, who is soon snatched away by death; c) his katabasis to Hades, where he goes to rescue his wife from the dead: he manages to do it, but when he turns to look back at her he violates the prohibition of the infernal kings and loses Eurydice forever; d) Orpheus' own violent death, torn apart by the furious maenads of Thrace. The general attribute of the poet who played the lyre is summed up to the four mythemes; his alluring songs touched and dissuaded animals, rocks and trees, but also men and gods. Orpheus, therefore, would be a civilizing hero more inclined to the pólis (and not the author of grand exploits as Heracles or Theseus), as he teaches through the power and the wisdom of the song (music and poetry united, essential in Greek education).
The civilizing character of Orpheus is evident in the four mythemes (the first is markedly epic; the other three are lyric-dramatic, according to the rich artistic-literary tradition that they engendered). For the moment, we intend to critically present the three Argonautic epopees bequeathed by the ancient world: the one from Apollonius of Rhodes (Hellenistic context; 3rd century B.C.), the one from Valerius Flaccus (Roman Imperial Restoration context; 1st century A.C.) and the one considered anonymous (4th century A.C.), studying them in a comparative perspective that problematizes history and religion, myth (Orpheus) and society, literature and philosophy.

KEYWORDS: Epic Poetry. Ancient history. Mythology. Orphism. Ancient philosophy.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

APOLODORO. Biblioteca. Introducción de Javier Arce. Traducción y notas de Margarita Rodríguez de Sepúlveda. Madrid: Gredos, 2001 (Biblioteca Clásica, 85).

APULEIO. O burro de ouro. Tradução do latim e introdução de Delfim Leão. Lisboa: Cotovia, 2007.

BERNABÉ, A. Orfeo, una ‘biografía’ compleja. In: BERNABÉ, A.; CASADESÚS, F. (Coords.). Orfeo y la tradición órfica: un reencuentro. Madrid: Akal, 2008a. p.15-32.

______. Viajes de Orfeo. In: BERNABÉ, A.; CASADESÚS, F. (Coords.). Orfeo y la tradición órfica: un reencuentro. Madrid: Akal, 2008b. p.59-74.

BRUNEL, P. Orphée et les Argonautes. Revue de littérature comparée, Rennes, n.292, p.483-498, Octobre-Décembre 1999.

BRUNEL, P. (Org.). Dicionário de mitos literários. Prefácio à edição brasileira de Nicolau Sevcenko. Tradução de Carlos Sussekind et al. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2005.

CALDAS, T. E. de A. Os argonautas, de Apolônio de Rodes, e a tradição literária. Codex, Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.85-104, 2009.

CURTIUS, E. R. La nave de los Argonautas. In: ______. Ensayos críticos acerca de literatura europea. Traducción de Eduardo Valentí. Barcelona: Seix Barral, 1959 (Tomo II). p.331-369.

ERATÓSTENES. Mitología del firmamento (Catasterismos). Introducción, traducción y notas de Antonio Guzmán Guerra. Madrid: Alianza, 2012.

FLACO, G. V. Cantos argonáuticos – Argonáutica. Tradução do latim, introdução e notas de Márcio Meirelles Gouvêa Júnior. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH/FLUC), 2010.

FLACUS, V. Argonautiques. Texte établi et traduit par Gauthier Liberman. Paris: Les Belles Lettres, 2003 (Tome I – Chants I-IV).

______. Argonautiques. Texte établi et traduit par Gauthier Liberman. Paris: Les Belles Lettres, 2002 (Tome II – Chants V-VIII).

GARCÍA GUAL, C. Introducción a la mitología griega. 3.ed. Madrid: Alianza, 2013.

GAZZINELLI, G. G. (Org. e trad.). Fragmentos órficos. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

GOUVÊA JÚNIOR, M. M. Introdução. In: FLACO, G. V. Cantos argonáuticos – Argonáutica. Tradução do latim, introdução e notas de Márcio Meirelles Gouvêa Júnior. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH/FLUC), 2010. p.15-27.

MARTÍN HERNÁNDEZ, R. Rasgos mágicos en el mito de Orfeo. In: BERNABÉ, A.; CASADESÚS, F. (Coords.). Orfeo y la tradición órfica: un reencuentro. Madrid: Akal, 2008. p.75-90.

OLMOS, R. Las imágenes de un Orfeo fugitivo y ubicuo. In: BERNABÉ, A.; CASADESÚS, F. (Coords.). Orfeo y la tradición órfica: un reencuentro. Madrid: Akal, 2008. p.137-177.

[ORFEU]. Argonáuticas órficas. Himnos órficos. In: PORFÍRIO. Vida de Pitágoras. Introducciones, traducciones y notas de Miguel Periago Lorente. Madrid: Gredos, 1987a (Biblioteca Clásica, 104). p.63-241.

______. Les Argonautiques orphiques. Texte établi et traduit par Francis Vian. Paris: Les Belles Lettres, 1987b.

RODAS, A. de. Argonáuticas. Introducción, traducción y notas de Mariano Valverde Sánchez. Madrid: Gredos, 1996 (Biblioteca Clásica, 227).

RODES, A. de. A argonáutica. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues. Mira-Sintra: Publicações Europa-América, 1989.

RUIZ SORIANO, F. El mito de Orfeo en las Argonáuticas. Barcelona: MRA, 2004. SÁNCHEZ ORTIZ DE LANDALUCE, M. Argonáuticas órficas. In: BERNABÉ, A.; CASADESÚS, F. (Coords.). Orfeo y la tradición órfica: un reencuentro. Madrid: Akal, 2008. p.349-364.

SILVA, M. de F. Da violência à civilização. Hércules, o Super-Homem da Antiguidade. Humanitas, Coimbra, vol. LXV, p.9-26, 2013.

TORRES GUERRA, J. B. Introducción. In: ______. (Introd., trad. y notas). Mitógrafos griegos: Paléfato. Heráclito. Anónimo Vaticano. Eratóstenes. Cornuto. Madrid: Gredos, 2009 (Biblioteca Clásica, 376). p.189-199.

VALVERDE SÁNCHEZ, M. Orfeo en la leyenda argonáutica. Estudios clásicos, Madrid (Sociedad Española de Estudios Clásicos), t.35, n.104, p.7-16, 1993.

Publicado

2019-03-18

Como Citar

PIRES, Antônio Donizeti. VESTÍGIOS DO MUNDO ANTIGO EM TRÊS ÉPICOS DE ORFEU: ANCIENT WORLD REMAINS IN THREE EPICS OF ORPHEUS. Travessias Interativas, [S. l.], v. 6, n. 11, p. pp. 13–41, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/Travessias/article/view/10992. Acesso em: 8 jul. 2024.