TRADIÇÃO E IDENTIDADE: REFLEXÕES SOBRE CLASSE E GÊNERO NA LITERATURA POPULAR
Resumo
Este estudo, num diálogo entre linguagem e cultura, adentra o terreno fecundo e oblíquo das cantigas tradicionais, em especial da peça Rica-Pobre, buscando extrair, da tessitura textual, as insígnias e os vestígios constituintes dos dizeres que manifestam e, por vezes, mascaram os ditos, as intenções, as ideologias, ou seja, o aparato axiológico suscetível de evidenciar o teor das relações de poder por meio das quais os sujeitos entram em conflito, identificam-se e se constroem. Compreender a dinâmica de tais vínculos, num corpus como as compilações populares, implica a decifração dos mecanismos de dominação característicos das comunidades subalternizadas. Para demarcar as linhas, os caminhos desse trajeto, recorremos ao arcabouço teórico-metodológico da Semiótica das Culturas, especificamente os trabalhos desenvolvidos por PAIS e RASTIER. São pesquisas que se voltam para a percepção analítica dos fenômenos culturais, numa perspectiva que situa o fazer do homem dentro das esferas identitárias da sociedade à qual pertence.