LITERATURA E PRÁTICAS DE LEITURA NOS DOMÍNIOS DA ORALIDADE
Resumo
A questão referente à leitura e à circulação da literatura se revela ainda mais complexa quando consideramos, além da produção literária canônica e do leitor padrão, formado no contexto da instrução formal, o público leitor leigo e eclético que se constituiu com a popularização do impresso. Quanto a isso, há que se assinalar, por exemplo, o período entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, quando uma relativa popularização dos modernos meios de impressão tipográfica tornou possível, em pontos estratégicos do Brasil, a circulação de uma produção cultural impressa diversificada, destinada ao vulgo. Não por acaso no Nordeste, nesse período, tal fenômeno tornou possível a formação da literatura de cordel como um sistema literário relativamente autônomo, constituído por uma linguagem própria e por autores, editores, um público leitor e um modo de divulgação próprios. Considerando-se esse dado, neste trabalho, procura-se destacar a importância do cordel à popularização da cultura impressa entre indivíduos com pouca ou nenhuma prática de leitura, muitos dos quais tiveram, no cordel, o portal de entrada no universo da cultura letrada. Procede-se assim ao questionamento da noção restritiva e, consequentemente, simplificadora do letramento como um fenômeno univocamente associado à prática da instrução formal.