PORTUGUÊS COMO LÍNGUA DE ACOLHIMENTO PELAS VOZES DE MIGRANTES DE CRISE
DOI:
https://doi.org/10.51951/ti.v12i25.p107-123Resumo
O objetivo deste artigo é propor reflexões sobre o conceito e as práticas didáticas de Português como Língua de Acolhimento (PLAc), subárea do Português como Língua Adicional (PLA) dedicada ao ensino-aprendizagem de português para migrantes de crise (CLOCHARD, 2007). Estudos recentes realizados por autoras brasileiras/autores brasileiros questionam a noção original de PLAc veiculada em Portugal por Ançã (2008), Grosso (2010), entre outras. Teóricas/teóricos do Brasil apontam o caráter neocolonizador (DINIZ, 2015) e assimilacionista (ANUNCIAÇÃO, 2017; 2018) da acepção portuguesa de PLAc, que alça o idioma português à condição fundamental para o êxito da comunidade migrante no território de acolhida, silenciando sua bagagem linguística, cultural e epistêmica em nome de uma pretensa integração social. Face a tais questões, conversei com 6 migrantes, de diferentes nacionalidades e trajetórias migratórias, a fim de compreender suas percepções sobre o ensino da língua portuguesa, no Brasil, em contexto migratório. Neste diálogo, percebo que, para o indivíduo migrante, tão importante quanto conhecer o idioma local - que lhe facilita o trânsito social - é a mobilização de suas línguas, culturas e conhecimentos na sala de aula de PLAc e para além dela, em verdadeiras ações de linguajamento (MATURANA, 1990; VERONELLI, 2019; MIGNOLO, 2020).
PALAVRAS-CHAVE: Português como Língua de Acolhimento; Português como Língua Adicional; migração de crise.
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