RAZÃO E SENTIMENTO NAS FILOSOFIAS MORAIS DAS LUZES BRITÂNICAS

Marcos Fonseca Ribeiro Balieiro


Resumo

Ainda que, em nossos tempos, Hobbes seja conhecido principalmente por conta de suas ideias sobre os fundamentos do Estado, seu próprio tempo se escandalizou com o que o autor tinha a dizer sobre a natureza Humana. A consideração de que o homem seria naturalmente avesso à sociabilidade e essencialmente egoísta, de forma que é o amor próprio que motiva todas as suas ações voluntárias, foi motivo de controvérsias bastante intensas. Isso fica evidente não apenas quando se observa que “hobbista” passou a ser um termo pejorativo, mas também pelo fato de boa parte do debate sobre os fundamentos da moral na filosofia britânica dos séculos XVII e XVIII ter se configurado como uma resposta à teoria de Hobbes. Neste minicurso, trataremos, justamente, de mapear, em três encontros de duas horas, as diferentes posições assumidas nesse debate. Mostraremos, na primeira aula, as maneiras como Ralph Cudworth e Samuel Clarke procuram defender, contra o pensamento hobbesiano, que a realidade das distinções morais estaria garantida por ela ter sido inscrita na própria natureza, diretamente por Deus. No segundo encontro, dedicar-se-á algum tempo à discussão da teoria moral de Anthony Ashley Cooper, Terceiro Conde de Shaftesbury. Como se sabe, ele teria desenvolvido uma concepção segundo a qual bem e mal morais seriam apreendidos por meio de certos sentimentos particulares, determinados por um moral sense. Este permitiria avaliar de maneira efetivamente moral as mais diversas ações, sempre com vistas aos benefícios que o agente causaria para um sistema que envolve toda a humanidade. Por outro lado, haveria, ainda, em Shaftesbury, espaço para conceber um desenvolvimento social da moralidade. A terceira aula será dividida em dois momentos. O primeiro será dedicado a explicar de que maneira Bernard Mandeville retoma aspectos fundamentais da filosofia hobbesiana, com vistas a defender que o ser humano é motivado, basicamente, pela vaidade, e que características normalmente percebidas como vícios trazem inúmeros benefícios à sociedade. Essas teses, que renderam ao filósofo a alcunha de Man Devil, foram pesadamente criticadas por diversos autores. Um deles, Francis Hutcheson, será tema da segunda parte dessa aula, com destaque para a maneira como ele pretende estabelecer, em oposição a Hobbes e a Mandeville, uma versão bastante estrita de uma moralidade pautada por um moral sense. Ao fim, de maneira bastante breve, teceremos algumas considerações sobre as maneiras como David Hume e Adam Smith poderiam ser enquadrados no debate de que as aulas tratarão. 

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