MICHEL FOUCAULT E A EMERGÊNCIA DA ECONOMIA DO CRIME
Aline Passos
Résumé
Em suas últimas aulas, reunidas sob o título Nascimento da Biopolítica, Michel Foucault se dedicou à compreensão de uma mutação epistemológica operada pelo pensamento neoliberal em direção a saberes e práticas considerados, até então, não-econômicos. Dentre os novos campos de incursão da racionalidade neoliberal, destacou-se um saber voltado ao crime, ao criminoso e à criminalidade em quanto processos econômicos que demandam uma intervenção ambiental e não mais disciplinar, a exemplo do que o próprio autor se dedicou a estudar em Vigiar e Punir. O que Foucault sinalizou no início dos anos 1980, foi a emergência de um saber que hoje é conhecido como economia do crime e cujo cerne não é reformar o indivíduo, mas fazê-lo responder a favor da governamentalidade a partir de intervenções sobre o meio ambiente que equacionam os processos de criminalização enquanto procedimentos de gestão. Transformado em homo oeconomicus, o criminoso deixa de ser um indivíduo que o poder pretende tornar útil e dócil, e passa a ser entendido como um agente de mercado que deve reagir sistematicamente a determinados estímulos externos na condição de quem calcula riscos e faz uma escolha racional. Não mais obediente ou disciplinado, mas manejável, o homo oeconomicus é aquele que se governa ao deixar fazer (laissez faire), e a economia do crime, a ciência da sistematicidade das respostas que se pretende obter a partir desta ação “livre”.