“Se eu sei quem eu sou, sei que sou preta, ninguém nunca me toma a terra, porque a terra é negra”: gênero pretuguês, branquitude e educação do campo
DOI:
https://doi.org/10.20952/revtee.v17i36.22359Palavras-chave:
Educação do campo, Camponesas Negras, Colonialidade de gêneroResumo
Este texto relaciona as percepções de mulheres negras, discentes do Programa de Pós-Graduação em Educação do Campo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, sobre si, sobre o gênero e a raça e diz se e como, ao construir linguagens em pretuguês, acionam afirmativamente seu lugar na terra e na educação do campo. Para tanto, a pesquisa toma a (auto)biografia em gênero epistolar para além de sua capacidade metodológica, uma vez que, para as negras, esta foi e é uma estratégia política potente de desnudar lugares de poder e revelar privilégios epistêmicos. Neste sentido, o texto discute a branquitude como um processo de configuração do aparato político a-marcado da identidade racial branca que, ao colocar-se para fora das relações raciais, utiliza-se de privilégios experimentados socialmente, especialmente nas instituições de saber, para excluir, inferiorizar e referenciar a ciência a partir de seus pressupostos. Permite assim problematizar a formação desta pesquisadora branca e seu lugar na produção de uma educação antirracista. As mulheres dizem sobre a (im)possibilidade de situar-se na educação do campo sem que se autolocalizem a partir do gênero e da raça, estruturas da divisão do trabalho e de terras no Brasil, mas também da materialidade de suas existências. Deste modo, a racialização do gênero – o gênero pretuguês – construído em espaços pedagógicos que possibilitam as vivências múltiplas, torna-se para elas fundamental para a assunção à terra. Conclui-se que a educação do campo deve buscar nas (auto)biografias e nas palavras das mais velhas questões para pensar um projeto pedagógico racializado.
Downloads
Referências
Bento, C. (2022). O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras.
Bhabha, H. K. (2001). O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG.
Cardoso, L. (2017). A branquitude acrítica revisitada e as críticas. In: Müller, T. M. P., & Cardoso, L. (orgs.). Branquitude. Estudos sobre a identidade racial branca no Brasil. Curitiba: Appris.
Carneiro, S. (2011). Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro.
Carneiro, S. (2019). Escritos de uma vida. São Paulo: Pólen Livros.
Castro-Gómez, S. (2005). La Hybris del Punto Cero: ciencia, raza e Ilustración en la Nueva Granada (1750-1816). Bogotá: Editorial Pontificia Universidad Javeriana.
Diangelo, R. (2020). Fragilidade branca – Porque é tão difícil para os brancos falar sobre racismo. Edita X.
Dussel, E. (2008). Anti-meditaciones cartesianas: sobre el origen del anti-discurso filosófico de la modernidad. Tabula Rasa, 9, 153-197. DOI: https://doi.org/10.25058/20112742.344
Evaristo, C. (2005). Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: Moreira, N. M. de B., & Schneider, L. Mulheres no mundo – etnia, marginalidade, diáspora. João Pessoa: Ideia, p. 201-212.
Evaristo, C. (2017). Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas.
Fanon, F. (2008). Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Edufba.
Gomes, F. dos S. (2015). Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. São Paulo: Claro Enigma.
Gonzalez, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Rios, F., & Lima, M. (orgs.). Nanny: pilar da amefricanidade. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar.
Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, 31(1), p. 25-49. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003
Haraway, D. (2009). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5, 7-41.
Hooks, B. (2020). E eu não sou uma mulher? Mulheres Negras e feminismo. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.
Kilomba, G. (2019). Memórias da plantação. Episódios do racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó.
Laborne, A. A. P. (2017). Branquitude, colonialismo e poder: a produção do conhecimento acadêmico no contexto brasileiro. In: Müller, T. M. P., & Cardoso, L. (orgs.). Branquitude. Estudos sobre a identidade racial branca no Brasil. Curitiba: Appris.
Laborne, A. A. P. (2022). Branquitude, colonialidade e poder: reflexões sobre a produção do conhecimento acadêmico. Anais do XII Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as (XII COPENE), Pernambuco.
Lima, A. A. (2017). Mulheres sagradas. Cachoeira: Atelier Editorial I.
Lugones, M. (2008). Colonialidad y género. Tabula Rasa, 9, p. 73-101. DOI: https://doi.org/10.25058/20112742.340
Lugones, M. (2014). Rumo a um feminismo descolonial. Rev. Estud. Fem., 22(3), p. 935-952. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000300013
Martins, L. (2003). Performances da oralitura: corpo, lugar da memória. Letras, 0(26), 63-81.
Martins, L. (2021). Afrografias da memória: o reinado do Rosário do Jatobá. Belo Horizonte: Mazza Edições.
Mattos, H. (2013). Das cores do silêncio. Significados da liberdade no sudeste escravista. Campinas: Editora da Unicamp.
Mignolo, W. (2008). Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF, Dossiê: Literatura, língua e identidade, 34, p. 287-324.
Morrison, T. (2020). A fonte da auto-estima. São Paulo: Companhia as Letras.
Mukasonga, S. (2017). A mulher de pés descalços. São Paulo: Editora Nós.
Müller, T. M. P., & Cardoso, L. (orgs.). Branquitude. Estudos sobre a identidade racial branca no Brasil. Curitiba: Appris.
Quijano, A. (2009). Colonialidade do poder e classificação social. In: Santos, B. de S., & Meneses, M. P. (orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, p. 74-117.
Segato, R. (2012). Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-cadernos CES, 18, 106-131. DOI: https://doi.org/10.4000/eces.1533
Segato, R. (2015). La crítica de la colonialidad en ocho ensayos y una antropología por demanda. Buenos Aires: Prometeo.
Slenes, R. W. (2011). Na senzala, uma flor. Esperanças e recordações na formação da família escrava. Campinas: Editora da Unicamp.
Vogt, C., & Fry, P. (1996). Cafundó – a África no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.
Walker, A. (2021). Em busca dos jardins de nossas mães: prosas mulheristas. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo.
Wissenbach, M. C. C. (2012). Teodora Dias da Cunha: construindo um lugar para si no mundo da escrita e da escravidão. In: Xavier, G., Farias, J. B., & Gomes, F. (orgs.). Mulheres Negras no Brasil Escravista e do Pós-Emancipação. São Paulo: Selo Negro, p. 228-243.
Wissenbach, M. C. C. (2019). Letramento e escolas. Dicionário da escravidão e da liberdade. São Paulo: Companhia da Letras.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista Tempos e Espaços em Educação

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
À Revista Tempos e Espaços em Educação ficam reservados os direitos autorais pertinentes a todos os artigos nela publicados. A Revista Tempos e Espaços em Educação utiliza a licença https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (CC BY), que permite o compartilhamento do artigo com o reconhecimento da autoria.