A METAFÍSICA DO TEMPO EM TOMÁS DE AQUINO E CHRISTINE DE PIZAN
Resumo
Esta comunicação tem por objetivo apresentar algumas considerações acerca da noção metafísica de tempo presente nos pensamentos de Tomás de Aquino e de Christine de Pizan, destacando as nuances específicas acerca do termo em ambas as filosofias, o que será feito a partir das obras Suma de Teologia (ST) e O Livro da Visão de Christine (LC), respectivamente de Tomás e Christine. O tempo é entendido, metafisicamente, pelos dois pensadores a partir de noções importantes, como as ideias de movimento, de eternidade, de divindade e, por fim, de potência e ato. Assim, Tomás entende o tempo como “o número das partes do movimento, por anterioridade e posteridade” (ST, I, q. 10, a. 1, resp.) e, indo mais além no âmbito metafísico, afirma que “nada é propriamente tempo senão o instante presente” (ST, I, q. 46, a. 3, arg. 3), justificando que sempre há instante presente dando contínuo início ao tempo e lhe conferindo a natureza. Ademais, para explicar a origem ontológica do tempo, Tomás parte para a vertente argumentativa da criação (creatio) relacionada à divindade eterna, pois o autor defende que o tempo é criatura divina ao argumentar que o agente universal (a divindade) produz as coisas e o tempo (ST, I, q. 46, a. 1, arg. 6), e ao afirmar que “quatro coisas foram criadas simultaneamente: o céu empíreo, a matéria corporal (designada pela palavra terra), o tempo e a natureza angélica” (ST, I, q. 46, a. 3, resp.). Por outro lado, apesar de Christine não ser tão explícita acerca de sua compreensão da natureza metafísica do tempo, embora fosse uma assídua leitora de Tomás, é possível apreender um pouco do seu pensamento sobre o tempo a partir da compreensão de termos recolhidos do vocabulário tomista, como as ideias centrais de potência, de atualidade e de perfeição. Dessa maneira, a autora reflete sobre o tempo a partir de noções ontológicas relacionadas à divindade: ao discorrer sobre o primeiro princípio, Christine afirma que “[...] se há a procura sobre o primeiro simplesmente, não há dúvida de que o primeiro é perfeito, precedendo ao imperfeito, e que o feito (ato) é anterior à potência. Pois nenhuma coisa é reduzida da imperfeição à perfeição ou da potência ao feito (ato) senão por algum ente (ens) perfeito, isto é, por alguma coisa sendo de modo efetivo perfeita”. (LC, II, 12). E defende também que a divindade é o ente (ens) mais perfeito e mais primário porque é puro ato no sentido de ente absolutamente completo, logo, além do tempo, atemporal. As demais coisas do cosmo, por sua vez, se caracterizam justamente pela precedência temporal da potência com relação ao ato, quer dizer, nelas a potência precede ao ato temporalmente, e, nesse caso, a imperfeição é anterior à perfeição, pois dependem de uma coisa (ens) em ato, aliás, em última instância, dependem do ato de criação divina, analogamente ao que é afirmado por Tomás.
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