NASTÁCIA FILÍPPOVNA OU DO HEROÍSMO DA MULHER

Mariana Lins Costa

PPGF - UFS


Resumo

Para Dostoiévski, segundo suas próprias palavras, o belo é um ideal. Esta declaração deve ser entendida conceitualmente. Como de praxe entre os intelectuais russos da sua época, a estética hegeliana é referência central e, em especial, o seu conceito de ideal que designa a manifestação sensível do absoluto, quando o concreto e singular é capaz de expressar o abstrato e universal – o que, para Hegel, é o mesmo que dizer o belo da arte. Com uma tal declaração, Dostoiévski não está, como poderia parecer à primeira vista, tão somente exprimindo uma concepção que não é sua. Pois não apenas busca realizar a arte ideal através das suas obras e em alguns heróis especificamente – o herói é o ideal quando no plano do mundano e humano, segundo Hegel –, como nesta apropriação e transfiguração artística, acrescenta o que chama de beleza negativa e positiva ou ainda de ideal de Madona e de Sodoma. Dentre todos os seus personagens, a nosso ver, três se destacam nesta condição de ideal na medida em que são reconhecidos pelos demais personagens como a própria encarnação do belo, sendo Nastácia Filíppovna, personagem de O idiota, a única mulher e, portanto, a única heroína dostoievskiana propriamente dita. Nesta comunicação, investigaremos, de maneira um tanto ensaística, o significado da beleza encarnado em Nastácia Filíppovna – uma beleza definida no romance como um enigma que não foi compreendido – e por que a sua condição de heroína ao invés de herói parece implicar que muito mais do que agente do sacrifício seja ela mesma o objeto sacrificial par excellence de modo que o seu grande feito é o encaminhar-se para o autoaniquilamento do qual, como nas tragédias do destino, não poderia mesmo escapar.

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