KANT E A FISIOLOGIA DAS DOENÇAS MENTAIS

Autores

  • Edmilson Meneses DFL/PPGF/UFS.

Resumo

No Ensaio sobre as doenças mentais, Kant, a partir de uma tentativa de explicação dos mecanismos de desenvolvimento do fenómeno patológico, sustenta que a origem dos distúrbios da faculdade de conhecimento está no corpo, mais exatamente no mau funcionamento de determinados órgãos. Suas causas, portanto, não são lógicas e as incorreções judicativas quando se apresentam são efeitos da irregularidade orgânica. O trabalho pretende expor alguns elementos desta sustentação, de forma a realçar o seu fundamento empírico, o qual, de certo modo, associa o filósofo a uma medicina organicista e funcional. Kant tende a um parecer empirista porque encara o desenvolvimento da afecção como condicionado a uma inversão das representações perceptivas; sua escolha é organicista porque percebe a estrutura corporal, o aparelho digestivo em particular, como matriz das diversas indisposições do ânimo. Ao assumir tal posição, o autor do Ensaio espelha as formulações da medicina do seu tempo, como prova a sua leitura do semanário científico Der Arzt, publicado entre 1760 e 1764 na Alemanha. O editor do periódico, o médico Johann August Unzer, dedicava-se ao estudo do papel do sistema de nervos na produção das representações sensíveis. Unzer defendia o nexo entre as dificuldades digestivas e as doenças da cabeça. A melhora da digestão pode trazer inúmeros benefícios, inclusive para certos tipos peculiares de mazelas, quer dizer, as doenças do humor como a melancolia ou a loucura. Com efeito, traça-se uma conexão fisiológica especial entre o abdômen e a mente passando pelo diafragma e o estômago, incluindo os intestinos. Como múltiplos filamentos nervosos ali se unem, forma-se um centro de força animal e quaisquer lesões violentas naquela região causam alterações expressivas por todo o corpo, bem como as consequências advindas de tais impactos perturbam muitas funções anímicas. Ao chancelar as teses de Unzer, Kant se mostra favorável à primazia da medicina em detrimento do plano que opta pela prevalência das forças espirituais na compreensão e na terapêutica das doenças mentais. Se as paixões são apenas causas acessórias e não essenciais, se tudo se passa no corpo, em especial no baixo-ventre, o filósofo não pode fazer muita coisa diante dos quadros de perturbação mental, já que toda esperança de cura está na purga. Por consequência, o protagonismo é do médico e não do filósofo, e este deverá contentar-se com a função de consolador, de exortador. O filósofo é forçado a reconhecer os limites de sua reivindicação histórica de curar a mente por meio do discurso e de manter a integridade do sujeito graças ao controle de si.

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Publicado

2025-01-29