REINSCRIÇÕES DA MEMÓRIA, DA VIOLÊNCIA E DA EXPERIÊNCIA EM INSUBMISSAS LÁGRIMAS DE MULHERES, DE CONCEIÇÃO EVARISTO
REINSCRIPTIONS OF MEMORY, VIOLENCE AND EXPERIENCE IN INSUBMISSAS LÁGRIMAS DE MULHERES, A BOOK BY CONCEIÇÃO EVARISTO
DOI:
https://doi.org/10.51951/ti.v9i19Abstract
RESUMO: Este artigo analisa as intersecções entre narrativa e memória social nos contos que compõem a obra Insubmissas lágrimas de mulheres, de Conceição Evaristo, nomeadamente, Maria do Rosário, Mary Benedita, Lia Gabriel e Regina Anastácia. Argumenta-se que, a despeito da atrofia da experiência na narrativa a partir da modernidade, as vozes das mulheres evaristianas resgatam a dimensão experiencial dos afetos e vivências, porquanto imprimem, na materialidade da representação, os diferentes registros de memórias que, em última instância, marcam-se pelo caráter social das estruturas que as subjetivam. Com base em determinadas categorias da memória social, da teoria pós-colonial e da filosofia de Walter Benjamin, busca-se explicitar as estruturas sociais e as dimensões da violência que se marcam nos interstícios do realismo da autora, relativamente às formas de reinscrição da subjetividade social e de resistência da mulher negra. Tal processo se mostra, pois, na reconfiguração dos desejos e demandas do sujeito frente às fragmentações e opressões coletivas. Assim, para além de uma afromemória que se reconstrói, ref lete-se em como a obra em estudo propõe um retorno ao intercâmbio com a experiência da dor e da condição de classe, a partir do realismo afetivo constitutivo da escrivivência evaristiana.
PALAVRAS-CHAVE: Conceição Evaristo. Estética. Memória Social. Narrativa. Realismo afetivo.
ABSTRACT: This article analyzes the intersections between social memory and narrative in the short stories from Insubmissas lágrimas de mulheres, by the Brazilian fictionist Conceição Evaristo, specifically Maria do Rosário, Mary Benedita, Lia Gabriel and Regina Anastácia. Therefore, we discuss the atrophy of narrative experience, and how Evaristo’s women recover the affections and experiences dimension in the narrative from Modernity. These protagonists show different records of memories, and the social structures subjectify them in the materiality of representation. From the social memory categories, Walter Benjamin’s philosophy, and postcolonial studies we explain the social structures and dimensions of violence that correspond of the author’s realism. This realism refers to the forms of re-inscription of social subjectivity and resistance of black women. This process shows itself, therefore, in the reconfiguration of desires and demands of a subject in the face of a collective fragmentation and oppression. Moreover, in addition to an afro memory that is reconstructed, it is ref lected how Evaristo’s work proposes a return to an interchange with the experience of pain and class condition, from the constitutive affective realism of the “escrivivência” of Conceição Evaristo.
KEYWORDS: Affective realism. Conceição Evaristo. Esthetics. Narrative. Social memory.
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