A construção de uma personagem travesti em Eliana Alves Cruz
DOI:
https://doi.org/10.47250/forident.v38n1.p87-98Palavras-chave:
Romance histórico, Brasil colônia, TravestilidadesResumo
O romance histórico (ESTEVES, 2008) pode ser entendido como um gênero híbrido, cujos limites entre a realidade e a ficção se ofuscam, através de ações que se desenvolvem no passado e contam a história oficial de um povo ou de uma nação. Em Nada digo de ti que em ti não veja (2020), a escritora carioca Eliana Alves Cruz reconstrói parte de um passado escravagista durante o Ciclo do Ouro de Minas Gerais a partir das histórias de duas famílias importantes: Gama e Muniz. Neste artigo, temos como objetivo analisar a construção da personagem Vitória, uma travesti negra que se envolve afetiva e financeiramente com entes das famílias citadas. Advogamos que a escrita de Eliana Alves Cruz não apenas tensiona os limites entre a realidade e a ficção na construção do romance histórico, mas implica observar as relações entre gênero e sexualidade como um dispositivo que atravessa toda a elaboração da narrativa. Portanto, apontamos que Eliana Alves Cruz inova ao trazer para o romance histórico a presença marcante de uma travesti que, inclusive, é uma das protagonistas da obra.
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Referências
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