Fetichismo da desinformação na web: uma pandemia agravada
DOI:
https://doi.org/10.21669/tomo.vi38.14452Palavras-chave:
Desinformação, Covid-19, Semicultura, Teoria crítica da informação e comunicação, prática informacionaisResumo
Discute os conceitos de desinformação e práticas informacionais, aproximando-os da noção de semiformação cultural (semicultura), tendo como referência a Teoria Crítica da Informação e Comunicação. Defende que processos de comunicação ocorrem segundo práticas sociais de produção intencional de desinformação, segundo um circuito de produtividade que demanda do receptor/usuário, a responsabilidade pela checagem das informações. Atenta para funções que se multiplicam e podem ser identificadas em relação a diferentes atores sociais, dentre os quais o Estado. Metodologicamente, trata-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa, através de uma triangulação metodológica, que consistiu em observação espontânea, seguida de análise de conteúdo e interpretação hermenêutica de um corpus de 86 fake news do site do Ministério da Saúde do Brasil. Os resultados permitiram a identificação de seis categorias emergidas da pré-análise. Na fase posterior, foram analisadas cinco notícias, considerando-se a identificação de aspectos operacionais e situacionais do governo em relação à disponibilização do conteúdo no site, relacionados às perspectivas ideológicas e religiosas que, supostamente, entram em contradição com o propósito de esclarecimento dos cidadãos sobre a pandemia. Concernente às cinco fake news analisadas, é prudente afirmar que o governo brasileiro se valeu do site do Ministério da Saúde para desinformar e violar o direito à informação.
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