APRESENTAÇÃO
DOI :
https://doi.org/10.51951/ti.v8i16Résumé
MULTIMODALIDADE E O ENSINO DE LÍNGUAS
APRESENTAÇÃO
A multimodalidade como meio de construção de sentidos tem se tornado proeminente nessa era digital e globalizada, em que o modo verbal já não é mais visto como independente e todo-poderoso, mas cada vez mais interligado com outros modos de construção de sentidos, como o visual, o auditivo, o espacial e o gestual. Esse é um aspecto que tem influenciado fortemente o ensino de línguas no mundo contemporâneo, depois de um período em que o trabalho com textos que mesclavam diferentes modos, como músicas e charges, tendia a colocar ênfase no verbal, tratando o não verbal como mero suporte. A multimodalidade quebra essa hierarquia e permite uma abordagem mais integral de ensino. Afinal, textos multimodais não devem ser vistos como um fim em si mesmos, mas situados em contextos diversos, que podem mudar significativamente a maneira como esses textos são usados e interpretados. A coletânea a seguir traz uma boa amostra dessas novas possibilidades, a partir de trabalhos voltados para a sala de aula com base em textos multimodais encontrados em uma gama diversa de suportes e gêneros, tais como blog, livro didático e música, entre outros.
Iniciamos com dois textos dedicados à formação de professores de línguas. Em “Narrativas multimodais e formação de professores”, Andréa Machado de Almeida Mattos e Emmanuelle Pereira Costa propõem o uso de narrativas multimodais para conhecer as experiências vividas por professores de inglês em formação, partindo do pressuposto de que a multimodalidade está em toda parte e invade nossas vidas e experiências das formas mais diversas possíveis. O trabalho busca discutir as experiências de um grupo de professores em formação pré-serviço baseando-se nos relatos de suas narrativas multimodais e escritas durante o curso. A análise da narrativa multimodal permitiu perceber como as identidades narrativas desses professores vão se construindo ao longo das experiências vividas na universidade. Em “Multimodalidade, ensino de línguas e formação de professores: uma experiência em educação para os meios”, Rodrigo Esteves de Lima-Lopes busca refletir sobre uma experiência de formação de professores na modalidade EaD. O curso, Mídias Digitais e Ensino de Línguas, teve como foco uma reflexão que ampliasse a ideia do uso de tecnologia em sala de aula, conjugando teorias da multimodalidade e da educação para os meios. O estudo analisa as observações dos alunos em relação à unidade foco, e os seus resultados servirão como insumo para a reformulação do curso, assim como “para a construção de uma experiência de integração entre a linguagem e a tecnologia de forma orgânica, ajudando a construir um cabedal de ações que nos propiciem refletir efetivamente sobre nossa prática”.
Na sequência, alguns textos relacionados ao ensino de línguas estrangeiras. “Leitura e escrita multimodal na aula de espanhol/língua estrangeira”, de Maria Fernanda Lacerda de Oliveira e Rosilene dos Anjos Sant’ana, apresenta os resultados da análise da leitura e escrita de gêneros multimodais em língua espanhola e sua contribuição para o desenvolvimento de multiletramentos no Ensino Médio. Os resultados partem de uma análise documental e os dados analisados apontam que o trabalho multimodal contribuiu para o desenvolvimento da leitura e escrita dos participantes como sujeitos das práticas sociais com as quais interagem discursivamente, fazendo assim com que não se preocupassem apenas com os elementos verbais, mas também com seus elementos não verbais, sociais e discursivos. Ao mesmo tempo, permitiu-lhes aguçar seus olhares e sua criatividade para criar sentidos entre diferentes semioses. O texto seguinte é “Relato de um projeto de multiletramentos na licenciatura de língua inglesa: da prática situada à prática transformada”, de Fábio Alexandre Silva Bezerra. Com base na pedagogia dos multiletramentos, o artigo é um relato de um projeto de multiletramentos no contexto da licenciatura em língua inglesa, em que os alunos produziram textos multimodais para serem utilizados em microaulas que tiveram que lecionar no final do semestre letivo. Os resultados apresentados mostram um aumento na percepção do professor e dos alunos quanto à relação entre os conteúdos programáticos e a realidade concreta dos alunos, além de maior engajamento e confiança por parte deles.
Em “As contribuições da abordagem da multimodalidade no ensino de língua inglesa mediado pelo livro didático”, Záira Bomfante dos Santos e Andressa Biancardi Puttin discutem as contribuições da abordagem da multimodalidade no ensino de língua inglesa na educação pública brasileira e a contribuição mediadora do livro didático. Nesse processo, são trazidas algumas considerações sobre a inserção do livro didático no contexto nacional bem como as possibilidades que o seu uso pode trazer para o desenvolvimento da linguagem como prática social por meio do engajamento em diferentes gêneros textuais e estilos de comunicação. As autoras concluem que “os livros didáticos de língua inglesa reforçam conceitos acerca de texto, leitura, escrita e imagem e estabelecem relações sociais distintas com o seu público, projetando uma visão específica quanto ao estilo de aluno esperado”.
