“O país do futuro / tem um imenso passado pela frente”
a ecoescrevivência na literatura de autoria feminina negra
DOI:
https://doi.org/10.47250/forident.v38n1.p129-145Palavras-chave:
Racismo, Memória cultural, Necropolítica, Ecologia, EcocríticaResumo
A memória de um passado colonial e escravocrata no Brasil emerge em cada bala “perdida” que “encontra” um corpo negro como alvo. Essa necropolítica de cor e de classe social, sustentada por séculos e fantasiada por uma “democracia racial”, revela não somente a morte de determinado grupo como fato e ponto de discussão isolados. Ela desenha uma trilha de corpos que se confundem com a história da construção desse país: autoritário, racista e violento. As produções de mulheres negras, aqui representadas por Conceição Evaristo, Lubi Prates e Eliana Alves Cruz reconstroem o que foi apagado pelo sistema colonial: narrativas individuais e coletivas das nações ocupadas, em prol de uma imposição branca e imperial de civilização que condena o que se considera “Outro” ao aniquilamento. É nesse sentido que as escritoras, ao desmontarem o discurso dominante, restituindo o que Lélia Gonzalez definiu como “uma história que não foi escrita, o lugar de emergência da verdade” (Gonzalez, 2020, p. 65), descolonizam a memória e a história, ecologizando suas escrevivências.
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