Da língua misógina do estupro ao corpo-resistência na literatura brasileira
DOI:
https://doi.org/10.47250/intrell.v42i1.p91-107Palavras-chave:
Estupro. Corpo regenerado. Violência sexual. Crítica literária feminista.Resumo
Neste estudo, defendemos o imaginário do assédio/estupro como próprio de uma língua misógina, composta por códigos que relativizam a violência sexual contra a mulher. Na literatura brasileira, observamos uma resistência a esse monolinguismo machista em obras que propõem o “corpo regenerado” em oposição ao “corpo estuprado”. Como corpus, analisaremos as estratégias estéticas de resistência do conto “Mulher cobra” (2018), de Sheila Smanioto, e dos romances Eu me possuo (2016), de Stela Florence, e Vista chinesa (2021), de Tatiana Salem Levy. Metodologicamente, exploramos o conceito de “corpo-território”, conforme Verónica Gago (2020), e a proposta de “carta-testemunho”, de Eurídice Figueiredo (2021), para obras que explicitam as diferentes etapas do estupro por meio do corpo abandonado, enlutado e/ou regenerado. Como resultado, identificamos uma literatura contra o silenciamento do estupro através de uma proposta estético-ideológica: o corpo-resistência.
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