CONTRIBUIÇÕES FEMINISTAS PARA A HISTÓRIA DA FILOSOFIA: O CASO DE TERESA D’ÁVILA E RENÉ DESCARTES
Alana Boa Morte Café
Resumo
A comunicação trata de abordagens feministas que, conforme identifica Charlotte Witt, buscam iluminar filósofas negligenciadas ou excluídas da história tradicional da filosofia e, como caso particular desse tipo de abordagem, discute a influência que Teresa D’Ávila exerceria sobre René Descartes, segundo propõem os estudos de Christia Mercer. Na hipótese aqui levantada, as revisões feministas da história da filosofia, ao resgatar interlocutoras e influências negligenciadas, elaboram também chaves de leitura originais para autores canônicos e produzem uma série de repercussões gerais sobre as maneiras de compreender as narrativas da história da filosofia. Assim, a tarefa de integrar mulheres à história da filosofia tanto contribui para discutir formas textuais, argumentos e conceitos originais, anteriormente desconsiderados devido ao gênero de suas autoras, quanto oferece maneiras inovadoras de ler os homens consagrados na filosofia tradicional, porque enriquecem a compreensão dos cenários filosóficos no geral. Nesse sentido, o estudo de Christia Mercer, por um lado, introduz a meditação como gênero textual em que, no início da modernidade, destacam-se as produções de mulheres, apresentando especificamente Teresa D’Ávila como expoente original e influente para o período. Por outro lado, Mercer confere um tratamento original à primeira Meditação e ao argumento do gênio maligno de Descartes quando os enquadra no contexto mais geral do gênero meditação no início da era moderna e os alinha ao percurso argumentativo de D’Ávila em sua obra O castelo interior. Com o caso particular de D’Ávila, Descartes e do início da filosofia moderna, pode-se concluir que as revisões feministas na história da filosofia contribuem para a elaboração de outras maneiras de narrar a filosofia, sem se confundirem simplesmente com a produção de vias alternativas, na medida em que elas incidem sobre as interpretações de figuras canônicas e, em última instância, modificam mesmo o estatuto de uma narrativa tradicional.