OS ATEUS DE JOHN LOCKE: ESTADO DE NATUREZA E O QUADRO MORAL DAS GENTES
Saulo H. S. Silva
PPGF-UFS
Resumo
: O pensamento social de Locke é desenvolvido tendo em conta relatos que compõem
um conhecimento acerca de povos distantes. Ao longo do Ensaio sobre o entendimento humano,
Locke traz diversas menções de relatos de viagens a diversas terras ao longo do globo terrestre,
ao Brasil, em Sião, à China, à África, ao Oriente Médio, aos povos do norte. Essa estratégia no
Ensaio tem a função de fundamentar um quadro bem diversificado das crenças e dos costumes
dos povos ao longo do globo. A partir do quadro moral das gentes, questionamos o seguinte, a
filosofia de Locke permite sustentar que a moralidade e a sociabilidade dependem do
conhecimento de Deus? Isto porque, no interior dessas discussões, o problema da existência de
sociedades ateias e de ateus estava presente tanto nos relatos de viagens, quanto nas obras do
próprio filósofo inglês. Veremos que mesmo nas sociedades europeias modernas, esse tipo
natural que é o ateu continua a existir, algo que denota que Locke pensava que o ateu é
efetivamente uma condição natural da humanidade. E esse é o grande problema da Carta sobre
a tolerância se sustentar enquanto negação da tolerância ao ateu. Com a sociabilidade política
e o aprofundar dos costumes, as crenças em divindades podem ser desenvolvidas, inclusive a
ideia de Deus. Entretanto, isso não corresponde necessariamente a um avanço civilizacional,
nem também é consenso universal, às vezes pode ser somente uma regra moral mais adequada
à determinada vida social.