O colonialismo ‘mais-que-humano’ em Os substitutos (2023) de Bernardo Carvalho
representações da Amazônia sob a Ditadura Militar
DOI:
https://doi.org/10.51951/ti.v15i34.p115-129Palavras-chave:
Pós-Humanismo. Ecocrítica. Literatura Brasileira. Ditadura Militar. Amazônia.Resumo
Este artigo analisa criticamente o romanceOs substitutos (2023) do escritor brasileiro Bernardo Carvalho, destacando aspectos da obra que dialogam com as teorias pós-humanistas e a ecocrítica. Pretende-se analisar a utilização do autor do recurso da Intertextualidade para evidenciar a lógica humanista predatória como resultado de um modo específico de subjetivação que perpassa diversos tempos e contextos. Carvalho estabelece um paralelo entre os projetos de colonização da Amazônia durante a ditadura militar (1964-1985) e narrativas de ficção científica que retratam a colonização espacial, nomeadamente os filmes Solaris (1972) de Andrei Tarkovski e 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) de Stanley Kubrick. De tal forma, propõe-se que o romance consolida visões do colonialismo desde uma perspectiva ‘mais-que-humana’, evidenciando as relações entre seres humanos, não-humanos e o meio ambiente. As correspondências traçadas pelo autor com o contexto da corrida espacial revelam-se particularmente relevantes diante do fortalecimento de discursos contemporâneos que propõem a colonização espacial como solução para a crise da vida terrestre no Antropoceno.
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