AFASIAS - DE LÉVINAS A SEXTO EMPÍRICO
Resumo
A presente pesquisa tem como objetivo demarcar e comparar as diferentes noções de Afasia, desde Sexto Empírico, na antiguidade clássica, até Emmanuel Lévinas, na contemporaneidade, a fim de compor uma arqueologia da Afasia viva e original, que possibilite a discussão das relações possíveis entre tais transformações da Afasia e problemáticas contemporâneas caras a diversas áreas do conhecimento. Tipicamente compreendida pelo meio científico corrente enquanto disfunção neurológica que afeta e causa prejuízo à capacidade de comunicação verbal, a Afasia é aqui analisada em um contexto mais amplo, com um enfoque interdisciplinar, que envolve não somente a Medicina, mas sobretudo a Filosofia, Linguística, História e Psicologia, e abrange diferentes concepções e temporalidades, enfim postas em uma linha conceitual. Por um lado, em Sexto Empírico, hipotiposes pirrônicas traduzidas por G. Bury para LOEB em 1933, de título Outlines of Pyrrhonism, a Afasia (ἀφασία) é apresentada no grego original de Sexto como um afastamento da afirmação geral. Sua utilização prática responderia ao reconhecimento de aporia ou indiscernibilidade, em uma postura filosófica de não-asserção, que enriquece o debate da problemática a respeito do conhecimento possível e da enunciação. Por outro lado, no pensamento de Emmanuel Lévinas, em De l'Existence à l'Existant, edição de 1993 da Librairie philosophique J. Vrin, o conceito de Afasia (aphasie) é ressignificado, e agora manifesta uma profunda inquietação quanto ao empobrecimento das possibilidades de diálogo, compreensão e respeito pelo outro, em uma sociedade marcada pela fragmentação e pelo isolamento. Seu uso se torna uma metáfora para a dificuldade de relação ao outro, à alteridade, e ganha maior espessura nos âmbitos ético, político e existencial. Ao investigar as complexidades e evidenciar as modificações do entendimento da Afasia, utilizando Lévinas e Sexto Empírico como marcos conceituais e temporais estratégicos, propõe-se que a Afasia, enquanto fenômeno de interface, pode servir de chave interpretativa para discutir uma crise da linguagem e do conhecimento no mundo atual.
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