CRIAÇÃO POÉTICA E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO GADAMERIANO DE TEXTO EMINENTE
Cecília Mendonça de Souza Leão Santos
DFL-UFS
Resumo
Resumo: Desde que Aristóteles afirmou ser a poesia mais filosófica que a história, tornou-se claro que o conteúdo verdadeiro nas obras de arte poéticas não poderia remeter à conformidade de um discurso a um estado de coisas externamente verificável. A universalidade da criação poética reivindica uma autonomia e validade própria que não se deixa determinar por nenhuma espécie de referência à “realidade” extrínseca à obra. Meu trabalho mostrará como a hermenêutica filosófica desenvolvida por Hans-Georg Gadamer investiga o que seja “verdade” no caso específico da criação poética através do conceito de “texto eminente”. Embora seja evidente que os blocos da construção poética possuem referência no mundo e, nesse sentido, podem ser verdadeiros ou falsos, disto não se pode depreender nenhuma verdade ou falsidade a respeito da construção como um todo. A criação poética capaz de, conforme Hesíodo, dizer “muitas coisas verdadeiras e falsas” sem distingui-las, não está atrelada a qualquer referente específico correspondente e só encontra o fundamento de sua autonomia em suas qualidades enquanto obra de arte literária, isto é, em sua beleza. Esta posição revela o problema hermenêutico abrigado na tensão entre o trabalho do artista e a atividade do intérprete diante da obra, haja vista que, ao contrário de textos científicos ou de uso prático, a criação poética não se limita à transmissão de conteúdo. O conceito de texto eminente tem a finalidade de lidar com o desafio hermenêutico imposto pela conexão indissolúvel entre poetizar e interpretar que – por
dizer respeito à natureza do próprio poetizar tanto para o criador quanto para o leitor – possui implicações mais filosóficas que técnicas.
Palavras-chave: Hermenêutica Filosófica; Literatura; Interpretação; Gadamer.