A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OS DESAFIOS ÉTICOS DA DOCÊNCIA EM FILOSOFIA

Aline de Jesus Santos


Resumo

Com o uso generalizado da Inteligência Artificial (IA) por parte dos estudantes nas escolas brasileiras – mesmo à revelia do acompanhamento dos professores – faz-se imperativo abordar as complexidades éticas que permeiam as convergências e desafios relacionados ao uso das novas tecnologias na educação. Os professores de filosofia da educação básica não devem ignorar o fato objetivo de que os estudantes já utilizam a IA para o cumprimento de suas tarefas escolares e continuarão a fazê-lo cada vez mais. Por este motivo, é oportuno que comecemos a pensar de que forma a IA poderá ser utilizada no ensino de filosofia dentro de parâmetros éticos e para benefício de uma autêntica aprendizagem filosófica. A introdução da IA no ensino de filosofia tem o potencial de proporcionar avanços notáveis, desde a personalização do aprendizado até a facilitação da pesquisa filosófica. No entanto, o fulcro ético suscitado pela utilização da IA para ensinar filosofia reside, particularmente, na necessidade de equilibrar a eficácia das novas tecnologias com a preservação de certa essência filosófica, intrinsecamente ancorada na transparência, na subjetividade, na criatividade e na interação interpessoal. A ética da informação e a transparência na utilização da IA são premissas inegociáveis na educação. Os estudantes devem compreender como a IA influencia seu aprendizado, quais dados são utilizados e como as decisões são tomadas. Além da transparência, deve-se considerar a subjetividade como um dos cernes da experiência filosófica e existencial, inseparável de um aprendizado filosófico genuíno. Como assegurar que a IA, ao oferecer, por exemplo, informações personalizadas baseadas no uso algorítmico, não comprometa a riqueza e a diversidade das interpretações individuais? A personalização deve ser cuidadosamente matizada para não se tornar uma restrição, mas sim uma ferramenta que amplie as perspectivas dos estudantes. A promoção da criatividade filosófica é outra dimensão ética crítica. A IA, com sua capacidade analítica, pode oferecer desafios de pensamento, mas deve ser cuidadosamente implementada para não restringir a originalidade do pensamento filosófico humano. O desenvolvimento ético da IA deve ser pautado na premissa de que sua função é catalisar, não substituir, a criatividade e a inventividade dos estudantes. Outro aspecto que merece atenção é o relacionamento humano pois a interação interpessoal, fundamental no exercício filosófico e isso pode ser afetada pela presença da IA. A diversidade intersubjetiva do diálogo filosófico, que transcende o mero compartilhamento de informações, reclama por uma consciência ética (seja esta de índole principialista ou pragmática) sobre o papel da IA nesse contexto. O objetivo desta comunicação é refletir sobre como os educadores podem orientar a implementação da IA de modo a preservar e aprimorar, não suprimir, a natureza dialógica da aprendizagem filosófica, garantindo-se a transparência, a interação afetiva, a criatividade e o incontornável caráter autoral do pensamento filosófico.

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