“Se eu sei quem eu sou, sei que sou preta, ninguém nunca me toma a terra, porque a terra é negra”: gênero pretuguês, branquitude e educação do campo

Autores

  • Ana Cristina Nascimento Givigi Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Amargosa, Bahia, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.20952/revtee.v17i36.22359

Palavras-chave:

Educação do campo, Camponesas Negras, Colonialidade de gênero

Resumo

Este texto relaciona as percepções de mulheres negras, discentes do Programa de Pós-Graduação em Educação do Campo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, sobre si, sobre o gênero e a raça e diz se e como, ao construir linguagens em pretuguês, acionam afirmativamente seu lugar na terra e na educação do campo. Para tanto, a pesquisa toma a (auto)biografia em gênero epistolar para além de sua capacidade metodológica, uma vez que, para as negras, esta foi e é uma estratégia política potente de desnudar lugares de poder e revelar privilégios epistêmicos. Neste sentido, o texto discute a branquitude como um processo de configuração do aparato político a-marcado da identidade racial branca que, ao colocar-se para fora das relações raciais, utiliza-se de privilégios experimentados socialmente, especialmente nas instituições de saber, para excluir, inferiorizar e referenciar a ciência a partir de seus pressupostos. Permite assim problematizar a formação desta pesquisadora branca e seu lugar na produção de uma educação antirracista. As mulheres dizem sobre a (im)possibilidade de situar-se na educação do campo sem que se autolocalizem a partir do gênero e da raça, estruturas da divisão do trabalho e de terras no Brasil, mas também da materialidade de suas existências. Deste modo, a racialização do gênero – o gênero pretuguês – construído em espaços pedagógicos que possibilitam as vivências múltiplas, torna-se para elas fundamental para a assunção à terra. Conclui-se que a educação do campo deve buscar nas (auto)biografias e nas palavras das mais velhas questões para pensar um projeto pedagógico racializado.

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Biografia do Autor

Ana Cristina Nascimento Givigi, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Amargosa, Bahia, Brasil.

Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós Graduação em Educação do Campo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Pesquisadora do Núcleo Capitu - Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade e Diversidade/Cnpq.

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Publicado

2024-12-31

Como Citar

Givigi, A. C. N. (2024). “Se eu sei quem eu sou, sei que sou preta, ninguém nunca me toma a terra, porque a terra é negra”: gênero pretuguês, branquitude e educação do campo. Revista Tempos E Espaços Em Educação, 17(36), e22359. https://doi.org/10.20952/revtee.v17i36.22359

Edição

Seção

Publicação Contínua