ACERCA DA PARÁBOLA KAFKIANA: UM DEBATE ENTRE BENJAMIN E BRECHT

Caio Graco Queiroz Maia

PPGF-UFS


Resumo

Nosso objetivo é apresentar o debate entre Walter Benjamin e Bertolt Brecht sobre o
tema da parábola na obra de Kafka. Tal debate ocorreu durante a hospedagem de Benjamin na
residência de Brecht, em exílio da Dinamarca, quando da ocasião do fim da redação de “Franz
Kafka” por Benjamin, e foi registrado por este em formato de diário em textos posteriormente
conhecidos como “Anotações de Svendborg”. Há, ali, perspectivas opostas sobre as parábolas
de Kafka, na medida em que Benjamin, por um lado, vê positivamente seu caráter muitas vezes
indecifrável, sem significação clara (puro sentido, dotado de inesgotabilidade, como interpreta
LGatti), enquanto que, por outro lado, Brecht desconfia deste mesmo aspecto, afirmando-as
apenas profundidade vazia, sinônimo de imperfeição e, sobretudo, apropriáveis (pela falta de
referência clara) pelo fascismo. Pelo lado de Benjamin, tal questão toca diretamente sua teoria
sobre a extinção da narração, sobre a relação tradicional desta com textos doutrinários e de
conselhos, e com a tradição judaica. Isso porque a parábola de Kafka é lida com ele como um
tipo de texto que é dotado da forma da doutrina, sem, no entanto, possuir qualquer doutrina por
trás, estando, portanto, distante da tradição, mas carregando traços ou ruínas desta. Pelo lado
de Brecht, seus desenvolvimentos teóricos e práticos sobre a função didática da literatura e do
teatro pesam em sua leitura contra a indecifrabilidade da parábola. Intentamos, nesse sentido,
pontuar os principais argumentos dos autores e expor algumas interpretações de comentadores
sobre a discussão.

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