Os textos a seguir estão voltados para o ensino da língua portuguesa. Em “A multimodalidade em blogs educacionais para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa”, Geovan Pedro Silva de Macedo e Naziozênio Antonio Lacerda analisam cinco blogs educacionais que publicam conteúdos sobre língua portuguesa. Os autores ressaltam que a multimodalidade dos blogs analisados é resultado do hibridismo das matrizes sonora, visual e verbal da linguagem, com predominância da matriz verbal, sobretudo das modalidades descritiva e dissertativa. Dessa forma, os elementos multimodais enriquecem os textos dos blogs educacionais, acentuam o seu caráter didático e contribuem para o processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa. Já “A canção como constelação de gêneros no ensino de português como língua adicional”, de José Peixoto Coelho de Souza, revisita a noção de canção como constelação de gêneros para apresentar uma análise mais aprofundada da música como linguagem a partir de um viés discursivo. Dessa forma, o fenômeno dos gêneros musicais é discutido a partir de uma aproximação com o conceito de gêneros discursivos e sua importância para a construção de sentidos de uma canção. O autor aponta ainda que o gênero musical é um fator determinante no que se refere tanto aos elementos constitutivos da música e da letra quanto às funções e práticas sociais a ele associadas e à rede de interlocuções por ele projetada.
Os artigos finais desta coletânea fazem uma abordagem menos direta, mas não menos importante, do uso da multimodalidade no ensino de línguas. Aline Wieczikovski Rocha e Catiúcia Carniel Gomes, em “Letramento multimodal: por uma concepção de construção de sentidos”, dedicam-se “aos processos de leitura mobilizados pelos gêneros multimodais, a fim de compreender essa nova prática de letramento, suas modificações e exigências de novos comportamentos dos leitores na construção da significação de um texto”. Trabalhando com os conceitos de gênero, letramento, multimodalidade e multimídia, as autoras se propõem a construir uma perspectiva metodológica de análise do Museu Virtual Frida Kahlo. Como resultado, apontam que o museu surge como um espaço que exige dos estudantes uma posição (inter)ativa e responsiva, o que modifica tanto a postura quanto a mediação do ensino de leitura. Assim, “as dimensões arquitetônicas da plataforma, recorrendo a diferentes gêneros, promovem uma leitura não linear que leva o leitor a fazer escolhas e a interagir com o texto no âmbito pluridimensional”. Em “Multimodalidade em notícias de popularização da ciência: estratégias de recontextualização visual”, Graciela Rabuske Hendges e Pâmela Mariel Marques investigam como a notícia de popularização da ciência recontextualiza o discurso visual do contexto científico para o contexto midiático em quatro publicações internacionais: BBC News International, Scientific American, ABC Science e Nature. As autoras classificam as estratégias de recontextualização visual em quatro tipos: popularização da fonte, modalização naturalista, simplificação lexicogramatical e generalização temática. Essas estratégias, concluem elas, refletem objetivos e valores do discurso midiático de popularização da ciência quando direcionado a um leitor iletrado visual-cientificamente que precisa ser seduzido.
Por fim, temos “Os limites do (conceito de) texto: destaque para o não verbal”, de Valdinar Custódio Filho e Débora Liberato Arruda. Com o objetivo de aproximar a multimodalidade da Linguística Textual, os autores buscam ir além de focalizar "quase que exclusivamente" a caracterização dos gêneros textuais ou dos gêneros no ambiente digital. Dessa forma, analisam o papel da imagem no texto levando em consideração que se deve assumir toda a complexidade do objeto texto e propor análises que deem conta dessa multiplicidade. E chegam à conclusão de que a discussão sobre a pertinência de outras linguagens na configuração dos sentidos é uma tese já antiga e o que se pode considerar novo é o fato de a Linguística Textual só mais recentemente ter começado a se preocupar com essa questão. Como resultado, surge a necessidade de decidir até que ponto o caminho aberto pela consideração do não verbal pode ir. Os autores concluem, então, que a percepção das “características internas” dos elementos utilizados para estabelecer a mediação não é suficiente, tornando necessário reconhecer o papel da interação, que engloba tudo aquilo que constitui o contexto de produção na configuração dos sentidos.
Esperamos que os artigos presentes nesta edição promovam bons debates e reflexões e tragam contribuições relevantes para a área de Letras e quaisquer outras que se dedicam às linguagens, nos seus mais diferentes modos.
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