O SAMBA A CONTRAPELO EM OS “ANJOS DA GUARDA”, UMA CANÇÃO AFIRMATIVA E A CRÍTICA DA HISTÓRIA POR HANNAH ARENDT

Uílder do Espírito Santo Celestino

UFS

https://orcid.org/0000-0002-4116-308X


Résumé

O presente artigo está dividido em dois momentos. No primeiro deles, considerando que o samba prescinde de quaisquer chancelas históricas, buscou-se, de maneira livre e com escrita aberta, apresentar a canção “anjos da guarda” (1995) popularizada na voz de Leci Brandão como uma expressão possível de um conceito de história, “escovada a contrapelo” e integrada à “tradição dos oprimidos” conforme a formulação de Walter Benjamin (2013). No segundo momento, apresenta a crítica sobre as teorias modernas a respeito da história e da produção acadêmica das ciências sociais oferecidas o texto da cientista política Hannah Arendt (2011; 2016a; 2016b) quando considerou que tais áreas prenderam-se demasiadamente na captação de padrões e funções, uma espécie de continuidade do positivismo nas ciências sociais e na história. Neste segundo momento, buscou-se tratar a sério as discussões sobre o conceito de história buscando um distanciamento destas ciências modernas e aproximando-se de uma condição moderna ao produzir uma consciência, segundo a qual nós podemos agir sobre quaisquer hipóteses para fazê-las “funcionar” tanto no aspecto da lógica como até no âmbito da realidade. Diante desta “consciência” os argumentos de Hannah Arendt não apontaram para o “fim da história”, mas para “tudo ser possível” tanto na teoria quanto na memória e na história (LE GOFF, 1990). É lógico que tal afirmação não poderia ser tomada em extenso por ela própria, dizer que “tudo é possível” se torna mais provável no campo das ideias, e em parte da realização das ideias, tanto que, posteriormente, acerca das dificuldades decorrentes da tentativa de captação da própria realidade, Hannah Arendt oscilou para outro extremo: “A realidade é diferente da totalidade dos fatos e ocorrências e mais que esta totalidade, a qual, de qualquer modo, é inaveriguável” (ARENDT, 2016, p. 323). Essa realidade como contingência finalmente compreendida não é conclusão acerca do fim da história ou ausência da memória, também não é a ausência de método, conforme cogitado por Hobsbawn (2015), mas, logicamente, a possibilidade de uma averiguação da história conduzida ao menos com desconfiança, uma máxima válida inclusive para tudo o que foi pensado e escrito por Hannah Arendt. Não se trata de desconfiar do “conceito de história”, que os cientistas “modernos” acusam de “pré-conceitos”, mas em logicamente desconfiar mesmo da produção destes cientistas. Uma conclusão de Hannah Arendt para este tema consistiu em dizer que, apesar da certeza de que a escrita ou a história (story) trabalhar nos sentidos diversos das contingências, está-se diante de histórias (stories) que podem e devem ser reescritas enquanto o processo vivido das ações humanas no tempo não se esvai.

 

Téléchargements

Les données relatives au téléchargement ne sont pas encore disponibles.

Biographie de l'auteur

Uílder do Espírito Santo Celestino, UFS

Doutorando em Filosofia, Mestre em Sociologia, especialista e licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).