Conservadores X Progressistas: o Debate entre Intelectuais sobre as Políticas de Ação Afirmativa para Estudantes Negros no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.21669/tomo.v0i0.3187Resumo
A implementação de políticas de ação afirmativa para estudantes negros nas universidades públicas brasileiras gerou um intenso debate em diversos campos sociais. As discussões sobreas políticas de ação afirmativa mobilizaram não somente atores organizados da sociedade civil brasileira como também a intelligentsia nacional. Em paralelo ao debate instalado na mídia a partir de 2002, iniciou-se também uma disputa acadêmica em torno do tema. Entender o porquê dessa disputa tão acirrada entre os intelectuais brasileiros sobre a necessidade ou não de aplicação dessas políticas constitui o objetivo principal da pesquisa. Para isso, serão analisadas as principais proposições apresentadas por cientistas sociais, mais especificadamente representantes da antropologia e dasociologia. Há pelo menos duas posições bem de marcadas nas ciências sociais a respeito do tema: os intelectuais contrários às políticas de ação afirmativa e aqueles que se posicionam favoravelmente. Seus argumentos serão analisados a partir de uma tipologia criada por Albert Hirschman (1992). Os autores que desenvolvem argumentos em oposição às ações afirmativas são partidários de uma retórica denominada de conservadora, enquanto os que defendem tais políticas são classificados como partidários de uma retórica progressista. Hirschman delimita três teses da retórica conservadora que foram elaboradas por intelectuais, muitos deles cientistas sociais, em diferentes épocas, em relação a políticas avaliadas como progressistas e/ou reformistas: a tese da perversidade, a tese da futilidade e a tese de ameaça.Para cada tese da retórica conservadora, o autor elabora contra-partidas progressistas originando dessa maneira pares que se contrapõem e se complementam. É possível concluir que as duas retóricas em embate refletem posturas diferenciadas dos intelectuais em relação à ciência e à política. Além disso, os partidários das duas retóricas partilham de concepções diversas a respeito deconceitos importantes utilizados nas ciências sociais brasileiras, especialmente o de raça e o de mestiçagem. Tanto a vinculação dos intelectuais com a ciência e com a política, quanto as matrizes teóricas que usam para explicar a nação incidem sobre seus posicionamentos relativos à implantação de ações afirmativas para estudantes negros no Brasil.Downloads
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