FILOSOFIA, FEMININO E NEGRITUDE EM MACHADO DE ASSIS
Resumo
Esta comunicação visa apresentar um estudo sobre algumas reflexões filosóficas e literárias de Machado de Assis a respeito das noções de feminino e negritude. Para tanto, partiremos da hipótese interpretativa segundo a qual Machado possui ideias maduras sobre a natureza da filosofia e a natureza da literatura. O autor, com efeito, entende que filosofia e literatura são ações racionais, raciocínios, que compõem a estrutura humana. A primeira, a filosofia, pode ser caracterizada isoladamente como raciocínio sem estética, sem contemplação. A segunda, por sua vez, a literatura, é o raciocínio atrelado com imagens mentais. As duas ações racionais, além disso, são abordadas por Machado mediante personagens mulheres e personagens negros escravos. Nesse contexto, ademais, é preciso recordar que na segunda metade do século XIX, Machado, por vezes usando o pseudônimo Max, escrevia contos e crônicas que eram destinados ao crescente público feminino, como por exemplo “o Anjo das Donzelas” publicado no Jornal das Famílias: “A mulher leitora desse tempo está caracterizada no próprio conto, na figura de Cecília, que consome romances. Cecília e outras personagens encenam uma atitude cotidiana das mulheres brancas que receberam educação suficiente para [...] ler obras em que o amor é central na vida das mulheres [...] e por meio das quais também se educam para a vida social” (BARROS, p. 11, 2021). Machado, portanto, também escrevia de acordo com os interesses reais de seu público, quer dizer, além de homens brancos letrados, também havia senhoras brancas em posição social privilegiada. Suas produções traziam inúmeras problemáticas sociais da época, como a condição feminina e a escravidão, mas com um pano de fundo político e social tão elucidativo ao ponto de abrir margens para reflexões sobre o que não se fala. Nesse sentido, por conseguinte, a abordagem sobre a pessoa negra e a escravidão nas obras machadianas em sua maioria está no campo do “não dito”. Na vida cotidiana das personagens pode-se observar menções a escravos e mucamas sem nome, sem descrição, apenas serventes invisíveis, tamanha era a naturalidade e indiferença das famílias a esse cenário.
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