A INTERSEÇÃO ENTRE O FEMINISMO DE BUTLER E O CONCEITO DE DEVIR-MULHER
Núbia Neves Bernardes
DPS - UFS
Resumo
O que se pretende apresentar é o encontro entre um conceito central da filosofia da diferença de Guatarri e Deleuze, a saber, o Devir, e a genealogia feminista da categoria das mulheres feita por Butler. Para tanto, articularei especificamente o capítulo 10 do volume 4 de Mil Platôs e o capítulo 1 do livro Problemas de gênero – Feminismo e subversão da identidade. Em ambos os capítulos, pode-se observar um profícuo encontro de ideias que desdobram a crítica à política da identidade como possível estratégia do movimento feminista. Deleuze e Guatarri a fazem de modo mais sutil, apontando a posição privilegiada da mulher em relação ao devir-mulher, agenciamento primeiro de uma cadeia de segmentos que levam em direção a um devir-imperceptível. Este, por sua vez, é condição para fazer um mundo, recobrindo o que aí está ou, antes, fazer mundos em devir, dimensões em intermináveis processos de mutação. A mulher enquanto identidade não é por eles negada, o que se pretende é apontar os perigos de exercer-se sobre tal sujeito, esvaziando o fluxo capaz de contaminar todo um campo social, perdendo a oportunidade de criar linhas de fuga que escapam dos modelos duais de pensamento. Por seu turno, Butler trata da armadilha representada pela fundamentação da política feminista sobre os conceitos estáveis e naturalizados de gênero e identidade, pois que tais termos foram engendrados pelas estruturas político-jurídicas dominantes. Para a filósofa, não se trata de eliminá-los do vocabulário feminista, mas de atentar para suas potências como obstáculo para a política representacional. Butler afirma: “Talvez, paradoxalmente, a ideia de ‘representação’ só venha realmente a fazer sentido para o feminismo quando o sujeito ‘mulheres’ não for presumido em parte alguma”.