A POLARIZAÇÃO DA POLÍTICA BRASILEIRA E A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO DISCURSO RELIGIOSO PELA DIREITA SOB A ÓTICA DA HERMENÊUTICA DE JOHN D. CAPUTO

Autores

  • José Antonio S. de Oliveira

Resumo

A polarização crescente na política brasileira se revela especialmente no uso estratégico da religião pela direita, um fenômeno que reflete a busca por reforçar valores conservadores e ampliar a adesão popular mediante um apelo simbólico e moral. A filosofia hermenêutica de John D. Caputo, que propõe uma religiosidade voltada ao “evento” – um encontro com a alteridade que desafia limites dogmáticos – oferece uma lente crítica para se compreender esse fenômeno. A apropriação do discurso religioso pode ser interpretada, segundo Caputo, como um desvio da essência plural e inclusiva da experiência religiosa, distorcida em prol de um discurso autoritário e excludente que reforça divisões e limitações. Caputo desenvolve sua filosofia hermenêutica em torno do conceito de “religião sem religião”, no qual a experiência de Deus e da fé não está nas estruturas de poder, mas na abertura radical a uma justiça que se dá no acolhimento do "outro". A partir dessa abordagem, a instrumentalização do discurso religioso pela direita brasileira é lida como uma tentativa de contenção e controle, que ressignifica a prática da fé e esvazia seu caráter ético e emancipador. O discurso político-religioso, ao se fixar em valores rígidos, converte-se em um ato de “idolatria” do poder, contrastando com a incerteza e a hospitalidade ao “impossível” que Caputo considera centrais à religiosidade autêntica. Esse desvio revela-se também nas fronteiras que a religião institucionalizada traça para delimitar um campo de ação político-ideológico em que o “outro” é rechaçado e a moral é apropriada como instrumento de dominação. O conceito de Caputo propõe uma desconstrução dessa abordagem, sugerindo que a verdadeira fé não admite as absolutizações ou verdades dogmáticas, mas emerge como um ato de resistência ética que se abre a novas possibilidades e à responsabilidade infinita para com o próximo. Nesse sentido, a polarização atual no Brasil reflete uma ruptura entre a religiosidade autêntica e uma expressão de fé contaminada pelo poder, convertendo o discurso religioso em um veículo de divisão que restringe o encontro com o sagrado ao fechamento identitário. Sob essa ótica, Caputo encoraja uma “teologia fraca” – uma religiosidade que abraça o incerto e o indeterminado – e que pode servir de inspiração para uma política menos polarizada, onde o papel da religião estaria em suscitar questionamentos éticos e não em legitimar poderes. A análise caputiana assim destaca a necessidade de reavaliação do papel da religião na sociedade e questiona o uso do discurso religioso como mecanismo de controle, propondo uma abertura que convide à solidariedade e ao respeito em vez de dominação.

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Publicado

2025-01-29