A METAFÍSICA HIPOCONDRÍACA DE K.P. MORITZ

Oliver Tolle

FFLCH/USP


Résumé

Resumo: Algumas filosofias se aproximam tanto do ordinário, que somos constrangidos de imediato a desconfiar da sua validade. Afinal de contas, a elevada especulação deveria nos proteger dos equívocos e das ilusões do senso comum, promover uma atitude de suspeita em relação aos costumes e principalmente nos precaver do conhecimento que nasce da parcialidade. A observação de si e seu subproduto mais condenável, a convicção nascida da experiência pessoal e unilateral, são vistos como os maiores oponentes do desenvolvimento da ciência. O fato é que esse juízo despreza as conjunturas que definem a existência do homem e a dinâmica de sua formação da infância até a idade adulta, onde a aquisição de conhecimentos que nascem da investigação impessoal nem sempre se mostram úteis para a solidão que o indivíduo enfrenta em virtude da exigência que a natureza impõe a ele de recriá-la constantemente em seu interior. Ora, poucas filosofias se aproximaram da nossa condição ordinária, limitada e finita com tanto otimismo e com tamanha promessa de realização como a de Karl Philipp Moritz (1756-1793). Se é possível avaliar uma doutrina pela distância entre o que promete e o que efetivamente permite alcançar, a do nosso autor merece a nossa atenção. Assim, no final do século XVIII, a obra de Moritz se revela mais propriamente como um esforço de investigação das forças cognitivas envolvidas no trato da vida cotidiana, consideração de que nem mesmo o mais sábio dos homens pode escapar, como já tinha advertido Baumgarten. Moritz não se furtou ao fato de que a conduta do ser humano é regida principalmente por dois elementos que a princípio se mostram como antagônicos: o costume e a atividade consciente. A natureza compulsória da tradição e a comunidade dos comportamentos sempre se colocou como um grave impedimento à crença na absoluta autonomia do indivíduo auto-orientado. É inegável que mesmos os maiores esforços de correção da conduta individual tendem a se dissolver na imposição do coletivo. Prova disso é que, à distância, as práticas dos seres humanos de determinada época se mostram sempre com uma homogeneidade maior do que o ideal de autonomia permitiria esperar. Ao mesmo tempo, não há como reduzir a importância do esforço de superação do costume e de práticas viciosas.
Palavras-chave: Psicologia empírica; Estética; Metafísica; Filosofia alemã; Iluminismo

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